Não consegui dormir a noite de preocupação. Eu estava deitada no chão do supermercado e Cameron ainda me abraçava. As calças jeans me apertavam e o meu suéter azul claro já não me parecia certo devido ao calor. Cam usava uma calça também. Só que a dele era moletom, e a blusa verde de mangas curtas o beneficiava.
Meu rosto parecia inchado e eu podia sentir as minhas olheiras. Me levantei e Cam também. Ele passou a mão em meus cabelos castanhos e disse:
— Mollie, eu te levo até o aeroporto. Sei que precisa ver o seu pai. Vai ficar tudo bem.
— Tudo bem. Preciso trocar de roupa.
Ele assentiu e apontou na direção do pequeno banheiro. Entrei no banheiro e substituí o suéter por uma blusa de alças preta que estava dentro da mochila. Amarrei o cabelo em um rabo de cavalo e saí.
Sorte de eu ter levado os meus documentos e de estar prestes a ir para Seattle.
— Avise a minha mãe onde estou. Irei ligar para ela quando chegar. — Falei.
— Certo.
Cameron me abraçou. Um abraço tão forte que eu poderia sumir dentro dele. Depois de me soltar, me beijou. Eu sabia que não o veria tão cedo. Tentei guardar em minha memória aquele momento. Meu corpo estava aquecido por causa do calor que ele emanava. Seus lábios já eram tão familiares... eu tinha todos os detalhes dele gravados em minha mente.
— Eu te amo, Mollie Hans. — Disse ele depois de me soltar.
— Eu também te amo, Cameron Hall. Você foi e sempre será o meu amor de verão. — Senti as lágrimas parando atrás das minhas pálpebras. Eu não podia chorar.
— Isso não é um adeus. Nos veremos em breve. Me escreva. — E por fim me deu um último beijo. Este era mais rápido, porém não perdia a essência que era beijar Cameron.
Ele segurava a minha mão com força. Quando o meu voo foi anunciado pela segunda vez, Cam soltou minha mão.
Acordei assustada. Meu plano não era dormir durante a viagem. Mas aconteceu. Quando cheguei em Seattle, fui direto para o hospital em que meu pai estava.Alguns minutos depois eu podia entrar na sala em que ele estava. Papai parecia confuso e velho. Um homem cansado. Me sentei em uma cadeira perto da cama de hospital.
— Filha, que surpresa... — disse ele.
— Assim que eu soube, vim o mais rápido que pude. — Segurei sua mão.
Ele começou a chorar. Lágrimas silenciosas. Eu nunca tinha visto meu pai chorar.
— Me desculpe, filha... eu estava fora de mim...
— Não chore, pai. Depois você me conta o que aconteceu.
Ele olhou para a minha mão. Vi seus olhos se direcionarem para a tatuagem em meu pulso.
— Você fez uma tatuagem? De verdade?
— Sim.
— Você têm muitas coisas para me contar sobre esse verão, mocinha. — Ele forçou um sorriso.
Passei o tempo todo ao lado do meu pai. Só quando ele adormeceu que eu chorei. O que tinha levado ele aquilo? Meu sonho de verão estava se desmanchando como a areia.
Ele tinha permissão para voltar para casa no dia seguinte. Caso não houvesse ninguém lá, ele teria que ficar no hospital. Mas eu tinha voltado.
Quando entrei em minha casa, percebi que tudo estava diferente, como se aquele não fosse mais o meu lar. Meu pai se sentou no sofá e eu em uma cadeira na sua frente.
— Vamos conversar. — Falei.
— O que quiser. — Ele coçou a cabeça.
Reparei nas marcas de expressão do meu pai. As marcas de expressão de uma pessoa velha dizem muito sobre ela. Meu pai tinha a testa franzida, como se tivesse se irritado e preocupado muito durante todos os anos de sua vida. Se ele tivesse mais marcas nas bochechas, eu saberia que ele havia tido uma vida feliz e cheia de sorrisos.
— Por que você fez isso? — perguntei.
Ele suspirou.
— É complicado... eu perdi tudo. Todo o nosso dinheiro foi perdido em uma maldita aposta. Arrisquei, pensei que tinha chances de ganhar em um jogo. Mas perdi. E depois percebi que tinha te perdido. Então fiz.
— O senhor não me perdeu. — Eu não tinha costume de chamar o meu pai de "senhor". Mas sentia respeito por ele naquelas circunstâncias. — E além do mais, sabe que nada justifica o que fez. Estou muito triste e desapontada. Mas fico feliz em estar aqui em sua companhia.
Ele deu um breve sorriso e se levantou.
— Não precisa se preocupar, Mollie. Não farei mais isso. Agi por impulso. Quer tomar um suco? Receio que Andy terá de ir embora.
— Eu nunca gostei dela tanto assim. — Sorri.
Ele se dirigiu para a cozinha e começou a fazer um suco de laranja. Enquanto isso eu fui ao meu antigo quarto. Estava o mesmo desde que eu o deixei. Ainda havia uma foto minha com Peter na cômoda. Estávamos nos beijando e parecíamos felizes. Como eu era feliz do lado dele? Rasguei a foto sem pensar mais. E então comecei a rasgar todas as fotos em que Peter estava. Depois percebi uma coisa: quando você está se divertindo demais com a pessoa que gosta, nem lembra de tirar fotos. Eu não tinha nem uma imagem com Cameron.
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Apenas por um Verão
RomanceMollie Hans só se preocupava com uma coisa: a viagem para Ibiza nas férias de verão. Ela havia planejado isso com os seus melhores amigos. Bem, se é que pessoas que falam pelas costas e se importam mais com as aparências podem ser chamadas de "melho...