Para sempre Dubai part 2

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− O que tem de errado com barcos? - questionei me virando dentro do abraço de Felipe para olhá-lo.

Ver o rosto másculo, iluminado pelos primeiros raios de sol, tão perto do meu me causava arrepios deliciosos. Saber que aqueles lábios provocavam tantas sensações delirantes me fazia estremecer.

Tínhamos dormido pouco e transado quase a noite toda. No entanto, aquela vontade de me manter com ele parecia apenas renovada e não saciada, mesmo após três dias juntos naquela cidade.

− Como o que há de errado? Barcos afundam! - enfatizou o óbvio.

A minha gargalhada assustou até a mim mesma, fazendo-me sacudir em seus braços. Eu o tinha convidado para um passeio de barco por algumas ilhas próximas.

− Aviões caem, carros batem, mas nem por isso deixamos de usá-los.

− Eu sei! - riu me acompanhando - mas continuo odiando barcos.

Recebi o sorriso mais doce e, quando me dei conta, estava retribuindo. Sem resistir tomei a iniciativa e procurei seus lábios com os meus.

Dedilhei a pele delicada de seu rosto e emaranhei meus dedos em seus fios sedosos.

O beijo delicado se estendeu. Sem pressa e com sentimentos que eu me recusava a admitir.

Ao contrário das outras vezes, o desejo avassalador ficou adormecido e a calmaria se instalou.

Ficamos ali. Trocando carinhos delicados por um longo tempo, em silêncio.

− Ana! - sussurrou - eu to criando coragem para te perguntar uma coisa a muito tempo.

Meu coração falhou uma batida. O que Felipe queria me perguntar? Rezei para todos os santos e deuses que conhecia para que ele não envolvesse sentimentos em sua questão. Eu estava confusa demais até para pensar no assunto. Só queria viver aqueles dias com ele.

− Hum - não consegui dizer mais do que isso sem correr o risco de mostrar o quanto estava afetada com as múltiplas possibilidades que se abriam à minha mente inquieta.

− Promete que não ficará brava? - sua voz se infantilizou e tive que sorrir.

− Fale logo! - ralhei.

− Desde a primeira vez que estivemos aqui transamos sem camisinha. Não tem perigo de você engravidar?

− Não, não tem - expliquei - desde os meus dezessete anos eu uso Diu. Acho um método menos agressivo do que ingestão de hormônios e nunca confiei só em preservativos. Acho que uma gravidez tem que ser muito bem planejada e eu nunca quis dar chance de isso acontecer por descuido meu.

− Hum...

− Sei o que esta pensando - interferi - não, eu não transo sem camisinha por aí. Fiz isso uma vez quando ainda era adolescente e nunca mais dei chance para o azar...

− Por que comigo foi diferente? - questionou e senti sua voz vibrar de um modo diferente.

− Eu não sei. Confesso que não parei para pensar nisso. Eu só tive vontade e como fizemos aqueles exames pré-nupciais, eu tinha a garantia de que não transmitiríamos doenças um para o outro.

− Verdade! Nem me lembrava disso! - interveio surpreso.

− Agora eu que lhe pergunto! - virei para ele assombrada - você transa por aí sem camisinha com qualquer uma?

− Eu?

− Não, minha avó! - comecei a ficar irritada.

− Não, Ana! - explicou deslizando os dedos pelos meus cabelos - tirando a namoradinha que tive na adolescência, você foi a única e você não é qualquer uma.

Meu coração se encheu de um calor agradável e tive que perguntar.

− Por que aceitou comigo?

− Eu não sei... - foi reticente e me imitou - não parei para pensar sobre isso.

E ali terminou aquela conversa. Tínhamos chegado em um terreno perigoso onde a exposição de nossos sentimentos um ao outro e até a nós mesmo seria a próxima etapa. Em um acordo silencioso preferimos deixar de lado.

− Vamos fazer compras? - perguntei para quebrar o clima estranho e saindo da cama - e agora que você fala um pouco de árabe, trate de negociar os preços.

− Ué, mas você é rica! Quer pechinchar? - riu-se, mas se levantou também.

− Claro! Esta é a diversão das compras - sorri de volta.

Em poucos minutos tínhamos tomado banho e nos encontrávamos vestidos diante do elevador para sair.

− Você fica absolutamente linda com este véu - me elogiou pela primeira vez. Meu coração deu saltos de felicidade.

− Obrigada! - sorri tímida. Por algum motivo me senti uma garotinha sendo elogiada.

Andamos pelas ruas de Dubai, entramos em diferentes feiras e acabamos comprando vários tecidos e algumas joias. Eu gostava do design deles, mas tinha outras ideias para tornar minhas peças únicas naquele mercado competitivo. O fato das pedras serem brasileiras chamava bastante a atenção, mas não seria o único fator para vender.

Sorri feliz por saber que nos próximos meses eu estaria trabalhando no que mais gostava: desenhar peças originais. Os números dançavam em minha mente quando pensava que cada pequena pedra teria que ter cada cantinho medido e pensando para se encaixar em um molde perfeito. Só depois a peça poderia ser colocada a venda.

Enquanto revirava algumas peças em uma das bancas, um pequeno chaveiro em formato de barco me chamou a atenção. Era uma peça delicada, olhei com cuidado e reconheci a pedra sodalita. As manchinhas brancas davam suavidade à peça.

Enquanto a examinava um vulto chamou minha atenção e virei para olhar. O mundo parou e eu entrei em choque. Era Santiago ali.

− Ana!! - o grito de Felipe me fez olhar para sua direção instintivamente.

Quando voltei os olhos para a direção onde o tinha visto não havia nada. Procurei entre a multidão e não o vi novamente.

Será que eu estava entrando em uma neurose e imaginava coisas?

− Olha que lindo! - Felipe chegou afoito me mostrando uma gargantilha em ouro e rubi - Esta tudo bem?

− Sim... acho que sim... - murmurei ainda a procura de Santiago.

Não havia ninguém com sua fisionomia ou sequer parecido com ele ali. Deixei meu coração desacelerar e forcei-me a acreditar que fora apenas uma ilusão. Decidi que o melhor era nem comentar com Felipe, mais tarde eu pediria à minha segurança para verificar se Santiago tinha ido para ali.

Recriminei-me por ter baixado a guarda. Se eu soubesse que ele esteve ali, faria o que há muito estava pensando e colocaria uma vigília sobre ele.

Suspirei várias vezes e voltei-me para o objeto que Felipe me mostrava. Realmente era belíssimo.

− Você tem um olho bom para joias - elogiei - vamos leva-la também. E este é para você.

Entreguei o pequeno chaveiro e ele deu risada ao reconhecer o barquinho.

− Desse eu gosto! - enfatizou.

Sorri de volta pensando no quanto era bom ter a companhia de Felipe. Por um segundo desejei que aqueles dias ali se estendessem pela vida inteira.

Mal sabia eu que as próximas decisões fariam com que eu carregasse culpa enquanto vivesse.

Marido de aluguel [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora