Protegida

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Narrado por Felipe

Eu via as luzes cortarem a escuridão da noite com rapidez, enquanto o carro voava pelas ruas desertas. Ana estava sentada do outro lado do banco traseiro imersa em pensamentos e silenciosa desde que saímos do clube.

Quando ela avisou que iria pegar uma bebida, meus olhos acompanharam a delicada silhueta por entre a multidão. Depois do nosso beijo eu não conseguia me desconectar dela.

Vendo-a se afastar, percebi que desejava beijá-la desde o instante em que a vi sentada atrás daquela mesa com pose formal, no escritório. Após a proposta insana de um casamento por contrato, racionalmente compreendi que deveria manter distância para não me apaixonar.

Emocionalmente tudo o que eu queria era provar seu gosto.

Ana jamais olharia para mim de outra forma que um negócio. Ela vivia em um outro mundo, um mundo no qual eu jamais me encaixaria. Qualquer homem do seu círculo era mais adequado do que eu para estar ao seu lado.

Sua família tinha razão. Quem eu era perante todos eles? Quem eu era perto de Ana Barrizzi? Não havia nada que eu pudesse lhe oferecer.

Eu percebia que ela estava atraída sexualmente e deixou claro, no primeiro dia, que algo assim poderia acontecer, mas também foi categórica ao dizer que não se envolveria.

Em nenhum momento eu tinha sido iludido.

Cada instante passado com ela fazia aquela vontade de provar seu gosto aumentar.

Vi a oportunidade naquela noite, uma desculpa perfeita para beijá-la.

A intenção era apenas capturar seus lábios e deslizar a língua suavemente por sua boca, experimentando.

No entanto, a conexão foi imediata. O desejo e a atração fizeram com que eu esquecesse qualquer coisa além do seu corpo colado ao meu.

Meu cérebro traçou as inúmeras possibilidades para aquela noite e em todas elas acabaríamos na cama.

Lucas era um cara legal, mas tive ímpetos de matá-lo quando ele nos interrompeu. Eu poderia beijá-la para sempre.

Pensava em tudo isso enquanto ela se afastava e senti um arrepio gelado quando vi o tal Santiago interpela-la.

Não pensei, apenas agi. Voei até onde estavam. Não ouvi o que ele dizia, mas entendi que ele a obrigava a acompanhá-lo.

Os mesmos arrepios voltavam agora quando eu pensava no que poderia acontecer se eu não tivesse chegado a tempo. Onde Ana estaria e em quais condições físicas e emocionais?

Minha mão, que coçava para soca-lo desde que ela me contou a agressão, agiu antes que eu pudesse pensar. Puxei-a pelo outro braço e quando ele se virou desferi o primeiro golpe.

O segundo veio em seguida e já me preparava para outros tantos quando senti me puxarem para longe dele. Insisti em atacá-lo quando dedinhos gelados e trêmulos me fizeram interromper qualquer coisa e olhar para trás.

Ana tinha os olhos esbugalhados, tremia toda, mas não chorava. Puxei-a para mim, protegendo-a com meu corpo. Saímos cegos de lá. Seus seguranças só chegaram minutos depois e também tive vontade de arrebentá-los.

Por que não a tinham protegido? Incompetentes!

Mantive-a comigo até o carro aparecer e entrarmos. Ela se sentou primeiro e se manteve o mais longe possível de mim. Respeitei seu espaço e também me fechei no silêncio.

A viagem foi muito rápida, mas a sensação era de que já tinha se passado uma vida desde que a vi naquele vestido mais cedo, antes de sairmos.

− Eu... eu vou para o escritório... - começou e sua voz ainda tremulava, abri a boca para retrucar, mas ela ergueu a mão pedindo que não continuasse.

Apenas se afastou. Subi as escadas pensativo. Duvidava que ela fosse para a cama. Claro que eu tinha noção de que, especialmente, naquela noite, nada aconteceria entre nós. Porém, a queria perto e imaginei que ela também quisesse companhia.

Outra vez me enganava.

Subi as escadas com o peso da solidão sobre os ombros.

Marido de aluguel [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora