• Felipe
Foi complicado contar aos meus pais do desaparecimento do Arthur. A princípio meu Pai cogitou a hipótese de ter discutido com ele e o mandado ir embora. Mas minha mãe foi em minha defesa, alegando que estávamos próximos e nos dando bem. Eu também chorei um pouco de nervoso e preocupado com ele, tinha seu sapato.
Todos ficamos aflitos com a situação. Não tínhamos ideia onde ele poderia estar e muito menos do que tinha ocorrido. Não consegui falar muito, apenas que ele havia saído para ajudar Helena.
Deitei sem sequer comer nada, não consegui pensar em comida. Eu estava com uma angustia no peito, eu poderia ter impedido ele de sair. Arthur tinha se tornado alguém muito especial, e eu havia deixado que isso acontecesse a ele.
Lembro-me que odiei a primeira vez que o vi. Como meus pais poderiam colocar um desconhecido dentro de casa, assim, como se não fosse um membro da família? E ainda tive que dividir o meu espaço com ele.
Não sabíamos de seu paradeiro, nem ao menos se ele estava falando a verdade. Nunca se sabe que tipo de pessoas podemos esbarrar, e suas verdadeiras intenções.
Por muito tempo eu menosprezei sua presença, tentando de todas as formas convencer aos meus pais que era errado o ter aqui. Arthur me tratava bem, era calmo e paciente, ele ajudava no que podia, todos gostavam dele. Era quase impossível manter meu pensamento.
Chegou a um ponto que eu continuava o desprezando, mas não pelo mesmo motivo. De alguma forma os pensamentos negativos que eu tinha por ele foram substituídos por carinho. Percebi que eu não tinha raiva do que ele era, mas sim do que eu era, por isso não me permitir se aproximar dele.
Não era só sua aparência bela e delicada que me admirava, seu comportamento educado, com suas palavras cheias de doçura me encantaram. Eu observava ele dormir as vezes, tão frágil.
Estava tudo confuso em minha cabeça. Eu sabia que gostava dele, mas não sabia como controlar ou lidar com isso. Em um determinado momento conclui que estaria sendo rude se continuasse o tratando dessa maneira, assim como seria cruel machucá-lo, me magoaria junto.
Quando beijei ele a primeira vez, foi intenso. Em nenhum momento me arrependi de ter feito isso, fiquei preocupado com o que ele havia sentido, ou o que poderia acontecer depois disso.
Começamos a construir juntos um laço de afeto tão bonito. Nós nos entendiamos, nos distraíamos juntos. Passávamos mais tempo juntos, e eu gostava disso. Algumas vezes parecia que ele escondia algo e aquele pensamento de que poderia realmente ter algo a mais vinha a tona. Mesmo sabendo que poderia haver algo a mais que ele não havia contado, decidi lhe dar meu voto de confiança.
Quando o encontrei no chão com toda aquela bagunça no quarto, e alguns objetos ao seu redor flutuando, achei que estava louco. Ele parecia estar desacordado, e sem controle do seu próprio corpo. Senti que a confiança que depositei nele tinha sido quebrada. Fiquei espantado com o que tinha visto, mas a mágoa tomou conta do meu coração. Até ele me explicar toda situação, pelo menos.
Era loucura o que ele havia me contado. Arthur era um bruxo, sem contar que também era um príncipe. Só acreditei porque eu vi, caso contrário morreria afirmando que era mentira.
Eu senti uma imensa necessidade de cuidar dele, de fazer com que conseguisse controlar essa magia, de trazer um pouco de paz pra sua vida. Sei que sentia falta de casa, e faria o que pudesse para dar a ele sua família de volta, mesmo que isso significasse ficar longe dele.
Agora estou aqui, longe dele, e não é pela razão certa.
☯
Meus pais haviam combinado de ir na cidade procurar Helena e saber o que havia acontecido. Eu não consegui pregar o olho anoite, acredito que meus pais também não. Qualquer barulho que ouvia fora me levantava achando que poderia ser o Arthur.
Saímos cedo de casa para a cidade. Estava na esperança que a Helena pudesse falar algo sobre o que havia acontecido, ou então algo que pudesse ajudar a encontrar ele. Não demorou muito para que chegássemos a cidade. Como meu pai era comerciante, ele costumava conhecer todo mundo, então não foi difícil achar onde ela morava.
- Acho que é aquela. - disse meu pai apontando para uma casa logo a frente.
Havia uma senhora, em uma casa próxima, que confirmou se aquela era realmente onde Helena morava com sua mãe.
Batemos na porta diversas vezes, mas ninguém havia atendido. Insistimos mais um pouco, e mesmo assim ninguém saiu. Meu pai pegou na maçaneta e a porta se abriu, por sorte não estava trancada.
- Senhoria Stone! - chamou meu pai ainda na porta.
Eu estava ansioso e gostaria de entrar depressa, mas meu pai não faria isso sem ter certeza de que não havia ninguém na casa. Não houve nenhuma resposta.
Meu pai entrou primeiro, depois eu o segui e minha mãe logo atrás. A casa parecia que não acomodava ninguém a muito tempo. Alguns móveis estavam cobertos com um tecido branco empoeirado.
- Helena! - chamo. Mas ainda sem resposta.
Vasculhamos toda a casa, mas não havia nem sombra de algum morador. Haviam dois quarto vazios, com as camas arrumadas. Uma sala com vários livros e uma mesinha no centro. A casa era um pouco grande, mas parecia ser bem antiga e simples.
Continuamos a procurar, mas não tinha nenhuma pista de que alguém foi até ali recentemente. Meus olhos já se enchiam de lágrimas novamente.
- Calma filho, vamos encontrar ele. - disse minha mãe me dando um abraço.
- Você tem certeza que a garota que saiu com o Arthur era a Helena? - pergunta meu pai,
- Tenho sim, ela sempre ia conversar com ele. - respondo.
A casa estava completamente vazia, não tinha mais o que fazer ali, então voltamos para casa. O caminho inteiro permanecemos em silêncio. Eu não estava nenhum pouco tranquilo, longe disso.
Minha mãe também estava nitidamente preocupada, triste e se sentindo um pouco culpada. Ela se sentia responsável por ele, como uma mãe era responsável pelo seu filho. Arthur deixou uma marca muito especial em nossa família, com certeza não esqueceríamos ele de uma hora pra outra e não desistiríamos de encontrá-lo tão fácil. Pelo menos eu não.
Chegando próximo de nossa casa, avistamos alguns cavalos parados presos nas árvores. Rapidamente nos aproximamos tentando descobrir quem estava ali.
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Dois Caminhos (romance gay)
RomanceLivro 2 A história continua! Arthur é um Jovem Príncipe que descobriu ter herdado a magia de sua mãe, uma bruxa. Assustado, ele foge do castelo onde morava e começa a viver com uma família simples em um vilarejo longe de seu reino, onde todos desco...