Duas semanas haviam se passado desde que minha mãe deu sua vida para nos salvar. Era doloroso lembrar dela e saber que ela partiu dessa forma. Foi um choque para nós perdê-la, mas o luto também percorria todo o reino, afinal minha mãe era amada pelo povo.
Henrique parecia ser forte, eu sei que ele sentia tristeza e dor assim como eu, mas ele não deixava isso transparecer, assim como minha irmã que chorou muito mas se mantinha firme. Talvez o sentimento de culpa não me deixasse agir de outra forma. Eu preferia ter ido no lugar dela, preferia ter dado minha vida para salvar todos eles. Eu tinha em minhas mãos o poder de acabar com tudo antes que chegasse a esse final, mas fraquejei, eu não fui forte o suficiente.
Meu coração doía ainda mais ao lembrar que por minha causa o pai do Felipe também se foi. Saber que sua família perdeu alguém tão amado assim por tentar ajudar alguém que até pouco tempo era apenas um desconhecido.
Não conversei muito com Felipe após todo o ocorrido. Henrique me trouxe para o castelo para que todos nos desperdicemos de nossa mãe. Mas antes de partir ele ofereceu um lugar pra morar a família de Felipe e emprego a ele e sua mãe. Mas eles não aceitaram.
Tudo havia desmoronado em minha vida. O que eu mais temia aconteceu e eu não fui capaz de impedir. Minha mãe, Helena e seu Pedro partiram tão cedo, e de uma maneira tão cruel que eu não sei se conseguirei deixar para trás essa dor que estou sentindo.
Logo quando cheguei eu dormi por quase um dia inteiro sem ao menos acordar, estava exausto, como se todas as minhas exergias tivessem sido sugadas e eu entrasse em como logo em seguida. Após acordar fiquei os dias seguintes dentro do meu quarto pensando e lendo para tentar distrair minha cabeça que não percebi nem os dias passarem.
☯
Era fim de tarde e resolvi tomar um ar no jardim do castelo. Eu estava precisando sentir um pouco do vento no meu rosto, estava precisando sentir como se eu estivesse em um lugar tranquilo e cheio de amor. Suspirei ao lembrar dessa palavra.
Caminho em direção a uma árvore e sento em baixo dela. Fecho meus olhos e passo a mão sobre a grama que havia ali. Não demora muito para que eu escute alguns passos.
- Posso sentar com você? - ouço a voz do Charlie.
- Pode! Sem problemas. - digo ainda com os olhos fechados.
Apesar de querer ficar um pouco sozinho, a companhia do Charlie sempre me fez bem e eu não estava dando abertura para uma aproximação sua nos últimos dias.
- Você quer conversar? Se preferir não conversar posso apenas ficar aqui sentando em silêncio com você. - falou. Charlie era realmente incrível, e eu não poderia deixar de ficar acalentado em ter sua presença aqui conosco. - Como você está se sentindo hoje? - pergunta ele.
Eu não estava bem, muito longe disso, mas não queria ser grosso com ele. Eu sei que ele se preocupa comigo e está tentando de alguma forma me fazer se sentir melhor.
- Estou tentando fica pelo menos tranquilo. - falei.
- Entendo... - disse dando uma pausa antes de pronunciar suas próximas palavras, como se estivesse procurando o que falar. - Mas tudo vai ficar bem, confia.
Tentei forçar um sorriso para demonstrar um pouco de gratidão mas não sei se funcionou muito bem. Mesmo sem falar absolutamente nada ele continuou ali comigo sentado por longos minutos.
Me senti um pouco melhor por ter ele ali ao meu lado dando suporte. De alguma forma é como se eu absorvesse energias que estão a minha volta, seja ela boa ou ruim, e Charlie me transmitia muita paz de espírito.
- O Henrique me falou que você conheceu um rapaz. - ele quebrou o silêncio. Eu não me surpreendo por meu irmão ter mencionado o Felipe e minha proximidade com ele. Fiquei um pouco envergonhado por ele ser tão direto dessa maneira. - Não precisa falar se não quiser, mas eu gostaria de saber um pouco mais.
Charlie não era insistente, mas ele era bem convincente. Tenho muita coisa presa dentro de mim e uma dessas coisas é sobre ele.
- Charlie... - exitei em continuar falando, mas ele se mantinha atento esperando uma continuação. - Eu o magoei, eu magoei sua família e o sentimento que a gente estava construindo.
Não pude evitar que algumas lágrimas saíssem de meu olho enquanto falava. Uma atrás da outra como se fosse águas de um rio.
- Imagino que você se sinta mal com isso, mas você não pode se culpar pelo que aconteceu. Arthur, todos temos escolhas e cada escolha tem uma consequência, e por mais que seja doloroso ter que conviver com elas, é muito necessário. - disse e eu apenas fiquei em silêncio. - Eles escolheram te ajudar e você não tem responsabilidade pelas escolhas deles.
- Mas se eu não tivesse aceitado ajuda e fugido talvez nada disso haveria acontecido. - falei.
- Ou talvez acontecesse de uma maneira diferente.
Era quase impossível eu não me sentir responsável pelo que havia acontecido, eu sei que minha Tia é a principal vilã dessa história, mas ela me enxergou como alguém que pudesse seguir seus passos e eu quase que caí em sua armadilha. E ainda levei pessoas comigo.
- Você não está feliz aqui, Arthur. - ele quebrou meus pensamentos ao falar isso. Eu realmente não estava feliz, mas esse não era o motivo.
- Como? - pergunto.
- Olha, eu sei que você está em luto, eu imagino o quanto seja difícil essa situação. Mas você não está bem aqui no castelo. Eu enxerguei em seu olhar um pouco de esperança quando mencionei o Felipe. - fico um pouco reflexivo sobre o que ele me falou.
- Eu me sentia completo com eles... mas isso era antes. - abaixei a cabeça e fechei os olhos para segurar as lágrimas.
- Você precisa se dar a oportunidade, Arthur. Você não pode abaixar a cabeça e deixar que esses sentimentos te sufoquem e te façam desistir de algo tão bonito como é o amor. - tudo o que ele me fala é como se fosse exatamente o que eu precisava ouvir.
- Mas e se ele não quiser me ver? - digo apreensivo.
- Mas e se ele só estiver esperando isso? Seu irmão está de acordo com isso. - ele responde rapidamente. Não posso deixar de sorrir um pouco com sua resposta rápida.
- Obrigado, não sei o que seria da minha vida sem você. - falo e o abraço.
Não sei se isso era certo ou não, mas eu ia até onde estava Felipe e sua família. E se eles me recebem de volta eu ficaria lá por toda a minha vida. Eu amo o castelo e eu amo minha família, mas eu consegui me encontrar e me conectar com eles.
Conversar com Charlie me fez perceber que parte de minha angustia é aflição é estar em um lugar onde eu não sinto mais que é minha casa. Como se eu estivesse longe mesmo estando em casa.
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Dois Caminhos (romance gay)
RomanceLivro 2 A história continua! Arthur é um Jovem Príncipe que descobriu ter herdado a magia de sua mãe, uma bruxa. Assustado, ele foge do castelo onde morava e começa a viver com uma família simples em um vilarejo longe de seu reino, onde todos desco...