capítulo 30

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Adrian Miller
Quando o táxi se afastou e a realidade bateu forte em meu peito, fiquei desesperado. Ela
estava me deixando por outro homem?
Por quê? Porque ela teve de ser tão cruel?
Não consigo entender o que deu errado entre nós. Estávamos bem. Porque essa reação agora?
O aperto no peito foi ficando cada vez maior, a ponto de me sufocar. O nó na garganta era
insuportável. Faltava-me o ar. Ela levou tudo com ela dentro daquele carro. Meu amor, minha
vida, minhas esperanças.
Eu estava perdido.
Arrasado.
Destruído.
Entro em casa num desespero assustador. Eu mesmo não me reconheço. Pego o celular e ligo
para ela. Não pode acabar assim. Não aceito que acabe.
Disco seu número e cai direto na caixa postal.
“Olá, você ligou para Verônica. No momento não posso atender. Deixe seu recado”.
Não sei quanto tempo eu fiquei ali. Caído encostado a porta, apenas ouvindo sua voz suave por
várias vezes na secretária eletrônica. Era como se diminuísse a dor que sentia no momento. A
voz dela parecia estar tão perto. Fechava os olhos e aquilo tudo não era um sonho.
Ela me deixou. Ela não me ama. Nunca me amou.
Não precisava que meu coração sangrasse ainda mais, pois, Já não havia mais sangue nele.
Ele já não batia com a mesma velocidade e nem intensidade de antes.
Só queria que ela voltasse e me tirasse dessa miséria.
Não sei como irei sobreviver sem ela.
Caminhei desnorteado até o bar. Peguei a garrafa de uísque e fui para meu quarto. Eu iria
beber até ficar anestesiado. Quem sabe assim, a dor que sinto aqui dentro, amenizaria. Sei que a
dor não passará nunca, a menos, que eu consiga Verônica de volta.
Ela que não pense que desistirei dela. Não sou um homem que desiste fácil.
Sentado em minha cama, ainda vestido, a bebida passava em minha garganta queimando. A
cada gole que dava para amenizar minha dor, era um flash dos momentos que passamos juntos.
Eu via seu rosto, seu sorriso, o jeito que seus olhos brilhavam quando estávamos juntos, seus
suspiros, seus gemidos, sua boca perfeita, seu gosto... Droga! Acho que vou pirar olhando para
essas quatro paredes, nossa cama, e não tê-la aqui, em meus braços.
Olho para a garrafa agora pela metade. Só preciso de mais alguns goles. Minha cabeça já
começa a girar e sei que terei um dia dos infernos. Mas por hoje. Só por hoje, quero esquecer
que ela me deixou.

***

Acordo com batidas violentas na porta.
— Adrian? Adrian? – a voz vinha atrás da porta.
“Puta merda!”
Minha cabeça dói. Levanto da cama lentamente. Olho para minha roupa. Ainda estou de
terno. Estou horrível. Um caco.
A garrafa de uísque vazia, era a prova da minha miséria. Bebi até perder os sentidos.
Caminhei até a porta e abri.
— Maria? O que foi? – pergunto com a mão na cabeça pois a enxaqueca é insuportável.
— Fiquei preocupada. Já são três da tarde e você não se levantou para trabalhar – ela disse
confusa. — Também não vi Verônica. Onde ela está? Por que está vestido desse jeito?
— Não quero falar sobre isso. Estou bem. Já vou descer – disse para acalmá-la.
Maria saiu do quarto e fechei a porta. Precisava de um banho. Um bom banho e uma dúzia de
comprimidos. A dor em minha cabeça é insuportável.
Depois de um longo banho, coloco minha calça preta de moletom, pego minhas luvas e saio.
Passo pela cozinha apenas para tomar um café forte. Saio sem falar com Maria e Terry que
me observam caladas e vou até o salão de jogos. Preciso extravasar minha raiva. Minha
frustração.
Quando entro no salão e olho para a mesa de bilhar, meus pensamentos voam para o
momento em que eu a possuí. Ali. Nua em meus braços. E lembro bem do momento em que
disse que me amava. Só queria entender, o quanto disso era mentira.
Liguei o som e coloquei minhas luvas.
Eu socava aquele saco com tanta força, que era como se minha vida fosse acabar em um
minuto e para sobreviver, eu dependesse daquilo. Na medida em que socava o saco, a dor só
aumentava. Tentei ser forte. Mas, não consegui controlar meus sentimentos.
Comecei a chorar descontroladamente caído ao chão, levando as mãos à cabeça. A música
Always – Bon Jovi – tocando no ambiente, só me fez pior. Eu chorava como um garotinho
perdido.
De repente, mãos acariciavam minha cabeça.
Terry me olhava com compaixão.
— Ei. Não fique assim – ela sussurrou e chorei mais ainda.
Eu só queria que essa dor passasse logo.
— Adrian, você está me assustando — ela disse.
Eu apenas seguia chorando abraçado a ela.
— O que aconteceu pra te deixar assim desse jeito?
Eu não queria falar nada. Nada. Mas estava me matando não compartilhar essa dor em meu
peito.
— Verônica. Ela me deixou, Terry. Me deixou – disse entre soluços e a abracei ainda mais
forte.
Ela apenas ficou ali. Segurando-me. E agradeci por não estar sozinho naquele momento. Eu
não aguentaria.
— Ela vai voltar Adrian. Ela vai voltar – foi tudo que disse, e mesmo que não fosse verdade,
era tudo o que eu precisava ouvir nesse momento.
Céus... Como eu queria acreditar nisso.

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