Fiquei no quarto sozinha. Estava um pouco cansada da viagem. Não estava acostumada com o
fuso horário. Era para ser noite, mas, ainda estávamos no horário de almoço.
Deitei sobre a cama ainda de toalha e resolvi descansar um pouco. Que mal faria em dormir?
Já que meu cliente me dispensou na cara dura. Eu ainda estava remoendo aquilo por dentro. Mas
quer saber? Foi melhor assim. Vou ganhar uma fortuna e nem precisarei ficar gemendo e
fingindo que estou gostando. É um saco isso.
Peguei o travesseiro super confortável, coloquei entre as pernas e capotei.
Acordei com um toque suave. Quando abri os olhos, Adrian estava sentado ao meu lado me
olhando fixamente. Ele tinha sua mão em meu braço.
— Srta. Sandler – ele sussurrou. — Anabeth está aqui para tirar as suas medidas – disse
cauteloso.
— Desculpe-me. Adormeci por mais tempo do que deveria – tentei me desculpar. Não sei o
que deu em mim. Não me sentia tão cansada assim há muito tempo.
— Não tem problema – ele sorriu. — Vou pedir para que entre imediatamente. Tenho uma
reunião a noite e você virá comigo.
Jura? Esse homem não dorme? Estava visivelmente cansado, ainda sem camisa e só de calça
social. Pelo visto, ficou trabalhando até agora.
Assenti com a cabeça e me levantei. Ele saiu em passos largos e momentos depois voltou com
uma moça loira, muito bonita que aparentava uns 38 anos. Ela me olhou de cima a baixo e torceu
o nariz. Pelo visto, minha passagem por aqui será interessante.
— Ana, quero que tire as medidas da Srta Sandler e a vista com trajes formais. Nada de
decote, roupas muito justas ou curtas – ele disse.
— Sim Sr. Miller – a mulher sorria fazendo transparecer uma satisfação que eu via que não
existia.
Dito isso, ele se virou e saiu do quarto.
— Verônica, não é? – a mulher disse sorrindo.
— Sim.
— Tem alguma cor específica?
— Não entendi.
— A cor de sua roupa. Alguma específica? – tornou a perguntar.
— Não faço ideia dos gostos do Sr. Adrian. Então, vou ficar por sua conta – disse.
A mulher me deu um sorriso falso e então se aproximou. Começou a tirar as medidas e disse:
— Não sei se consigo algo muito sofisticado assim tão em cima da hora. Estávamos todas
prontas para receber outra mulher um pouco mais magra. Teremos que começar do zero – ela
disse um pouco sem paciência.
— Outra mulher?
— Sim. Parece que a mulher que o Sr. Miller viria, desistiu de última hora – disse passando a
fita métrica na minha cintura.
Isso explicava a súbita presença dele e o desespero em me trazer assim tão depressa.
— Você trabalha para ele há muito tempo? – perguntei com curiosidade.
— Sim. Sr. Miller é um homem bom. Eu conheço todos os tipos de mulheres com quem ele
sai. E só vou te adiantar uma coisa, não pense que terá alguma chance com ele – ela disse num
sussurro.
— Está equivocada. Estou aqui porque fui contratada para acompanhá-lo. Mais nada –
respondi seca. Que mulher abusada! Se está tão irritada, talvez seja por que é apaixonada por ele.
— Pronto. Terminamos. Daqui algumas horas, pedirei para que lhe entreguem seu vestido de
hoje e algumas lingeries. Amanhã pela manhã, enviarei outras roupas que irá precisar.
— Obrigada – respondi a contra gosto. Não fui com a cara dessa mulher. Algo me diz que o
sentimento é recíproco.
Quando Anabeth saiu, Adrian entrou no quarto e perguntou se estava tudo bem. Assenti com a
cabeça e ele saiu.
Havia uma tensão estranha. Isso era novo para mim. Claro que já fui contratada por muitos
homens que queriam minha companhia para eventos, reuniões, festas... Mas, no final, sempre
acabava na cama com o sujeito. Era para isso que nós servíamos – para entretê-los. Com Adrian
estava apreensiva, afinal, não estava entendendo o porquê dele me pagar uma quantia
absurdamente alta, apenas para desfilar comigo por toda Nova Iorque. Mas, como já dizia a
minha mãe: “tem louco para tudo nessa vida”.
Depois de algumas horas, Adrian entra no quarto trazendo algumas sacolas e algumas caixas.
Pelo visto, eram as roupas compradas por Ana.
— Sairemos daqui uma hora. Esteja pronta até lá – disse colocando tudo sobre a cama. — Vou
tomar um banho. Se precisar de qualquer coisa, é só pedir para o serviço de quarto. E então,
entrou no banheiro, fechando a porta em seguida.
Com curiosidade, abri cada sacola. O vestido creme longo que estava embrulhado numa
enorme caixa levava a etiqueta da Armani. Era elegante, fino e extremamente luxuoso. Ele tinha
apenas uma alça que transpassava as costas, cheia de pedrarias, e no busto, bojos. Na parte de
baixo, uma fenda que vinha até o meio das coxas. Depositei o vestido com cuidado de volta a
caixa para não amassá-lo. Deve ter custado uma fortuna. Nas outras sacolas haviam joias,
lingerie e uma clutch dourada. Aonde quer que seja esse evento, será um evento e tanto a julgar
pelos trajes propostos. Minha barriga deu um nó tão grande que me deu vontade de vomitar.
Estava acostumada com festas, mas isso? Não sabia ainda extensão e estava totalmente
apavorada.
Quando a porta do banheiro se abriu, vi um lindo Adrian sair enrolado numa toalha branca
com o peito ainda molhado. Voltei a ter aquele sentimento estranho. Aquela vontade de correr e
tocá-lo.
Ele me olhou um pouco sem graça e disse:
— Desculpe por isso. Pedi para que reservasse duas suítes. Mas, houve algum engano na hora
e acabou por termos que ficar no mesmo quarto.
— Sem problemas – sorri. — Precisa que eu saia para se trocar?
— Se puder me dar licença, ficarei grato – ele devolveu o sorriso.
Após algum tempo, Adrian aparece na sala de estar e me deixou totalmente sem fôlego.
Vestido num lindo smoking preto, cabelo desalinhado, estava me arrancando suspiros. Estava
incrivelmente sexy .
— Estarei te esperando no lobby do hotel. Assim poderá ficar mais a vontade para se arrumar
– disse olhando em meus olhos fixamente. Apenas com um olhar, Adrian conseguiu passar por
mim e atingir-me de tal forma que, eu poderia arrancar sua roupa com selvageria, transar com
ele a noite inteira e ainda devolveria seus cem mil reais. Estava surtando? Sim. Certamente. Mas,
aquele homem conseguiu despertar em mim coisas que nenhum outro homem havia conseguido.
Assim que ele saiu, me dirigi até o quarto para começar a me arrumar. Hidratei meu corpo,
me perfumei e coloquei o vestido, o salto preto, os brincos e o bracelete de ouro e pedras que
estavam dentro da caixa. Fiz uma maquiagem nude. Nada extravagante. Prendi os cabelos com
uma presilha que também veio no conjunto de joias, fiz uma amarração no alto, deixando alguns
fios soltos e desalinhados. Quando me olhei no espelho, suspirei. Eu mesma não acreditava em
meu reflexo. Era a primeira vez que realmente eu parecia uma mulher comum.
Peguei a clutch dourada, e saí da suíte.
Entrei no elevador e apertei térreo. Assim que ele parou, um homem alto e forte, aparentando
uns trinta e poucos anos, me chamou a atenção.
— Good evening, miss – o homem diz com um sorriso torto tão intimamente que parecia que
nós nos conhecíamos. Para não ser mal educada, respondi em tom casual:
— Good evening, sir – respondo e ele me olha de cima a baixo. — Babaca - sussurro e ele me
olha intrigado.
Quando o elevador para ele diz:
— Uma brasileira! Interessante - sorri. — Eu entendo perfeitamente sua língua - ele fala me
fazendo corar.
Saio do elevador em direção ao lobby.
Nada do Adrian. Assim que me aproximo da recepção, um homem vem de encontro a mim e
diz:
— Srta. Sandler? O Sr. Miller a aguarda no restaurante do hotel.
Sua voz era forte e rouca. Pelo traje, deveria ser seu segurança. O homem me acompanhou
até o restaurante. Assim que avistei Adrian, ele estava na mesa com mais seis pessoas. Três
casais.
Aproximei-me sem graça e disse na maior elegância:
— Boa noite.
Adrian me olhou, abriu um sorriso. Levantou-se e puxou minha cadeira para que me sentasse.
Assim que me sentei, ele se aproximou e me deu um leve beijo em minha boca dizendo: —
Você demorou meu amor. Está linda, como sempre – e deu uma piscadinha que quase fez com
que meu coração parasse.
Mas que merda era essa? Meu amor? Ele me beijou? Mas...
Ainda atônita, olhei para ele que apenas sorria.
— Querida, esses são Smith e sua esposa Marie, John e sua esposa Clarisse, George e sua
esposa Caroline – ele disse segurando minha mão. — E essa, é minha noiva, Verônica.
Agora eu entendi. Esse era o seu jogo? Noiva? Mas que merda! Que roubada!
Dei o meu melhor sorriso a todos e simplesmente fiquei na minha. Se for para jogar, então eu iria me aproveitar ao máximo. Agora esse filho da puta me pagaria por ter me dito aquilo mais
cedo!
— Você tem uma noiva muito bonita. É um homem de sorte –Marie falou com sorriso no
rosto.
Eu o senti um pouco tenso, mas logo ele relaxou.
Os homens pediram o jantar e nós mulheres, conversávamos alheia a eles. Marie e Clarisse
eram muito divertidas. Já Caroline, um pouco introspectiva.
Os homens conversavam sobre negócios. Não fiquei atenta a conversa, mas ouvi algo sobre
um evento de caridade amanhã.
Levantei-me da mesa e ao mesmo tempo, todos os homens se levantaram. Fiquei abismada
com a educação de todos.
— Algum problema meu amor? – Adrian disse com cenho franzido.
— Nenhum. Apenas vou ao toillete – sorri.
Com passos largos, andei toda a extensão do restaurante. Pude ver minuciosamente agora,
como o lugar era luxuoso. Lustres de cristais e iluminação fraca. Tudo de excelente qualidade.
Quando avistei o banheiro, entrei.
Meu reflexo no espelho me intrigava. Estava corada demais. Puta merda! Noiva? Esse cara
era louco? Por que ele não me disse antes que teria de posar de noivinha ao lado dele por aí?
Joguei uma água no rosto e retoquei a maquiagem. Tudo bem. Suspirei. Eu podia fazer isso.
Saí do banheiro e por uma grande coincidência, encontro o gato sexy do elevador.
— Você de novo? – ele sorriu bloqueando minha passagem.
— Pode me dar licença? – passei por ele rapidamente, mas, ele me segurou pelo braço
fazendo-me olhar para ele.
— Pode me dizer seu nome? – perguntou com aqueles lindos olhos azuis intensos percorrendo
por toda a minha alma.
— Verônica, agora me solte, por favor – pedi com delicadeza.
— Jason Maxwell – ele sorriu. — Está acompanhada?
— Sim. Ela está – uma voz soou irritada atrás de mim. Quando olhei, Adrian estava com cara
de poucos amigos.
— Queira me desculpar – Jason disse a Adrian. — Achei que a Srta. Verônica estivesse
desacompanhada.
Adrian não disse mais nada. Apenas me puxou pelo braço apertando tão forte que certamente,
seus dedos ficariam marcados em minha pele branca.
Quando estava longe o suficiente, ele disparou:
— Estou vendo que não perde tempo. Cem mil é pouco para você? – rosnou.
— Quem você pensa que é para falar assim comigo? Só não te meto a mão na cara, por que
não quero causar uma cena – disse furiosa.
— Aqui querida, você é minha noiva. Se comporte como tal. Estou te pagando para isso.
Quando voltarmos ao Brasil, poderá dar em cima de quem quiser.
— Você deve estar bem desesperado para pagar mulheres para ser sua noiva. De certo, é um idiota, arrogante, metido a besta que se acha o dono do mundo – cuspi.
Filho da puta. De onde Charles tirou esse babaca? Minha vontade era de sumir dali. O
desgraçado ainda tinha uma vantagem. Eu estava em solo americano. Se me voltasse contra ele,
era bem capaz do desgraçado me deixar aqui mofando até que fosse extraditada.
— Vamos. E se comporte. Charles me disse que era a melhor. Estou vendo que ele não te
conhecia muito bem.
— Vá à merda – resmunguei.
Assim que chegamos à mesa, nos sentamos e voltamos para o habitual. Beber, comer,
conversar e rir. Coloquei a minha melhor cara de paisagem e fiquei ali.
— Já tem uma data para o casamento? – Marie perguntou deixando Adrian desconfortável.
— Não. Ainda não temos – dei um sorriso tímido.
Ficamos ali por mais algumas horas. Os homens já estavam um pouco altos com a bebida.
Adrian parecia mais relaxado e extrovertido. Era um babaca. Mas seu sorriso era lindo. Que
raiva estou desse homem.
Passado algum tempo, os casais se despediram e finalmente eu pude trocar meu sorriso
congelado do rosto para uma cara totalmente irritada.
Quando todos se foram, deixei Adrian para trás e saí como uma criança emburrada. Só queria
ir para meu quarto e dormir. Mais nada. Adrian não me seguiu.
Cheguei à suíte, tirei os sapatos, o vestido e peguei a camisola de seda branca que Ana trouxe
junto com as outras coisas. Tirei a maquiagem, peguei o travesseiro, lençol e deitei-me no sofá.
Mas nem ferrando eu dormiria na mesma cama que aquele bastardo filho da puta. Ajeitei-me
toda desconfortável, e adormeci.
Sonolenta, senti quando mãos fortes me pegaram suavemente. Abri os olhos lentamente e vi
Adrian. Estava me carregando no colo. Estava tão cansada que não protestei. Foda-se. Com
jeitinho, me colocou na cama, afastou uma mecha de cabelo colocando-a atrás de minha orelha
e se afastou. Fiquei esperando a cama afundar ao meu lado. Mas, ele passou pela porta, fechou-
a, e não o vi mais. Talvez ele preferisse o sofá. Que seja.
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ChickLit- Srta. Sandler... Não quero que pense que a trouxe aqui por motivos... Vamos dizer que... - ele ficou tenso. - Está tudo bem? É para isso que está me pagando, não é? - perguntei confusa. - Eu não pago mulheres para transar Srta. Sandler. Geralmente...