Só um trabalho

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Narração de Felipe

Acordei no meio da noite sem saber ao certo onde estava. Senti o cheiro do lugar, em nada se parecia com o pequeno apartamento alugado que fedia a mofo e poeira onde eu vivi os últimos anos da minha vida. Estiquei o corpo no lençol e nem precisava imaginar quantos fios tinha, provavelmente, todos. Aspirei o travesseiro macio e o edredom.

Era cheiro de casa de rico.

Era a casa de Ana Barrizzi, uma das mulheres mais ricas do país e indicada, várias vezes, pela revista Forbes como uma das mais influentes no mundo corporativo.

E ali estava eu, um ator em decadência, falido, com quase trinta anos, rejeitado pela maioria das redes de televisão, deitado em sua cama. Sua cama, reforcei e um calor percorreu meu corpo. Ana já tinha se deitado ali. Seu pequeno corpo já tinha deslizado naqueles lençóis.

Um pensamento incomodo atravessou minha mente. Ela tinha estado com alguém ali, naquela cama, onde se deitaria comigo?

Balancei a cabeça irritado. Aquilo não me dizia respeito. Ana não era uma donzela do século XVIII a procura do seu príncipe encantado.

Quando minha agente me disse que esta mulher queria propor um trabalho, jamais imaginei que fosse algo do tipo. Ao assinar o contrato de sigilo, após ter aceitado me casar por contrato com Ana, eu tive a certeza que mesmo que contasse a alguém, seria, automaticamente, desacreditado. Quando uma mulher como ela se embrenharia neste tipo de situação?

Só compreendi parte daquela história no jantar ao ver como ela tinha reagido com o tal Santiago. Ao ver suas mãos trêmulas, não pensei, apenas agi trazendo-a para a minha e me surpreendi com o quando estavam frias. Ela era uma mulher forte e decidida, mas me pareceu estraçalhada ao vê-lo.

Pensar naquele homem fazia minha raiva voltar e minha mão se fechar em punho com sede de socá-lo. Depois da experiência horrível que viveu, ela não se arriscaria a se casar verdadeiramente com outra pessoa. Ficar à mercê de um homem. Todavia, ali estava eu, no mais íntimo de sua casa, compartilhando de suas pequenas coisas.

A imagem de Ana voltou a minha mente. Uma beleza impressionante. Os cabelos escuros terminavam em ondas douradas a emoldurar o corpo pequeno e magro. O rosto delicado ostentava olhos verde escuros que, quando raivosos, pareciam ônix e, quando lacrimejantes, clareavam e ficavam da exata cor de esmeraldas. Senti um aperto no coração quando ela se despediu a noite indo para o escritório com os olhos marejados. A vontade foi puxá-la para meus braços e não deixa-la partir.

Todavia, me freei a tempo. Eu estava ali apenas por um contrato, não fazia parte de sua vida realmente. Não era meu papel ampará-la e intui que ela também não gostaria disso.

A contragosto, aguardei ansioso o momento que ela subiria e se deitaria na mesma cama comigo. Seria um momento para apreciar seu cheiro e sua presença. Espera vã. Ela não apareceu.

Olhei as horas e passava das três. Por que eu a queria ali? Era apenas um negócio, não havia envolvimento pessoal naquilo.

A frase dela dizendo para eu não cometer o erro de me apaixonar martelava em minha cabeça. Porém, aliada a estas palavras, outras vinham a minha mente "algo pode vir a acontecer depois de uma ou duas taças de vinho a noite." Senti-me infantil ao esperar "a noite". Mesmo que acontecesse algo entre nós seria passageiro. Eu tinha que gravar isso em mim.

Sorri ao pensar que eu mexia com ela. Ana tentou disfarçar quando a toquei, mas era nítido que seu corpo reagia ao meu. Deixei a mente divagar e me imaginei provando o gosto de sua boca. Adormeci e acordei com o corpo queimando de desejo.

Marido de aluguel [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora