...depois a tempestade!

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O carro voava pelas ruas da cidade. Eu sentia a mão de Felipe segurar forte as minhas, mas não havia conforto. Eu só pensava em meu pai.

Minutos antes, Felipe alcançou o celular e falou com Lucas enquanto eu me deixei ficar no tapete. As lágrimas escorriam descontroladas e eu só pensava quando e como esse pesadelo ia terminar.

Santiago ia conseguir me quebrar mais cedo ou mais tarde e eu aceitaria estar com ele para proteger aqueles que amava.

Enquanto Felipe me arrastava para dentro do carro e gritava para que o motorista fosse o mais rápido possível, eu entendi que a situação era terrivelmente grave.

Quando o carro parou, ergui os olhos e me surpreendi com o prédio do Instituto do Coração.

Confusa, desci, trêmula. Meu pai tinha apresentado alguns problemas no coração. Os médicos pediram moderação nas atividades e alimentação adequada.

Coisas que claro, ele nunca fez questão de seguir.

Eu não entendia como seu problema se ligava a Santiago.

Antes de alcançar a recepção minha família me encontrou. Todos com olhos inchados e vermelhos. As expressões carregadas.

A maior surpresa foi minha mãe estar entre eles. O rosto sem maquiagem, marcado por lágrimas que escorreram ali. Os cabelos desgrenhados.

Eu nunca a tinha visto daquele jeito.

Repensei se talvez não a tivesse julgado mal todos esses anos e seu amor por meu pai fosse real.

Antes que me alongasse nessas conjecturas, fomos convocados a uma sala e a equipe de médicos se apresentou. Um alento foi ver o dr. Antônio cuidando do caso. Ele era médico do meu pai há muitos anos.

Ouvi pouco e prestei atenção em menos ainda. Eu só queria vê-lo.

Ele tinha tido um infarto. Contudo, ficou constatado que havia outras veias prontas a se romperem, por isso ele era mantido em coma induzido até que se fizesse uma cirurgia.

Oito safenas. O número era assustador e os médicos não se mostraram muito otimistas com o prognóstico.

Mesmo que meu pai sobrevivesse à cirurgia, não era possível mensurar a dimensão dos danos causados pela falta de oxigenação.

O socorro foi rápido, mas não o suficiente.

Recebemos autorização para entrar no quarto: minha mãe, Davi, Lucas e eu.

Vim saber depois que aquele não era um protocolo comum. Raramente deixavam uma pessoa entrar, muito menos quatro.

Rodeamos a cama. Os tubos saíam da boca, nariz e braços. Os olhos estavam fechados e a pele pálida. Mal reconheci meu pai ali.

As lágrimas voltaram a escorrer forte por meu rosto e de todos.

Um outro sentimento, mais cru e primitivo, começou a brotar. Daquela vez não o repeli.

Sussurrei palavras de conforto. E olhei para aqueles que estavam comigo.

- Ele foi longe demais, minha irmã. - Lucas me fitou, também surpreso por Davi se manifestar de forma quase carinhosa comigo.

Esperei que falasse mais, me acusasse de ser a responsável por colocar nosso pai naquele estado, mas ele não o fez.

Voltou os olhos para o homem moribundo naquela cama e segui seu olhar. Um aperto tão forte esmagou a minha alma.

Pensei em minha avó que precisou ser medicada para suportar a dor de ver o filho entre a vida e a morte. Felipe tinha se oferecido para velar seu sono enquanto tomávamos ciência do estado do meu pai e cuidávamos de tudo para a sua cirurgia.

Marido de aluguel [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora