Capítulo 4.

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Ádria Mitchell

A manhã seguinte seguiu como o esperado: mais aulas novas, algumas pessoas me fazendo perguntas na tentativa de me enturmar, e eu passando a maior parte do tempo lendo ou prestando atenção em coisas aleatórias.

Ao fim das aulas Austin queria ir logo para casa pra poder fazer alguma coisa entre tomar banho e sair e os amigos novos dele no futebol. Não me lembrava direito já que ele havia dito enquanto me apressava em direção a Juju, e insistia que eu deveria parar de fumar "drogas" antes de entrar no carro dele. Não quis entrar no mérito da mesma discussão sobre ser apenas uma planta, então concordei e pedi para que ele me deixasse na cafeteria antes de correr pra casa, e assim ele fez.

Entrei na cafeteria sem fome, então segui logo para as grandes estantes na esperança de encontrar algo diferente do que eu estava lendo nos últimos dias. Olhei em direção aos menores e puxei um pela lombada, tendo uma surpresa; era um livro que eu já havia lido na infância, para um trabalho de literatura que uma professora que eu odiava havia pedido.

As vezes é engraçado a forma como coisas ruins acabam resultando em coisas boas mesmo sem ter a menor noção disso. Me lembro de discutir com a professora depois que ela disse que não poderíamos escolher livros macabros e inapropriados para fazer o trabalho. E com isso, ela queria estritamente dizer que eu não podia escolher livros de terror, já que isso era contra os princípios religiosos dela.  Mas a parte boa era que havia sido o primeiro trabalho que eu havia conseguido apresentar em frente a turma sem gaguejar ou sem ficar tão nervosa a ponto de sentir meu corpo todo tremer.

Estava confiante porque havia de fato lido o livro, e havia de fato gostado dele.

Após me sentar em uma das mesas, sequer tive minutos para abrir e folhear as páginas, antes de sentir a silhueta de alguém parado ao meu lado. Levantei a cabeça e o mesmo garoto que havia me enchido de perguntas estava agora a minha frente, lendo o título do meu livro.

De novo.

— As memórias de Eugênia?

— Francamente, você não tem mais absolutamente nenhum passatempo além de importunar pessoas em livrarias?

Ele sorriu.

— Na verdade, não tenho. É obre o que?

O encarei mais firme. Algo em sua petulância parecia me irritar profundamente, mas ao mesmo tempo eu me sentia intrigada com o que ele queria dizer com as suas perguntas exageradas e nada pertinentes.

— Se eu te contar, já estarei entregando toda a história — Respondi com calma.

— Não me importo.

— Sobre uma árvore — Respondi já esperando uma expressão de tédio em seu rosto e eu estava de fato certa — Eu sei o que pode parecer, mas garanto que é uma boa história.

— Você já o leu inteiro?

— Já sim.

— Você le Raphael montes e John Green, e também le livros repetidos sobre árvores. Você parece um pouco estranha. Não de uma forma ruim, não me entenda mal.

— De qual forma então?

— Eu te acho diferente, não estranha. Mas ainda é cedo para tirar conclusões.

— Desculpa, quem seria você mesmo? — Perguntei sentindo um pouco da minha paciência se esvair.

— Me chamo Jones.

— É um nome estranho — Respondi satisfeita, mas não era verdade. Jones era um nome comum, o meu nome que era estranho.

— Não acho estranho. Qual é o seu?

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