Capítulo 12

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Estava no chão sentado sobre minhas pernas guando Felipe entra no quatro e fecha a porta. Eu não conseguia olhar pra ele, e muito menos falar nada. Me sentia confuso e assustado com tudo, principalmente com o que ele iria fazer ou falar.

Ouço o barulho de sua cama, acredito que ele havia sentado. Sentia como se seus olhos não saíssem de onde eu estava.

- Estou esperando você falar, Arthur. - disse ele em um tom de voz sério.

Tentei formular alguma resposta, mas era em vão. Não conseguia formular uma frase sequer e meus olhos já transbordavam o suficiente para me fazer tropeçar em minhas próprias palavras caso decidisse falar algo.

Continuávamos ambos na mesma situação. Ele esperando que eu falasse algo e eu tentando montar alguma explicação. Eu não sei se mentir novamente é a melhor saída, porque talvez nenhuma mentira seja o suficiente para fazer com que ele acredite. E também não sei se a verdade vai ser bem recebida por ele.

Se eu falar tudo que sou, inclusive sobre a magia, ele pode ficar com muita raiva por ter mentido todo esse tempo e me expulsar daqui. Assim como ele pode achar que sou louco e me querer longe também. As duas opções não eram as melhores, mas não tinha outra escolha a não ser falar algo.

- Desculpa. - falei quase sussurrando. Não sei se era um bom início, mas eu não consegui formular alguma outra coisa para começar me explicando.

Ele permanecia em silêncio esperando que eu continuasse o que havia começado.

- O que você viu? - pergunto antes de falar qualquer outra coisa.

- Eu não sei, o que você acha que eu vi? - eu sabia que ele não iria responder diretamente. Não era o seu perfil.

Olhei para seu rosto por uma fração de segundos e me arrependi amargamente. Sua feição era fria e ríspida. Seu olhar estava penetrante em minha direção, como se ele fosse um lobo prestes a atacar sua presa. Engoli a seco.

- Eu menti. - comecei a falar mesmo com dificuldades. - Eu sei quem eu sou, de onde vim... - era difícil falar diante da situação. - Não era e ainda não é minha intenção machucar vocês. Mas eu precisei, eu estava em perigo. Pode ser egoísmo meu mas eu estava desesperado.

As lágrimas voltaram a descer de meus olhos. Não estava em condições de continuar falando naquele momento, precisava de ar pra respirar.

- Eu vou embora, não se preocupe. Ainda essa noite se preferir. E vou te falar tudo, mas por favor, me dê só mais um tempo. - disse me levantando, mesmo com dificuldades, e saindo do quarto.

Passei pela sala e não havia mais ninguém, todos já estavam dormindo aquela altura da noite. Abri a porta e me vi parado fora da casa. Comecei a caminhar lentamente, sentindo o vento frio tocar meu corpo, mas eu não sentia frio.

Me coloquei a pensar em tudo que havia acabado de acontecer, no rosto de Felipe ao me olhar incrédulo. Na passagem em minha memória quando eu apaguei por alguns segundos. Tentava encaixar cada cena para que pudesse entender tudo com propriedade.

Não sei como aquilo havia acontecido, nem o porque tinha acontecido. Eu estava me sentindo bem e nunca mais havia tido nenhum tipo de sinal de que a magia estava viva. Tudo tão tranquilo, eu estava começando a acreditar em um futuro com paz.

    ☯       

Era tarde da noite e eu estava no lago tentando processar tudo que havia acontecido, enquanto meus olhos transbordavam em lágrimas. Eu tentava parar de chorar e me acalmar, mas não conseguia, todas as tentativas eram em vão.

Não demora muito e ouço alguém se aproximando. Era Felipe, parado um pouco distante e fica me olhando ainda em pé.

- Não se preocupe, eu não vou fazer nenhum mal a vocês. - disse fitando a resta da lua sobre a água.

Ele permaneceu calado, ouvi apenas o barulho de uma respiração profunda, como se estivesse tentando manter a calma. De todo coração eu espero que ele consiga, porque eu não estou conseguindo.

Ainda sem falar ele se aproxima e senta ao meu lado, pegando um pequeno galho que havia no chão.

- Estou confuso e um pouco assustado... Não vou tirar nenhuma conclusão precipitada, mas preciso que seja totalmente sincero comigo. - falou me olhando no fundo dos olhos.

Por mais que essa conversa me assustasse, eu não poderia evitá-la para sempre. Ele merecia saber tudo, independente de como fosse reagir, eu devia isso a ele.

- Tudo bem. Mas quero que prometa que vai ouvir tudo, até o final. - falei olhando-o, mas ele não me olhava, estava riscando a terra com o graveto.

- Certo. - disse ele.

Respirei fundo e enxuguei as lágrimas.

- Minha família tem algum tipo de dom... ou maldição, não sei como posso chamar isso. - tentava começar a explicar. - Minha mãe é uma bruxa, ainda que não acredite nisso e ache que estou louco. - ele já não estava distraído com o graveto, me olhava quase sem piscar enquanto falava. - Mas ela não é do tipo de bruxa como os livros descrevem, ela é linda e dócil, conseguiu controlar a magia que havia dentro de si... Diferente de minha tia, sua irmã, que transformou toda essa feitiçaria em magia negra.

Parei de falar por alguns segundos para analisar seu rosto. Não havia nada que eu pudesse concluir, se ele estava acreditando ou não, se estava confuso ou não. Mas continuei mesmo assim.

-Descobri tudo isso um tempo atrás, quando minha tia tentou usar isso contra minha família. Tentamos impedir, mas ela fugiu. - respirei ao lembrar. - Não imaginava que poderia ter herdado algo assim. Em uma noite acordei e estava tudo jogado no chão, como hoje. Com medo do que poderia fazer ou me tornar, eu fugi pela floresta a fora. Foi aí que seu Pai me encontrou desacordado, e em um ato sem pensar, por medo, fingi que estava sem memória.

Contei toda história a ele que se mantinha atento ouvindo tudo. Eu estava finalmente sendo sincero com minha história. Não sabia ainda qual seria meu destino de agora em diante, mas já havia começado e não ia parar até terminar.

- Não tinha intenção de ficar muito tempo, eu planejava ir embora, principalmente quando eu percebi que vocês eram uma família do bem e estavam se sacrificando por mim. Não poderia deixar que vocês corressem perigo. - meus olhos começavam a marejar novamente. - Te juro que ia embora, mas seus pais me trataram como filho e não queriam me deixar ir... - minha voz falhou antes de continuar. - E tudo se complicou quando você mudou comigo.

Ao pronunciar a última frase ele me olha rapidamente, e não era mais um olhar confuso ou ríspido, parecia ser um olhar triste.

- Aconteceu o que eu não queria, eu me apeguei a vocês e a você principalmente. - dei uma pausa em minha confissão antes que pudesse continuar.

- Você mentiu pra nós, Arthur. Mentiu pra mim. - disse me olhando. -  Se isso que falou é realmente verdade, você nos colocou em risco.



Dois Caminhos (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora