Capítulo 5 - Ocean City

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Deixar a história do cartaz não foi fácil, e eu ainda estava muito frágil. O único pensamento que me ocorria era como uma foto de um momento indesejado e "íntimo" meu, tinha vazado. Uma voz anunciou que o meu voo iria decolar dentro de alguns instantes. Peguei a minha mala e já estava me levantando para entrar no avião, quando uma voz familiar soou pelo aeroporto.

— Mollie, não faça isso! — Era Peter quem estava fazendo o escândalo.

— Quando você vai entender que eu não quero mais saber de você? — Me virei.

— Eu não tenho nada a ver com o cartaz. Uau, você está linda!

Eu não sei se uma blusa simples e uma calça jeans são a definição de "linda". E como ele poderia me elogiar nessas circunstâncias?

— Peter, vai para o inferno com tudo isso! Você me dá nojo... — e falando isso, corri para entrar no avião.

Que bom que eu iria passar as férias em Ocean City.

A viagem foi longa. Eu havia dormido um pouco, mas assim que o avião estava prestes a pousar, uma aeromoça me acordou.

Olhando pela pequena janelinha do avião, Ocean City era o fim do mundo. Sair dos bairros mais chiques de Seattle para acabar em um lugar como aquele não era o meu plano de viagem perfeita.

A minha tia estava segurando um papel escrito "Welcome, Mollie Hans". Achei aquilo vergonhoso e estranho, porque ninguém mais estava segurando papel nenhum.

Desci do avião e estendi a mão para a minha tia apertar. Ela me deu um abraço apertado e eu fiquei com cara de paisagem.

— Ah, que bom que você veio! — Minha vontade era de responder "eu não tive escolha", mas ela continuou a falar — Sua mãe não pôde vir, mas está a sua espera em nossa casa.

A minha mãe havia nos abandonado (meu pai e eu) por nem um motivo, foi morar em Ocean City com a minha tia Leslie e nunca mais deu notícias. Eu não sabia como iria me portar perto daquela mulher desprezível.

Leslie era uma mulher magra que usava roupas largas e colares longos. Seus cabelos eram cacheados e escuros. O rosto era magro devido ao uso exagerado de cigarros, e as roupas denunciavam que ela não havia parado de fumar.

— Vamos para casa, querida. Essa é a sua carruagem! — ela apontou para um lindo carro cor-de-rosa. Um carro que por um momento me fez esquecer os problemas atuais.

Quando corri para abrir a porta, Leslie começou a rir.

— Esse não, Mollie. — Ela rodeou o carro rosa e me mostrou um carro vermelho e velho, praticamente caindo aos pedaços.

Ela só podia estar brincando.

No meio da nossa rota para a casa, minha tia tentou puxar assunto comigo.

— Mollie, você tem quantos anos?

— Faço 17 no mês que vem.

— 17 anos... bons tempos. Você tem namorado?

Eu não tinha dito para Peter que a nossa relação tinha acabado. Mas era óbvio que tinha.

— Não.

— Isso é bom. Existem muitos caras bonitões em Ocean City. Jovens, principalmente.

Para mim, Ocean City é uma cidade que alguém vai quando está bem velho ou morrendo.

— Sei.

— É aqui. Chegamos! — Leslie estacionou o carro em frente a uma casa branca de dois andares e com uma cerca de mesma cor. Havia uma enorme árvore na frente e as folhas estavam secas. Duas cadeiras de balanço estavam paradas na varanda.

Eu estava distraída olhando para todos os detalhes quando uma mulher de vestido florido, cabelos loiros e sobretudo verde veio correndo em minha direção.

— Mollie! — Ela ia me dar um abraço, mas eu estendi a mão.

A mulher em questão era a minha mãe. Anne Kenedy. Sem Hans.

— Eu preparei uns bolinhos para a sua chegada, Mollie. — Disse Leslie.

— Obrigada, tia. Podemos entrar? — perguntei.

— Claro! Vamos entrando. — Sorriu minha mãe.

— Eu perguntei para a Leslie. Podemos?

— Mocinha, você está falando com a sua mãe. — Anne me olhou.

— Você deixou de ser a minha mãe há muito tempo. — Entrei na casa e olhei tudo ao redor.

Era uma casa bonita, afinal. Nada em comparação a minha casa em Seattle, claro.

— Você quer ver o seu quarto, Mollie? — perguntou Leslie.

— Sim, por favor.

Leslie me levou para o andar de cima e me mostrou o que deveria ser o meu quarto. Simples e organizado. Uma pequena cama no meio, uma escrivaninha no canto, as paredes eram da cor marrom, o que dava a impressão de o quarto ser escuro. Havia só uma janela de vidro e uma forte luz iluminava as coisas. Tinha também uma cômoda de madeira com quatro gavetas.

— Você pode colocar o seu computador na escrivaninha, as suas roupas na cômoda e... você tem livros?

— Sim. Alguns.

— Então você pode colocá-los nas estantes.

Eu não havia reparado nas duas estantes acima da minha cama.

— Aqui tem sinal Wi-Fi? — perguntei.

— Não. Mas se você quiser fazer uma ligação, pode usar o telefone público que fica na pracinha.

Telefone público?! Eu não iria usar um telefone público. Como eu iria acessar as minhas redes sociais? E se a história do cartaz estivesse se espalhado?

— Por que vocês não colocam Wi-Fi aqui?

— Não há sinal. Ninguém na vizinhança tem Internet.

Aquilo ali era, de fato, o fim do mundo.

Apenas por um VerãoOnde histórias criam vida. Descubra agora