Capítulo 8 - Confiar

130 12 19
                                    

A luz batia forte em meu rosto. A única janela do meu quarto era capaz de me dar dores de cabeça logo pela manhã. Eu ainda estava com a roupa do dia anterior, então resolvi me levantar e trocar.

Levei um grande susto quando percebi que as minhas roupas não estavam lá.

— O que aconteceu, querida? — perguntou a minha tia assustada com os meus gritos histéricos.

— As minhas roupas! Elas sumiram! — olhei em desespero para ela.

— Ah, suas roupas. Joguei tudo fora.

— O QUÊ?! Haviam roupas caríssimas, roupas de grife! Como assim jogou fora?!

— Relaxe, Mollie. Eu joguei fora porque hoje vamos fazer compras. As roupas que você trouxe são todas muito... chiques.

Tive que me conter para não dar um tapa na cara daquela mulher. Eu iria ficar louca com todas as atitudes malucas de Leslie.

Quando a tarde finalmente chegou, fomos a um pequeno shopping que havia em Ocean City. As roupas eram todas praianas e nenhuma era o meu estilo. Depois de ficar uma meia hora procurando, a tia Leslie me entregou um monte de roupas e me instruiu para experimentá-las. Algumas eram até bonitinhas, mas como eu não podia me dar o luxo de ficar escolhendo (já que as minhas antigas roupas estavam no lixo), compramos vários vestidos e conjuntos. Os vestidos eram bonitos, confesso.
 
 
Depois de tanto trocar de roupa, escolhi um vestido curto tomara que caia da cor azul aquamarine. Os meus seios eram médios, uma grande vantagem para o bojo drapeado do vestido. Arrumei o meu cabelo e corri para o supermercado. Tomei cuidado para que Cameron não me visse, ou senão o meu plano iria falhar. Ele estava conversando com um garoto que aparentava ser mais velho (apesar de eu não saber sua idade), era mais forte e tinha muitas tatuagens espalhadas pelos braços.

— Cameron, você vai surfar hoje? A Jessy está louca para te ver. — Ouvi o garoto falar.

— Provavelmente. Só preciso terminar aqui. — Disse Cameron.

— Acho que não é só a Jessy que anda te perseguindo... — Tentei disfarçar, mas aquele garoto já tinha me visto.

— Ah, oi Mollie. O que você está fazendo aí?

O fato era que eu estava escondida atrás de uma das prateleiras, e estava agachada. Seria embaraçoso explicar para ele o que eu estava fazendo.

— Nada... eu só estava procurando... procurando um pote de azeitona. — Eu não sei o por quê falei em azeitona. Eu nem gosto de azeitona!

— Os vidros de azeitona ficam do outro lado. Aliás, você não vai me apresentar sua amiga, Cam? — perguntou o garoto que estava conversando com Cameron.

— Eu não sou amiga dele, — me apressei em dizer — mas me chamo Mollie Hans.

Me afastei um pouco para pegar o pote de azeitona e voltei.

— Você é nova na cidade, não é? Sou Zack Williams. — Ele estendeu a mão e eu a apertei com a minha mão vazia.

— Sim, só estou de passagem. Prazer em conhecê-lo, Zack.

— Você é tão bonita.

Paralisei quando Zack disse aquilo. O momento em que Peter estava me forçando a beijá-lo, tudo o que aconteceu veio a minha mente.

— Você está bem, Mollie? — perguntou Cameron.

— Eu preciso sair daqui. — Foi a única coisa que eu consegui dizer.

Comecei a correr para longe do supermercado, as lembranças voltaram com muita intensidade, e eu não tinha superado o que havia acontecido.

Cheguei embaixo de um píer e me sentei na areia. O mar estava bem próximo, mas a água não podia me tocar. Comecei a chorar pensando em tudo. Me assustei quando ouvi uma voz masculina.

— O que aconteceu? Pode me contar, Mollie. — Era Cameron.

— Não é nada. — Comecei a enxugar o meu rosto molhado de lágrimas rapidamente. Ele não podia me ver chorando, seria vergonhoso demais. Entreguei o pote de azeitona que eu, provavelmente, havia "roubado", para ele.

Cameron não disse mais nada. Apenas se sentou do meu lado. Depois de um tempo sentados, ele voltou a falar:

— Sabe o que eu faço quando quero chorar? Eu entro na água e fico lá um tempo. Assim, quando eu voltar, as pessoas irão pensar que as lágrimas são gotas de água do mar.

Ri, finalmente.

— Que coisa mais maluca, Hall.

— É uma coisa maluca, mas funciona. E me chame de Cam, por favor. Você pode confiar em mim.

— Não posso não. Eu não sei nada sobre você. — Respondi com sinceridade.

— E o que você acha de eu te mostrar? — ele levantou e estendeu a mão para mim.

Cameron começou a correr de mãos dadas comigo. Eu não sabia para onde ele iria me levar, mas, segundo ele, eu teria que confiar. E eu só estava pensando na azeitona que ele havia deixado lá.

No momento seguinte estávamos parados em frente ao mar.

— O que você está fazendo? — perguntei.

Sem me dar nenhuma resposta, Cameron pulou na água e desapareceu.

— CAMERON! CAMERON! — Comecei a gritar com medo do que poderia ter acontecido.

— Só respondo se você me chamar de Cam! — gritou ele de volta e eu me senti aliviada. E irritada.

— Que susto você me deu! Pensei que tinha se afogado!

— Entra na água, menina Mollie!

— Nem pens... — antes de terminar a frase, Cameron havia me puxado para o mar, e entrei em pânico.

Eu não sabia nadar.

Apenas por um VerãoOnde histórias criam vida. Descubra agora