Marido de aluguel [COMPLETO]

Uma verdade

Lucas

Assim que terminei de falar, os olhos escuros de meu pai se mantiveram fixos nos meus. Não desviei e continuamos nos fitando por um longo tempo.

Ele estava deitado, rodeado de travesseiros. Os óculos pediam no nariz. Ele tinha saído do hospital naquela manhã. Os médicos, finalmente, consideraram que ele estava forte o suficiente para continuar o tratamento em casa.

Eu sabia que deveria esperar mais para contar a ele, mas foi mais forte que eu. Toda a verdade me sufocava e eu já tinha adiado por tempo demais.

O medo de perdê-lo depois do que aconteceu me fez repensar tudo o que eu tinha vivido até ali e eu não iria mais me esconder da minha família. Em especial, meu pai, merecia estar a par do que acontecia em minha vida, uma vez que eu o queria fazendo parte de tudo aquilo.

− O que espera que eu diga, Lucas? – ele tirou os óculos e os deixou de lado, passando a mão pela barba grisalha.

− Talvez me renegar? – suspirei desviando os olhos.

− Ahh, filho! Magoa-me que você pense isso de mim. Acha que eu realmente perderia você por causa disso? Olha para mim, Lucas! – com esforço desviei os olhos da janela e o olhei outra vez – Você esta feliz, meu filho?

Pensei em tudo o que estava vivendo e a resposta veio acompanhada por um sorriso.

− Estou pai.

− Então é isso o que importa. Eu sempre quis que você e seus irmãos fossem felizes e lutei para que isso acontecesse. O modo como vocês escolheram buscar esta felicidade é particular de cada um.

Eu sabia que meu pai era maravilhoso, mas não imaginei que ele aceitaria tão prontamente tudo aquilo. Afinal, ele era de uma geração anterior, acostumada às formas tradicionais de família.

− Qual o nome do rapaz? – a pergunta me surpreendeu. Achei que ele já tivesse encerrado a conversa.

− Thiago – respondi.

− Quando vai trazê-lo em casa para conhecermos?

Pensei em Thiago e sorri outra vez. Tínhamos nos apaixonado à primeira vista, enquanto eu caminhava pela orla, no litoral paulista, em uma de minhas viagens a trabalho. Quando nos tocamos pela primeira vez eu tive a certeza que tinha encontrado um grande amor.

Todavia, esperei. Deixei que nosso relacionamento se solidificasse. Eu não seria leviano de levar à minha família uma situação tão delicada por causa de uma aventura.

Tive outros relacionamentos antes de Thiago, mas eram efêmeros e não mereciam que eu comprasse uma briga por causa deles.

Minha avó sabia da minha orientação desde que eu era adolescente e, constantemente, brigava comigo para que eu deixasse de besteira e vivesse publicamente como eu gostaria. Dona Mariana era um ser iluminado, muito à frente da sua geração e de uma delicadeza e amorosidade que mudariam o mundo.

Eu tinha contado a Ana há alguns anos e, como eu já imaginava, ela disse que sempre soube e que eu demorei a falar para ela. Abraçou-me e garantindo sempre estaria ali por mim e por quem eu escolhesse estar junto.

Meus irmãos desconfiavam, mas nunca ousaram me confrontar diretamente. Eles mantinham aquela pose tradicional hipócrita. Fernando se casou por interesse, vivia traindo a esposa, mas se mantinha como o homem perfeito aos olhos da sociedade. Davi era outra história, preferia ostentar diferentes mulheres toda semana, como se isso provasse que ele era homem de verdade.

Minha mãe era uma incógnita, eu não sabia exatamente o que ela pensava. Tinha a sensação de que só as aparências lhe eram caras e um filho gay não a orgulharia em seu círculo de amigos. Por isso, não me senti confortável em me abrir com ela.

Entre todos, a grande preocupação era meu pai. Eu o respeitava sobremaneira e omitir uma parte tão importante da minha vida me causava desconforto. No entanto, eu temia que ele não me olhasse da mesma forma outra vez.

Apesar da liberdade que eu tinha com ele, nunca conversamos sobre este tipo de assunto e eu não o via ter amigos com a mesma orientação que a minha.

Como eu tinha sido tolo! Ali estava ele, me apoiando como sempre e incluindo Thiago em sua vida.

Sem conseguir ou querer me controlar, joguei-me em seus braços abraçando-o.

− Eu te amo demais, meu pai! – as lágrimas correram soltas por meu rosto.

Só o larguei um longo tempo e vi que seus olhos também estavam marejados.

− Eu te amo demais, meu filho – completou limpando meu rosto.

Continuamos conversando de mãos dadas e poucos minutos depois o quarto foi invadido pelo resto da família. Meu pai fez questão de anunciar a todos que seu genro almoçaria em casa no próximo final de semana.

Minha avó e Ana sorriram orgulhosas e me abraçaram. Minha mãe, contrariando, minhas expectativas, me abraçou também e disse que estaria ali por mim. Que sempre desconfiou, mas não quis invadir a minha privacidade com perguntas indiscretas.

Aquela era minha mãe, preferia se manter distante, mas eu a amava mesmo assim.

Davi murmurou alguma coisa e se jogou em uma das poltronas, continuando a teclar algo que parecia importante, no celular.

Uma leve batida na porta, interrompeu nossa conversa. Sueli entrou pálida no quarto.

− Desculpe interromper... a... a polícia esta lá embaixo e quer falar com a senhora Ana.

Minha irmã estava sentada na cama e vi seu sorriso morrer quando ouviu o que Sueli disse. Ela olhou para nós assustada e sua palidez me dizia que ela tinha feito algo muito errado.

Ana tinha a cabeça quente e nem sempre pensava nas consequências de seus atos. Eu sabia que ela estava no limite com as ações e crimes de Santiago. Envergonhada, ela me contou os limites que rompeu para conseguir a informação de onde estava Felipe, à época em que foi sequestrado.

Minha irmã idolatrava meu pai de tal forma que eu não duvidava que ela tinha feito besteira depois que Santiago se voltou contra ele.

Olhei-a e a percebi trêmula, enquanto Felipe lhe abraçava. Não duvidei de que ela, pensando em nos proteger, tivesse feito ou contratado novamente alguém para tirar Santiago do nosso caminho.

Rezei para que estivesse errado.

***

Meus amores, estou em férias e quero terminar esta semana Marido de Aluguel.

Aguardem, já já tem mais capítulo!