Ádria Mitchell
Era óbvio que eu não estava animada para fazer grandes mudanças na minha vida, mas como eu costumava dizer: estava conformada.
Acreditava que estar conformada era o mais próximo que eu poderia chegar de dizer que eu estava plenamente confortável com alguma situação — na qual eu definitivamente não estava.
A notícia de que finalmente meu pai havia conseguido um emprego melhor chegou até nós há cerca de três meses atrás. E foi assim, como num passe de mágica: ele nos anunciou, ficamos todos empolgados e tivemos três meses para embalar tudo o que um dia foi nosso, entrar em um caminhão e viajar horas e horas de estrada até chegarmos em uma cidade que não era nem ao menos metade da que estávamos acostumados.
Mas como já havia dito, conformada. Eu não iria fazer um show porque estava deixando minha vida medíocre de adolescente para trás. Não era como se houvesse algo que realmente me fizesse querer ficar onde eu estava.
— Conseguiu se instalar? — Meu irmão perguntou ao aparecer na porta do meu novo quarto. O chão estava uma imensa bagunça, cheio de caixas e roupas espalhadas.
Austin era meu irmão gêmeo dez minutos mais velho, e facilmente ganhou o cargo de pessoa que eu mais amava no mundo. Era a única pessoa que eu tinha plena convicção que se eu matasse alguém, ele iria até o inferno comigo para me proteger. Éramos opostos não só fisicamente, como nossa personalidade era tão diferente que se não fosse por seus olhos — do mesmo tom de azul que os meus — poderia dizer que haviam o trocado na maternidade.
— Mais ou menos — Respondi parando no meio do quarto com as mãos na cintura.
Haviam caixas para todos os lados, objetos embalados em grossas camadas de plástico bolha, malas e sapatos sem os pares espalhando a pelo chão.
— Odeio bagunça, mas ainda não consegui pensar em como arruma-la — Continuei dando ombros — E Austin, olha a cor desse quarto, isso era para ser o que? Bege? Amarelo sujo?
Meu irmão riu.
— Não acredito que está dando uma de filha mimada, Ádria — Ele disse me fazendo sorrir também — Ele ainda é maior do que o meu, mas eu também detesto essa cor bege, parece que está sujo. Está em todas as paredes.
— Está sujo — Afirmei olhando em volta.
— Veja pelo lado bom — Ele começou seu monólogo com uma cara amigável — Você sempre quis estudar em uma escola melhor, e terão uniformes!
Eu sorri novamente com aquilo, pois era verdade. E por mais estranho que possa parecer, eu adorava uniformes. Era muito mais fácil se camuflar na multidão do que escolher uma roupa para poder fazer isso todos os dias.
— E vamos estar em uma situação mais confortável financeiramente.
— É verdade — Concordei — Posso começar com os pontos negativos agora? Porque é assim que funcionamos, você é o positivo.
— Não senhora. Ah, se quiser, ainda essa semana podemos ver opções de tinta e decoração.
Arqueei uma das sobrancelhas o encarando.
— Você odeia essas coisas.
— Sim, mas eu odeio ainda mais esse bege. E ter que encarar o bege enquanto escuto você reclamar definitivamente não está no ponto alto dos meus dias.
Ambos rimos.
— Palhaço. Mas sim, eu concordo, podemos comprar uns quadros e talvez papel de parede.
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E Foi Assim, Como Nos Livros! 🍁
Roman d'amourO que você faria se uma garota quieta te chamasse atenção em uma livraria? Ou, o que faria se o garoto intrometido viesse a ser alguém que lhe faria se sentir segura mesmo em momentos assustadores? E quem diria que a garota aspirante a escritora ser...