capítulo 3

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Acordei ainda desorientada. Esse fuso horário me mata.
Levantei, me higienizei e decidi tomar um banho. Assim que saí, havia um envelope em cima
da cama. Peguei e abri.

Srta. Sandler,
Está dispensada de seus serviços pelo resto do dia. Meu motorista estará a sua disposição.
Apenas esteja no hotel antes das seis da tarde. Temos um evento para comparecer.
PS.: Use o cartão.
A. Miller.

Suspirei.
O que eu farei sozinha em plena Nova Iorque? Olhei no relógio, nove da manhã. Decidi então
correr no Central Park. Mas, me lembrei de que não tinha roupas adequadas. Imediatamente,
peguei o cartão nas sacolas e liguei para Ana. Pedi para que me trouxesse um top, tênis e short.
Pedi também um protetor solar e óculos escuros. Ela protestou de começo, mas, logo após,
concordou.
Em menos de uma hora, o motorista chegou com as roupas. Troquei-me rapidamente e desci.
O top branco colado ressaltava meus seios médios. No elevador, encontrei o bendito gato sexy de
olhos azuis.
— Bom dia Verônica – ele sorriu de lado. Estava lindamente trajado com uma camiseta cinza
e bermuda preta. Também de tênis.
— Bom dia Sr. Maxwell – respondi. Queria ser o mais formal possível. Não queria dar brechas
para ser interpretada de forma errada. Afinal, eu tinha um noivo meio maluco.
— Deveria ser proibida, uma mulher como você, sair sozinha nesses trajes – ele sorriu me
olhando de cima abaixo. Sentime nua perto daquele homem.
— Definitivamente, não dá para correr no Central Park de vestido longo – sorri.
— É. Não dá – ele gargalhou. — Acho que estou com sorte. Também estou indo correr.
Precisa de companhia?
Esse homem era sinal de perigo. Por que será que meus sentidos ficam em alerta ao lado
dele? Mas, por que não aproveitar sua companhia? Seria bom me sentir uma mulher normal. Já
estava cansada dos homens me olharem apenas como um objeto. Pelo menos, esse não sabe o
que faço para ganhar a vida.
— Adoraria – sorri.
Saímos do elevador e nos dirigimos para fora do hotel.
— Eu não conheço muito por aqui – disse um pouco sem graça.
— Então garota bonita, hoje, serei seu guia – ele me olhou com suas sobrancelhas arqueadas
me dando um sorriso que quase parou meu coração. Além de sexy e lindo, também conseguia
ser gentil. O que mais poderia querer?
Andamos lado a lado pela Avenida Madison. Após, seguimos para Quinta Avenida. Como
Nova Iorque consegue ser tão bela?
Conversamos sobre assuntos variados. Descobri que ele é colecionador de carros de luxo. Fala
sério! Assim que chegamos ao Central Park, corremos lado a lado nos divertindo observando as
pessoas em nossa volta. Terminamos nossa corrida ofegantes e totalmente satisfeitos. Jason era
uma excelente companhia.
— Que tal um sorvete? – ele sorriu. Até sorrindo ele conseguia ser extremamente sexy .
— Só se for de morango com chocolate.
— Morango? Hummm – ele fez uma carinha de safado.
— Adoro morangos. De todas as formas.
— Então, o último que chegar paga o sorvete – disse correndo em disparada deixando um
Jason perplexo para trás.
Quando Jason me alcançou, passou por mim sorrindo e disse:
— Essa vai ser a primeira vez que uma mulher me paga um sorvete – e gargalhou disparando
na minha frente. Bandido, trapaceiro, sorri de mim mesma.
Chegando a sorveteria, eu, ainda ofegante, disse:
— Acho que vai ter que pagar. Tenho apenas um cartão – disse balançando o cartão que
Adrian havia deixado no envelope. Rapidamente, ele puxou o cartão da minha mão e disse: —
Adrian Miller? – franziu o cenho. — Seu namorado?
— É – disse um pouco sem graça.
— Vocês não pareciam muito apaixonados – disse me olhando nos olhos.
— Vamos embora? Está um pouco tarde e tenho um evento mais tarde – disse mudando de
assunto.
Jason assentiu e então, caminhamos tomando nosso sorvete até o hotel. Quando passamos pela
entrada, Jason e eu ríamos tanto, que fiquei alheia a todos ao redor. Eu ainda ria quando do nada,
Jason olhou atrás de mim e fechou a cara ficando sem graça. Quando olhei para trás, Adrian
estava me olhando furioso conversando com dois homens. Reconheci o Sr. George, que estava no
jantar conosco ontem.
— Pela cara do seu namorado, ele não gostou de te ver comigo – Jason sussurrou em meu
ouvido.
— Não se preocupa com ele – sorri.
Nesse momento, Adrian se aproxima. Abraça-me afastando meu cabelo para trás e diz em
meu ouvido num sussurro:
— O que pensa que está fazendo? Deveria estar posando de noiva apaixonada e não saindo
com qualquer homem que encontra pela frente.
Seu tom frio me congelou.
— É... Acho que vou nessa – Jason disse ainda sem graça.
— Obrigada pela companhia – disse sorrindo e Adrian, ficou ainda mais furioso.
Quando George e o outro homem se aproximaram de nós, Adrian tirou a carranca da cara e
colocou seu sorriso falso. Olhei incrédula. Eu daria o Oscar para ele de melhor ator. Babaca.
— Boa tarde Srta. Sandler – disse George me cumprimentando.
— Boa tarde, senhores.
— Adrian, amanhã será o aniversário da minha filha Betânia. Caroline insistiu para que os
chamasse para confraternizar conosco. Você e sua adorável noiva – ele sorriu olhando para mim
com simpatia.
— Agradeço pelo convite. Mas, infelizmente, temos compromisso – Adrian respondeu.
— Imagina querido. Podemos ir ao museu outro dia. Eu adoraria comparecer a festa. Caroline
foi muito receptiva comigo – disse sorrindo.
Adrian me deu um aperto tão forte, que tive que manter a compostura para não dar um grito.
— Que ótimo. Vou avisar Caroline. Ela ficará feliz com a presença de vocês – George disse
alegremente.
— Estaremos lá – Adrian disse a contragosto, mas, foi extremamente convincente em não
deixar transparecer sua fúria.
Quando os homens se despediram e foram embora, Adrian saiu me arrastando até o elevador.
Quando as portas fecharam-se, ele gritou furioso:
— Mas que merda foi aquela? O que estava querendo fazer?
— Estava tentando dar uma de noivinha apaixonada – disse com ironia.
— E essas roupas? Onde as comprou? Se é que se pode chamar isso de roupa – ele rosnou.
— Eu fui correr no Central Park. Não dava para correr de louboutin e vestido longo – gritei.—
Qual é o seu problema cara?
— Meu Deus! Se arrependimento matasse, eu estaria morto há essas horas – Adrian estava
uma fera. Soltando fogo pelo nariz.
— Você me deu o dia livre para fazer o que eu quisesse – disse apontando o dedo na sua cara.
— Mas não para ficar se esfregando naquele cara. Pensa que eu não vi? – ele gritou.
— Opa! Espere aí. Que esteja me pagando para fazer de conta que sou sua noiva apaixonada
é uma coisa. Nem nos conhecemos. E esse seu comportamento de homem ciumento não está
combinando com o cenário – disse agora puta da vida. Que cara mais esquisito.
— Eu, ciúmes? Está maluca? – pareceu abismado. Filho da puta, babaca. — Olha a sua volta
Srta. Sandler. Este é um hotel de luxo. Pessoas não se vestem como você aqui. Por acaso viu
alguma mulher seminua andando pelo hotel? –disse com raiva.
Graças a Deus o elevador parou. Assim que abriu as portas, saí em disparada. Ele vinha por
detrás de mim dizendo cada absurdo que me deixou pasma. Agora entendo por que esse idiota
não tem uma namorada de verdade. Ele é extremamente insuportável. Abri a porta da suíte e
entrei deixando a porta aberta para que entrasse. Ele passou numa fúria controlada fechando a
porta atrás de si.
— Estou falando com você Srta. Sandler – seu tom irritante autoritário me fez perder o
controle. Virei-me para ele e disse:
— Vá ver se estou lá na esquina, idiota.
— Não sabia que fazia ponto lá também – ele disse com ironia. Nesse momento, uma raiva
me cegou de tal maneira que quando vi, já tinha plantado a mão na cara do filho da puta.
Adrian me olhou como se eu tivesse duas cabeças. Eu o encarei e não sucumbi. Não iria me
desculpar de jeito nenhum. Ele fechou os olhos como se estivesse tentando manter a calma.
Quando abriu, seu olhar estava totalmente escurecido. Fiquei ali, paralisada esperando pelo pior.
Mas, ele apenas se virou e saiu batendo a porta.
Quando soltei a respiração procurando por alívio, Adrian voltou batendo a porta com força
caminhando em minha direção.
— Olha, eu vou... – não consegui completar, pois, Adrian avançou em mim como um animal
enjaulado. Jogou-me contra a parede da sala de estar me beijando violentamente. Seu beijo era
quente e possessivo. Ainda aturdida com seu beijo súbito, tentei afastá-lo, mas seu corpo era
pesado demais. Ele tinha brincando 1,90 de altura contra meus 1,70. Não seria nada fácil me
desvencilhar desse homem.
Quando ele desacelerou seu beijo, e afastou momentaneamente seus lábios dos meus, pude
respirar com normalidade. Uau! Que homem intenso. Foi tudo tão rápido que mal percebi que
suas mãos estavam passeando por todo o meu corpo.
Ficamos olhando ofegantes um para o outro em silêncio. Eu conseguia sentir sua ereção do
modo que me segurava. Ele levou suas mãos em meu rosto me fazendo olhar em seus olhos.
Quando nossos olhos se conectaram, ele disse num sussurro: — Me perdoe.
— Pelo que está se desculpando Sr. Miller? – eu perguntei, mas já sabia a resposta. Eu queria
ouvi-lo dizer.
— Por tê-la ofendido.
— Não espere que me desculpe pelo tapa – disse baixinho.
— Não. Claro que não – disse e me beijou novamente.
Seu beijo agora era lento e paciente. Passei os braços envoltos ao seu pescoço e o puxei mais
para mim. Meu corpo todo estava em chamas por esse homem. De repente, ele se afasta como
se tivesse acordado de um transe. Olha-me confuso e diz ajeitando a gravata: — Pedi para
Anabeth para que trouxesse seu vestido para o baile de hoje à noite. Está em cima da cama. Vou
tomar um banho e descansar um pouco. Fique à vontade – disse formalmente e saiu me deixando
encostada na parede ainda tentando absorver o furacão Adrian Miller que passou por mim. Fiquei
atônita com sua súbita mudança. Esse homem quer me enlouquecer.
Enquanto Adrian tomava seu banho, resolvi separar minhas roupas para hoje à noite. Como
estava curiosa, abri o saco que estava embalando o meu vestido. Puxei o zíper e dentro, um lindo
vestido vermelho. Retirei-o com cuidado. Era um tomara que caia justíssimo com uma fenda
lateral. Adrian não vai gostar nadinha. Não mesmo. E só de saber que ele não aprovaria, me deu
vontade de sorrir. Anabeth estava querendo me ferrar com ele, ou, ela estava querendo ser
demitida. Mas eu queria agradecê-la porque o vestido era simplesmente magnífico.
Numa outra caixa, uma sandália elegante dourada com pedrarias. Na outra, mais joias.
Quando separei tudo, Adrian me sai do banheiro com a toalha enrolada em seus quadris
revelando seu abdômen perfeito. Peguei minha calcinha, uma toalha e entrei no banho. No
chuveiro, voltei meus pensamentos para os beijos ensandecidos do Sr. Adrian. Ainda podia sentir
o gosto de seus lábios nos meus. Seu toque, sua respiração, sua vontade... Não conseguia parar de
pensar nesse homem.
Quando terminei, coloquei minha calcinha vermelha e sai enrolada na toalha. Adrian estava
deitado de bruços na cama, apenas de boxer branca. Céus! Que homem. Tentei o meu melhor
para não ficar ali, parada como uma idiota, babando nas pernas daquele homem. E que bunda.
Meu pai do céu. Vou ter taquicardia se continuar a olhá-lo.

Com cuidado para não acordá-lo, coloquei minha camisola e deitei ao seu lado. Eu estava faminta. Precisava comer alguma coisa. Mas, por hora, só queria estar ao lado desse homem.
Nem que fosse apenas para velar o seu sono. Eu sou uma contradição. Tem horas que ele me dá
nos nervos. Grosso e arrogante. Mas ao mesmo tempo, ele se mostra atencioso e gentil. Dá para
entender?
Adormecemos um ao lado do outro. Quando acordei, Adrian já não estava mais ao meu lado.
Deixou uma nota na cama dizendo:
Passo para te pegar às 19:00hs. Esteja pronta.
Olhei diversas vezes para o bilhete e sorri. Não sabia o porquê de estar sorrindo. Mas me deu
vontade então sorri várias vezes.
Olhei no relógio. Dei um pulo da cama quando vi que já se passavam das 17:30hs. Fui até o
banheiro correndo meio que desengonçada e me higienizei. Meu cabelo estava péssimo. Minha
sorte é que havia secador de cabelo na suíte. Fiz o meu melhor para deixá-lo disciplinado.
Quando terminei, fiz a maquiagem. Batom vermelho e olhos pretos esfumados. Um blush
clarinho e mais nada.
Segui para o quarto e comecei a colocar o vestido. Ele caiu perfeitamente em minhas curvas.
A fenda lateral é bem maior do que o vestido da noite anterior. Muito mais provocante e sensual.
Coloquei o colar e os brincos. Desta vez, deixei com que meus cabelos ficassem soltos. A
sandália dourada me deixou com dez centímetros a mais. Pronto. Eu estava pronta. Peguei a
clutch dourada e me dirigi para a sala a espera de Adrian. Não faltava muito tempo. O relógio
marcava 18:40. Logo Adrian estaria aqui para me buscar.
Depois de alguns momentos de espera, Adrian apareceu magnificamente perfeito.
Novamente de smoking, estava extremamente sexy.
Ele olhou para mim que agora estava de pé em frente a ele e disse:
— Esse é o vestido que Anabeth trouxe pela manhã? – perguntou irritado.
— Sim.
— Não é muito apropriado, mas, ficou perfeito em você – disse com um sorriso.
— Obrigada.
— Vamos. Não quero chegar atrasado.
Saímos da suíte e a limusine já estava a postos nos esperando. Fizemos o trajeto em silêncio.
Adrian evitava me olhar e eu também não deixei transparecer meu interesse nisso. Assim que
chegamos, passamos por fotógrafos e uma multidão. Seja o que for esse evento, é algo muito
importante.
Quando entramos no salão, Adrian me conduziu até nossa mesa. Surpreendentemente, ela
ficava perto de outra mesa a qual, Jason Maxwell estava sentado com uma mulher muito bonita.
Jason me olhou e sorriu acenando com a cabeça. Antes que eu pudesse abrir um sorriso, minha
boca foi coberta pela boca de Adrian que me puxava contra ele.
E não é que essa festa hoje será animada?
— Se pensar em ir falar com aquele babaca, vai se arrepender – ele disse se afastando
friamente. O velho e ranzinza Adrian de volta.
— Pode deixar. Ficarei aqui encenando o papel da noivinha imaculada e apaixonada –
respondi sem paciência.
Esse cara me deixa exasperada. Se ele acha que pode fazer o que quiser comigo por dinheiro,
está enganado.
Minha dignidade não tem preço. Vou mostrar-lhe que o mundo não gira em torno dele.
Babaca.

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