A família da noiva

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Fechei minha mente para pensamentos externos e me concentrei na tradução do documento à minha frente. Desde que começara a negociar com os árabes eu vinha estudando a língua. Felicitei-me por já conseguir compreender os sentidos principais do idioma nativo.

Esta prática era um dos meus princípios, eu jamais fazia negócios sem conhecer a cultura e um pouco da língua do país de origem. No caso dos árabes, a importância disso era ainda maior, porque eu seria subestimada em cada segundo por meu gênero.

− Eu sabia que a encontraria enfurnada neste escritório − a voz rouca e alta de minha mãe fez com que eu saltasse da poltrona de susto.

− Mãe... − procurei esconder o desgosto por aquela visita − como vai a senhora?

− Disfarce melhor para convencer de que esta feliz em me ver − alfinetou. Ela sempre conseguia ler meus sentimentos e aquilo me irritava profundamente.

− Imagina! Só não espera vocês tão cedo − argumentei com um sorriso.

− Esta melhor! − garantiu − seus irmãos já estavam em casa e convenci seu pai de vir antes porque queríamos falar com você?

− Queríamos? − questionei olhando em volta e só então vi meu irmão mais velho, meu estômago revirou. Aquela conversa seria, no mínimo, tensa − Como vai Davi?

Não fiz questão de me levantar para cumprimentá-los. Não fingiria a tal ponto. Não havia amor ali.

− Minha irmã, estou aqui para saber se você esta bem? − discursou de forma pedante e nada convincente − espero que o que soubemos seja invenção daquela tresloucada da Alice...

Não daria o gosto a eles de facilitar a conversa que queriam ter comigo. Se iriam me recriminar pelo casamento, teriam que falar tudo abertamente.

− E o que seria? − fingi desconhecer do que falavam.

− Não nos trate como limítrofes, Ana − ralhou minha mãe − você sabe muito bem que estamos falando do seu suposto casamento com um atorzinho.

− É claro que é mentira, não é, minha irmã − declarou meu irmão − você não seria tola a este ponto.

− Pois é verdade. Vou me casar em três semanas − atalhei sentindo prazer em ver minha mãe empalidecer.

− Meu coração não aguenta... − exagerou − você só me dá desgostos, não cansa de trazer vergonha a sua família?

Fechei os punhos com raiva e finquei as unhas nas palmas das mãos para não gritar com ela. Era sempre assim, qualquer coisa que eu fazia, ela encontrava um jeito de diminuir e me encaixar em um padrão ideal inatingível.

− Você não queria que eu me casasse?.... − lembrei-a − desde que fundei a Laillo's você não faz nada além de me cobrar...

− Ora, Ana! Não seja cínica − advertiu − você sabe muito bem que eu me referia a um bom casamento, com um homem à sua altura...

− Até hoje não sei porque terminou com meu amigo Santiago... − atalhou Davi e meu sangue ferveu.

− Davi tem razão − completou minha mãe − Santiago sim era homem para você, bem nascido e com uma fortuna que a faria deixar esses caprichos de negócios de lado...

− Mãe... eu não vou discutir isso com vocês − cortei − minha decisão esta tomada...

− Você não me parece apaixonada, Ana! − adivinhou − então por que vai se casar? Esta sendo chantageada?

− Claro que não mãe! − garanti − e sim, estou apaixonada...

− Você não me parece apaixonada. Aliás, desde que nosso pai te deu a sua parte na herança, você se tornou fria e calculista, nem parece uma mulher... - Davi comentou com aquele machismo absurdo que lhe era característico.

Marido de aluguel [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora