Capítulo 21

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• Arthur

Helena era minha prima, filha de Ágatha. Ela havia se aproximado a mando de sua mãe para que pudesse me levar até ela.  Quando estava preso nessa jaula, ela havia me explicado tudo. Contou que sua mãe sempre dizia que havíamos roubado seu lugar no reino e que não éramos boas pessoas. Helena cresceu com essa visão nossa, e não a culpo. 

No início o propósito de Helena era cumprir a tarefa que havia sido designada a ela. Mas conforme fomos nos tornando próximos, ela tentou desistir, mas sua mãe a ameaçou. Então ela continuou.

Todo esse tempo que estive preso, ela me ajudou escondido, fingiu para a própria mãe que era leal e só assim pude sobreviver com mais tranquilidade. 

Ágatha tentava fazer com que meu lado escuro despertasse para que eu pudesse fazer seu jogo sujo. Ela queria que eu destruísse minha família um por um, deixando minha mãe sozinha. E tufo seria mais doloroso se partisse de mim, seu filho. A princípio eu relutava e ia contra todos as suas tentativas, mas depois comecei a demonstrar rendimento, e foi aí que meu plano com o de Helena começou a funcionar.

Ela me ajudou a desenvolver meus poderes de uma forma menos agressiva, cada novo dia ali junto dela eu conseguia controlar tudo que tinha dentro de mim, mesmo que as vezes eu sentisse que uma força quase que incontrolável estava tentando ganhar espaço na minha cabeça.

Helena me explicava com calma tudo que ela sabia, me mostrou como fazer magia sem correr grandes perigos. Descobri finalmente que aquilo que sentia tão forte dentro do meu corpo era a magia negra querendo dominar meu consciente, e isso era perigoso. Bastava um deslise e ela me controlaria. Havia lido que se um bruxo usar feitiço negro e sujar suas mãos com sangue , ele estaria escolhendo o caminho das trevas.

Eu treinava com os livros de sua mãe, logo tudo que estava aprendendo tinha maior predominância de magia negra. Eu e Helena desenvolvemos um plano, que demorou semanas para que conseguíssemos concluir.

Nós seríamos como reflexo um do outro. Sua imagem seria espelhada em mim e a minha nela. Era um feitiço arriscado, mas conseguimos concluir com êxito. 

A princípio trocávamos por cerca de dois minutos, depois conseguíamos ficar por meia hora. Treinamos dia após dia até que finalmente controlamos o momento de desfazer o feitiço. 

Foi necessário fingir que Helena estaria tentando agir pelas costas de sua mãe tentando controlar minha mente para que eu a matasse. E assim foi feito. Eu denunciei Helena a sua mãe que a prendeu na jaula. Essa foi a confirmação que Ágatha precisava para acreditar quase totalmente que eu estava do seu lado para fazer todos os seus comandos. E assim então estava tudo pronto para buscar ajuda.

Ágatha me instruiu a ir até onde eu estava morando e trazer os pais de Felipe para que na sua frente eu pudesse dar um fim em um deles. Mas antes que eu saísse, troquei de lugar com a Helena. Instrui ela a tomar cuidado e esperar que minha mãe recebesse meu sinal, e com isso viria até aqui e juntos poderíamos dar um fim nisso tudo.

Algo aconteceu fora do planejado, porque não estava nos nossos planos a vinda de Felipe até aqui, mas por algum motivo Helena o trouxe. Eu achava que a dor de vê-lo sendo torturado era demais, até agora, ao ver Helena recebendo aquilo que seria pra mim.

Era como se eu estivesse vendo meu reflexo sendo destruído bem na minha frente. Toda aquela magia havia que a Tia Ágatha havia liberado alcançava seu peito com a mais profunda força. E em poucos segundos aquilo que seria meu reflexo ferido cai no chão.

Tentei correr para fora da jaula mas fui impedido por Felipe que me segurou em volta de seus braços.

- Agora não, meu amor. - ele disse sussurrando em meu ouvido. Ele sabia de tudo? Sabia que havia trocado de lugar com a Helena?

- Mas... como? -  pergunto gaguejando.

- O barquinho... Ela não lembrou do barquinho que te dei. - disse ele.

A imagem de meu reflexo caída no chão desaparece aos poucos,dando espaço a outra imagem. A de Helena.

Ao presenciar aquela cena, meu coração apertou mais ainda de tanta dor. Todos estavam incrédulos com o que havia acabado de acontecer naquele. Até mesmo Ágatha parecia estar desacreditada.

- Como isso pôde acontecer? - falava Ágatha baixo com os olhos perdidos. - Minha filha... - disse se abaixando ao lado do corpo da Helena que ainda estava acordada.

Minha mãe estava paralisada com a cena, e Henrique a segurava para que ela não caísse. Enquanto Ágatha chorava chamando pelo nome de sua filha, pedindo para que abrisse seus olhos e ficasse com ela.

- Por favor, fique comigo. - implorava ela. Apesar de tudo, ver aquela cena era doloroso.

- Se entregue... - disse Helena com a voz fraca abrindo os olhos. - Não continue cometendo esses erros. - Helena falava com dificuldades enquanto sua mãe acariciava seu rosto pedindo para que ela não falasse. - Eu amo você mãe... não faça mais isso... por mim.

Essas últimas palavras saíram ainda mais fracas que as primeiras, em seus olhos desciam lágrimas involuntárias uma atrás da outra, e apesar de toda aquela cena de sofrimento, ela sorriu levemente antes de fechar os olhos em descanso. Ela não estava mais entre nós.

Helena morreu tentando me salvar. Meu coração estava quente, sentia a dor do luto mas também raiva por ela ter tido esse fim doloroso no meu lugar. Minhas mãos estavam formigando e eu não estava mais conseguindo colocar as informações da minha cabeça em ordem.

Involuntariamente eu jogo o Felipe para longe, me livrando de seus braços e caminho até onde estava Ágatha, a puxando para longe do corpo de Helena.

- Filho, não faça isso. - disse minha mãe tentando se aproximar.

- Não se aproxime. - falei grosso.

Assim como meu corpo, as palavras saíam de minha boca sem que eu pudesse as controlar. Ágatha estava no chão bem a minha frente de cabeça baixa olhando para o chão.

- Eu não vou deixar você machucar mais ninguém. Nem que pra isso eu precise te matar agora. - disse.

Dois Caminhos (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora