E se...

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Narrado por Felipe

O sol, preguiçoso, lançava seus primeiros raios para clarear o céu oriental que eu via pela grande janela do quarto.

Agradeci por termos esquecido de fechar as cortinas e ralhei com o astro rei para que fosse mais rápido e iluminasse os contornos da mulher que dormia tão serena do meu lado.

Como era linda, pensei pela milionésima depois de ter acordado há alguns minutos.

Ana fazia meu corpo ferver e pouco tinha a ver com suas deliciosas curvas. O modo como dobrava os lábios quando pilheriava, o bater de cílios quando ficava curiosa e, o mais fofo, as delicadas covinhas que surgiam, assimétricas, em suas bochechas ao gargalhar.

Como era bom fazê-la sorrir daquele jeito. Eu ficaria ouvindo fácil o barulho do seu riso por horas.

Contentei-me em acariciar as mechas escuras que faziam desenhos surrealistas no lençol colorido da cama. Eu não queria acordá-la ainda. Vê-la ali, entregue e delicada, era uma visão magnífica.

Os momentos que vivemos aquela noite ficariam marcados em minha mente e em minha pele. Eu ainda podia sentir o suave toque de Ana em todo o meu corpo e quando, satisfiz seu desejo, e deslizei para dentro dela sem nenhuma barreira, eu conheci o verdadeiro sentido de ter alguém plenamente.

Ao pensar nesta intimidade recém adquirida senti um frio no estômago. Não tínhamos sequer pensado nas consequências de um ato assim.

E se Ana engravidasse?

O pânico tomou conta de mim, meu coração acelerou e minha respiração ficou irregular. Um filho! Uma criança!

Não! Eu jamais iria ser pai. Não iria replicar o que o meu tinha feito, abandonando minha mãe e só aparecendo para pedir dinheiro quando minha carreira decolou.

Como eu poderia ser um pai se nunca tive nenhum modelo de um para seguir? Além disso, pensar em uma criança trazida por mim ao mundo, exposta a todos os perigos que um dia eu vivia, me apavorava.

E se eu não conseguisse protegê-la das maldades do mundo? E se ela vivesse qualquer fagulha do que eu tinha sofrido, eu jamais me perdoaria.

Balancei a cabeça, afastando tais pensamentos, procurando me acalmar. Ana, com certeza, se protegia de outras maneiras e não iria querer engravidar logo de mim.

Eu era apenas um contrato de trabalho para ela. Ana não se arriscaria a criar um laço eterno comigo.

Como se pressentisse minha inquietação, ela se virou na cama e ficou de frente a mim.

Não me mexi, com o corpo ainda trêmulo dos pensamentos anteriores. Ela suspirou e continuou dormindo serena.

Aproveitei para admirar seu rosto delicado, os lábios entreabertos convidativos.

Perdi-me olhando para ela e construir uma família com Ana, não me pareceu algo tão assustador.

Onze meses! O tempo martelou em minha mente esmagando qualquer sonho que eu poderia ter.

Onze meses! Aquele era o prazo do nosso contrato, nem um dia a mais. Ana precisava de mim para um fim específico, ela deixou tudo muito claro no primeiro dia.

Nossa intimidade era coisa do momento, uma atração sexual gigantesca que havia nos arrebatado. Todavia, não passava disso, atração!

Eu não poderia me esquecer disso, me apaixonar por Ana não estava no contrato, não era o combinado.

Passei a mão pelo rosto desanimado. Seria tão fácil deixar-me levar e me envolver completamente nesta relação...

Os cílios escuros tremeram e ela abriu os olhos, me fitando como se adivinhasse tudo o que se passava em minha mente. Aquele contato pareceu durar horas.

− O que te preocupa, Felipe? - sussurrou com tanta intensidade que abri a boca para compartilhar com ela o que me afligia.

Antes que qualquer palavra saísse, fui hipnotizado por seus lábios avermelhados. Naquele instante eu soube que tinha me perdido, não havia volta para o que começava a brotar em meu peito por Ana.

Curvei-me sobre ela e a tomei em meus braços. Nosso tempo era escasso, mas eu faria cada segundo durar para sempre.

Marido de aluguel [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora