Marido de aluguel [COMPLETO]

Perigo

Ver Felipe entrar em nosso quarto trêmulo e pálido me indicou que nada de bom tinha vindo daquela reunião. Ele caminhou devagar e se jogou em uma das poltronas. Só alguns segundo depois que voltou os olhos para os meus.

− O que houve? – aproximei-me dele.

− Não conseguirei te proteger, Ana! – sentenciou cabisbaixo.

− Fale, Felipe, o que houve – insisti

− Eu tentei, mas foge do que eu posso fazer – continuou enrolando.

− Do que esta falando? – eu detestava o modo como ele estava sendo reticente – Felipe, seja o que for, fale logo. Seja direto para resolvermos o problema.

− O objetivo da reunião era me fazer uma proposta, Ana...

− Hum... – se ele continuasse a me dar migalhas de respostas, eu seria capaz de arrancar com minhas unhas cada palavra de sua garganta.

− Eles me ofereceram uma quantia alta para que eu cedesse minha esposa, você, a esse sheik.

Senti o chão desaparecer sob meus pés. Tive que me apoiar no braço da outra poltrona e me sentei próxima de Felipe. Como um país ainda permitia aquele tipo de negociata?

− Eles queriam me comprar de você? – tive que confirmar o absurdo e Felipe conseguiu apenas assentir. – e o que você disse?

Felipe me lançou um olhar faiscante.

− O que eu diria, Ana? – Felipe se levantou furioso – Acha que eu a venderia?

Senti-me envergonhada pelo pensamento. Porém, por mais que fosse bom estar com Felipe, eu não conseguia confiar nele plenamente. Minhas experiências me mostravam que quase nenhuma pessoa merecia esse tipo de sentimento.

Além do que, o fato de Felipe ter aceitado dinheiro para se casar comigo me deixava ainda mais insegura. No fundo, eu questionava como alguém recebia dinheiro em troca de ter um relacionamento, mesmo que fosse de mentira. Então, se ele tinha aceitado naquele momento, por que recusaria agora? Eu, simplesmente, não conseguia confiar.

− É que...

− Você realmente acha que eu a venderia, não é? – Felipe me rodeou adivinhando meus pensamentos. Baixei a cabeça sem coragem de lhe fitar – mesmo depois de tudo o que aconteceu entre nós esses dias, você não confia em mim, acha que eu a trocaria por dinheiro.

− Felipe...

− Ana, não! – me interrompeu novamente – pois vou lhe dizer exatamente o que aconteceu. Ofereceram-me uma grana alta, muito mais do que o que você me ofereceu para o casamento. E, pasme! Eu fui capaz de recusar, não aceitei vender você...

− Felipe, por favor...

− Calma que tem mais! – cortou. Ele estava furioso como eu nunca imaginei − Quando recusei as propostas, me disseram que você poderia facilmente ficar viúva e, você vai se surpreender de novo, mesmo sendo ameaçado de morte, eu continuei recusando...

− Ameaçaram te matar? – meu coração falhou uma batida e abri a boca de susto.

− Não disseram com estas palavras, mas afirmaram que se você ficasse viúva seria tudo mais simples e presumo, que sendo seu marido de mentira ou alugado, o único jeito de você se tornar viúva é comigo morto – Felipe carregou na ironia e eu me senti ainda mais culpada.

− Malditos! – xinguei. De alguma forma que eu não me atentei, a ameaça a Felipe me atingiu mais até do que a proposta de compra.

No entanto, não havia tempo para remoer isto ou me recriminar pela falta de confiança em Felipe, era preciso ser racional e agir. A situação tinha tomado um rumo muito mais sério do que eu poderia imaginar.