Verônica Sandler
Quando olhei para a expressão de Adrian, meu corpo inteiro enrijeceu. Um misto de dor,
raiva e confusão, passava por ele.
— Desculpe – sussurrei inerte.
Adrian veio em passos largos em minha direção e me puxou com violência para fora do
quarto.
— Está me machucando – disse franzindo a testa e tentando fazer com que soltasse meu
braço.
— Nunca mais entre lá. Está me ouvindo? – gritou jogando-me na cama com fúria.
Adrian desapareceu do quarto e segundos depois, abriu a gaveta do criado mudo jogando a
chave e após, fechando-a num empurrão. Ele estava visivelmente desnorteado e furioso.
Ele andava de um lado para o outro do quarto apenas com sua boxer azul marinho. Ele
conseguia ser lindo mesmo furioso. Mas, eu estava tão puta com ele, que simplesmente tentei
ignorar por algum tempo o quanto ele me afetava.
— Era o quarto do seu filho, não era? – sussurrei.
Adrian não respondeu.
— Se vamos tentar algum relacionamento Adrian, precisamos conversar sobre algumas coisas
– digo.
— Não temos nada para conversar – ele olha para mim com a testa franzida.
— Você precisa superar isso – disse indo em sua direção. Puxei-o para mim e toquei o seu
rosto. — Porque não me contou? – perguntei com medo do que poderia ouvir. Se Adrian estava
me confundido com a falecida, então, não queria fazer parte dessa loucura.
— Contou o que? – ele tentou se esquivar, mas eu apenas o segurei mais forte.
— Sobre ela. Sobre sua mulher ser idêntica a mim.
— Vocês não são nada parecidas, Verônica. Exceto, pela aparência – ele disse tentando
manter o controle.
— Você está comigo por causa dela? – uma lágrima rolou em meu rosto. Não puder evitar.
— Não – ele bufou.
— Não minta pra mim – disse olhando no fundo dos seus olhos.
— No começo, sim – ele disse me olhando de um jeito que parecia estar tentando decifrar o
que se passava em minha mente.
No mesmo momento, minhas mãos caíram e relaxei meus ombros. Ele não me amava. Claro.
Ele estava confuso e era ela quem ele queria. Não a mim. Ele apenas estava tentando me
colocar no lugar da mulher por quem ainda nutria um grande sentimento. Se eu ficasse, não seria
mais eu, e sim, a pessoa que ele queria que eu fosse.
— Não posso ficar – disse fechando os olhos e meu coração ficou apertado.
— O que disse? – ele perguntou irritado.
— Não podemos fazer isso Adrian – minha voz falhou. Adrian me afetava e eu o odiava por
me fazer ter acreditado que poderíamos dar certo.
— Podemos sim – ele me olhou triste. — Eu sinto que você pode me tirar dessa escuridão em
que eu estou. Que possa me fazer a voltar a sorrir, a viver... Eu sei disso porque me senti
diferente todos esses dias ao seu lado. – disse me abraçando — Eu não posso fazer isso – repeti as
palavras como súplica. — Não quero que você olhe para mim e a veja ao invés de mim.
— Nós podemos tentar – ele implorou.
— Não.
— É o que você quer? Ir embora e continuar na vida em que estava? – ele elevou a voz.
— Era o que fazia antes de você aparecer – tentei ser impassível.
— Você prefere continuar a ser uma prostituta a ficar comigo? – ele perguntou incrédulo.
— Eu prefiro não me machucar – falei com a voz entrecortada. Adrian voltou a me olhar do
mesmo modo do dia em que me humilhou.
— Realmente – ele me olhou de cima a baixo. — Não sei onde estava com a cabeça quando
achei que gostaria de mudar de vida – disse se afastando de mim e começou a se vestir.
— Você só está fazendo isso Adrian, porque acha que pode preencher o vazio que sente dentro
de você, a perda dela, comigo. Isso não iria funcionar. E no final das contas, eu acabaria
machucada.
Eu o observava enquanto colocava sua roupa com pressa. Se ele ao menos dissesse que estava
enganada, que era eu quem ele queria e não ela, eu faria de tudo para que déssemos certo. Mas
não. Era notório o sentimento dele por ela. E enquanto ele não se libertasse desse sentimento, ele
estaria perdido não só para mim, mas para qualquer mulher que tentasse entrar em seu coração.
E eu, não estava disposta a lutar contra um fantasma.
Eu continuei calada naquele quarto e o silêncio mortal estava me matando. Eu não sabia o que
fazer. Apenas queria ir para minha casa e esquecer que um dia ele cruzou o meu caminho.
Quando ele abriu sua carteira e retirou o talão de cheques, eu fiquei passada. Ele seguia
preenchendo e quando se levantou da cama, veio em minha direção e estendeu o cheque para
que o pegasse.
— Pode depositar quando quiser – ele rosnou evitando meu olhar.
Peguei o cheque de sua mão e a minha raiva apenas aumentou.
— O que pensa que está fazendo? – perguntei furiosa. Ele estava me pagando? Assim? — Não
quero seu dinheiro – torci o nariz.
— É pelo seu trabalho – disse friamente.
— Combinamos cem mil – disse. — Você preencheu cem mil a mais. Acho que se equivocou.
— Não há nenhum equívoco – ele disse com raiva e de forma rude. — O combinado era cem
mil para viajar comigo. Os outros cem, fica pela trepada. Charles havia me dito que você era a
melhor e tenho que concordar. Você fez por merecer – ele tinha um sorriso irônico no rosto. —
Talvez tenha razão. Eu sou um idiota em pensar que poderia ficar comigo. Pelo jeito, você gosta
mesmo é de ser tratada como uma vadia – disse com seu tom cruel.
Essa era a terceira vez que ele me humilhou. E isso só provou minha teoria de que eu não era
importante na vida dele. Eu era como uma tábua de salvação.
Engoli todo o meu orgulho. Eu era uma prostituta? Sim. Mas eu estava perdidamente
apaixonada por ele, a ponto de fazer essa loucura. Mas ele nunca me veria como uma mulher digna dele. E as suas atitudes, só provavam que eu estava certa.
Depois de tudo que ele me disse, ele estava pagando por termos feito amor? Por eu ter aberto
meu coração para ele e quase tê-lo deixado entrar em minha vida?
Quando ele se afastou, eu rasguei o cheque em mil pedaços. Eu não queria aquele maldito
dinheiro. Sai do quarto chorando. Humilhada. Destruída. Eu sabia desde o começo que isso
jamais daria certo. Desci as escadas passando como um foguete ao lado da governanta. Quando
ela me olhou, acho que deve ter sacado alguma coisa. Apenas me olhou com ternura e balançou
a cabeça negativamente.
Não disse absolutamente nada.
Peguei minha bolsa de mão e quando abri a porta da sala para cair fora daquele maldito lugar,
ela diz:
— Não vai levar sua mala?
Eu parei e me virei para ela e disse com a voz embargada pelo choro:
— Não quero nada que venha dele. Nada.
E ela sorriu. A maldita sorriu e eu nem mesmo sabia o porquê. Eu só queria sair dali e voltar
para a minha vidinha de merda.
Como eu pude acreditar que isso um dia poderia acontecer comigo?
Eu não era Julia Roberts e ele não era Richard Gere. É mais ou menos como diz a música
White Horse – Taylor Swift:
… I´m not a princess ( Eu não sou uma princesa)
This ain´t a farytale ( Isso não é um conto de fadas)
I´m not the one you sweep of her feet…( Eu não sou aquela que você quer agradar).
Sai daquela casa decidida a esquecer de que algum dia, ele cruzou a minha vida.
... Uma semana depois...
Passei pelos corredores enormes iluminados apenas por alguns quartos que estavam com as
portas entreabertas. Já era tarde, mas isso não me impediu de fazer uma breve visita a minha
mãe.
Quando cheguei na ALA C, entrei no quarto 23. Ela estava deitada na pequena maca coberta
com lençóis brancos. Um vaso de flores me chamou atenção no aparador do pequeno quarto. A
única pessoa que vinha a visitar era eu. Quem lhe traria flores?
Minha expressão endureceu quando li o pequeno bilhete.
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Em Sua Companhia
ChickLit- Srta. Sandler... Não quero que pense que a trouxe aqui por motivos... Vamos dizer que... - ele ficou tenso. - Está tudo bem? É para isso que está me pagando, não é? - perguntei confusa. - Eu não pago mulheres para transar Srta. Sandler. Geralmente...