capítulo 29

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Verônica Sandler
Sei que posso estar dando um tiro no pé. Mas não posso deixar ser controlada por ele. Ele está
visivelmente irritado com minha atitude. Infelizmente, não posso fazer nada. Tudo tem um limite.
E o meu já estava transbordando.
Ele se afasta sem me olhar e seu pai o segue. Ótimo. Agora estou sozinha com esse cara.
“Arrumei para minha cabeça”.
— Seu namoradinho não gostou muito em me ver – ele sorri vitorioso.
— Por que será, senhor Maxwell? – pergunto com deboche.
Ele me olha com semblante sério e diz:
— Quase morri sem notícias suas. Não tiro aquele acidente da cabeça. Ver você daquele jeito,
toda machucada, me deixou desesperado. Não tive a oportunidade de me desculpar – ele disse
parecendo sincero.
— Vamos? – digo oferecendo minha mão a ele mudando de assunto.
— Claro.
Entramos no elevador e aperto o terceiro andar. Ele me olha confuso.
— Não íamos para a feira?
— Sim. Mas antes, preciso falar com um certo alguém – digo.
O elevador se abre e saímos em direção a sala de Tony .
— Tony, preciso dar uma palavrinha com a Alana.
— Sim, claro. Vou anunciá-la – ele diz pegando o telefone.
— Não é necessário – sorrio.
Passo pelo corredor e entro em sua sala sem bater. “Até parece que pediria licença para essa
vaca”.
— Verônica? Que prazer em vê-la – ela me olha surpresa com seu olhar de falsidade. — Em
que posso ajudar?
Aproximo-me dela, o suficiente para que ouça minhas palavras e não reste dúvidas do que vou
lhe dizer.
— Vamos, não precisa fazer de conta que está feliz em me ver. Conheço seu joguinho. E
comigo, não vai funcionar – digo ironicamente deixando-a surpresa. — Eu não gosto de você e
sei que o sentimento é recíproco. Portanto, vamos ao que interessa – concluo chegando ainda
mais perto. Coloco minhas duas mãos em sua mesa e me abaixo o suficiente para que meus
olhos fiquem na mesma altura dos seus.
— Eu não sou a Sara. Como vê, estou bem viva. Se atravessar o meu caminho, vou esmagá-la.
Eu também sei jogar sujo. E se não me quiser como o seu pior pesadelo, sugiro que vá procurar
outro homem para dar em cima. Não vou desistir do Adrian. Que fique bem claro isso – digo
com tom assustador.
— Já que estamos no momento sincero, por que não pergunta ao Adrian, quantas vezes ele
esteve em minha cama casado com a Sara? Com você querida, não será diferente. Ops! – ela diz
colocando a mão na boca fingindo surpresa. —Talvez será, minha vantagem agora é que vocês
não têm um filho para me atrapalhar – ela diz toda segura de si. Minha vontade é de arrancar os cabelos dela. Mas mantive a compostura. Ou, tudo se voltaria contra mim.
— Com filho ou sem filho, é a mim que ele ama. E vou fazer o que for preciso para tirá-la do
nosso caminho. Brinque comigo e irá se arrepender – digo me virando em direção a porta. —
Está avisada.
Sujeitinha arrogante. Não vou cair na dela. Adrian jamais me trairia.
Caminho até a sala do Tony .
— Vamos Jason – digo colocando meu melhor sorriso. Mas por dentro, tenho vontade de
gritar.
— Vou com vocês. O senhor Miller me pediu para que os acompanhasse. Ele ligou enquanto
estava na sala da Alana.
Ah! Ótimo. Bem a cara dele.
Jason me olha e ri. Deve ter pensado a mesma coisa.
— Então vamos Tony.
Mal colocamos os pés no Anhembi, vários fotógrafos já estavam posicionados e só conseguia
ver as luzes dos flashes em meu rosto. Jason me puxou para ele enquanto um fotógrafo tirava
uma bela foto para capa de revista.
— Está louco? – pergunto baixinho entre os dentes, fazendo cara de paisagem.
— É loucura querer uma foto com a mulher mais linda do evento? – ele sussurra me deixando
atordoada.
— Ah, não. A não ser que goste de ter sua cabeça decapitada. Adrian vai matá-lo.
Tony passa direto por nós e desaparece.
Entramos logo em seguida. O lugar estava tomado por executivos de terno.
— Minha linda, eu adoraria ficar aqui ao seu lado, mas, o dever me chama. Preciso dar minha
entrevista – ele diz e fico aliviada que não ficará no meu pé.
— Até logo – digo e ele me dá um beijo no canto da minha boca deixando-me desconcertada.
Fiquei rondando o lugar igual barata tonta. É horrível se sentir deslocada. Entrei nos estandes e
assisti algumas palestras. O lugar estava cheio. Impossível encontrar Adrian aqui. Cheguei a ir no
estande da Miller’s, mas, só encontrei o Tony e outros funcionários. Será que ele está me
procurando?
Dou mais uma sondada no salão. Nada do Adrian. Eu começo a ficar irritada com a
possibilidade daquela vaca estar com ele.
Sigo a procura de um banheiro. Passo pela multidão e logo vejo placas sinalizadoras. Quando
estou prestes a entrar no banheiro, ouço uma voz familiar que me fez estremecer.
— Verônica?
Olhei para trás e Charles estava com uma cara nada agradável. Pudera. Devia estar furioso.
“Com tantos lugares, ele tinha que estar justamente aqui?”.
— Senhor Charles?
Minhas pernas pareciam gelatinas. Tentei ser o mais natural possível. Mas, na verdade, estava morrendo de medo de que ele fizesse uma cena.
Ele me empurra para dentro do banheiro fechando a porta atrás de nós. Agora estou frita.
— O que faz aqui? – questiona incisivo. — Por que não atende minhas ligações?
— Senhor Charles, e-eu não...
Droga! Não consigo me expressar e estou ficando ainda mais assustada com o jeito que me
olha. Seu olhar sinistro está escuro. Os olhos verdes deram lugar a raiva e ódio.
— Você é minha, Verônica. Quando eu quiser, quando eu ordenar, quero que venha até mim.
Estou te pagando bem caro para isso.
— Senhor Charles – suspirei procurando forças para dizer a ele o que deveria a muito tempo.
— Eu não vou mais continuar. Vou devolver o seu dinheiro, mas não me peça para continuar.
— Está me achando com cara de idiota? Temos um contrato Verônica. Um contrato que diz
que você é minha propriedade. Minha submissa. Apesar de compartilhá-la com vários homens,
não aceito perdê-la para nenhum deles – ele diz num tom assustador com punhos cerrados me
bloqueando na parede.
— Eu estou namorando, Charles. Não quero mais continuar nessa vida – digo com medo do
que ele pudesse fazer. Mas, digo assim mesmo.
Ele me olha e começa a rir. Isso me irrita. Ele se aproxima segura meu rosto de forma que
não possa mexê-lo e me beija. Quando se afasta, diz:
— Vai ser divertido conhecê-lo e dizer a ele que você é uma prostituta – ele rosna.
Ergo minha cabeça e rebato:
— Não perca seu tempo, Senhor Charles. Ele já sabe. Inclusive, devo agradecê-lo por indicá-
lo – digo para que tire aquele sorriso presunçoso da cara.
Ele me olha intrigado e logo saca o que quis dizer.
— Adrian Miller? Ah! Claro. Depois dele, você sumiu - disse ajeitando seu terno.
— Como disse, vou devolver o seu dinheiro. Não quero mais continuar. O contrato diz que
posso sair quando quiser – digo confiante.
— Foda-se o contrato. Você é minha. E não vai ficar com aquele babaca! – ele diz furioso
gritando bem perto do meu rosto me fazendo pular de medo.
Charles vai embora na mesma hora. Graças a Deus, agora posso respirar.
Abro a torneira e jogo água em meu rosto. Quando olho no espelho, o que vejo faz meu
sangue do corpo inteiro se esvair.
Alana.
Ela estava aqui o tempo todo?
— Veja só – ela sorri ironicamente. — Quem será esmagada agora?
Olho para ela sem reação. Meus olhos estão queimando e me seguro até o fio de cabelo para
não chorar na frente dela.
— Agora Adrian me surpreendeu. Prostituta? – ela fez uma cara de nojo. — Tem certeza que
ainda quer concorrer comigo? – ela ri. — Acho que não querida – diz saindo desfilando pelo
banheiro e me deixando ali, totalmente desolada e desesperada.
“O que essa víbora vai fazer?”
Após me recompor, saio a procura de Adrian. Preciso dizer a ele antes que Alana possa dizer
qualquer coisa. No caminho, sou abordada por sua mãe ao lado de Alana. “Era só o que me
faltava”.
— Se está indo atrás do meu filho, não perca seu tempo. Quero que fique longe dele. Sua
vagabunda – ela diz sem se importar com ninguém a sua volta. Alana está com o ar vitorioso na
cara. Filha da puta. Não perdeu tempo.
— Isso é o que você quer – retruco. — Não seu filho – digo virando-me e ela segura meu
braço.
— Você o ama? Então deixe-o. Imagine só quando a mídia descobrir que ele está namorando
com uma prostituta. Já imaginou como isso irá afetar sua vida profissional? Será um prato cheio
para a mídia querida. Ele é filantropo. Como acha que a sociedade vai reagir ao saber que um
homem que ajuda crianças, se relaciona com uma prostituta? Você vai acabar com a vida dele.
E sabe o que ele vai fazer? Vai odiá-la.
— Me solte – rosno.
— Nunca gostei da Sara. Mas pelo menos, ela era uma mulher digna. Diferente de você – ela
diz e é como uma facada no peito. — Quero-a longe do meu filho. Pode apostar que farei de tudo
para afastá-lo de você. Quer pagar pra ver?
— Podemos mostrar a ele, a foto do tal Charles beijando-a no banheiro, o que acha Dona
Nora? Bem típico de prostituta.
Tenho vontade de socar a cara dessa vaca. Maldita!
— Ele não desistiria de mim assim tão fácil. Mesmo se deixá-lo. Além disso, ninguém nunca
irá saber, se você não contar.
— Mas, talvez eu conte, quem sabe. Você pode inventar uma boa desculpa. Que tal dizer a ele
que arrumou outro mais rico?
— Você arruinaria a vida do seu próprio filho, só para me destruir? Sua... sua...Velha nojenta.
Deveria estar cuidando da sua filha viciada. Ela não é tão melhor do que eu – digo e na mesma
hora, ela me dá uma bofetada.
Algumas pessoas em nossa volta, adoraram o show.
Desgraçada.
— Vamos Alana. Essa mulherzinha já está avisada – ela diz e caminha para longe, como se
nada tivesse acontecido.
Se eu já estava desesperada antes, agora estou apavorada, desolada, assustada... Não vou
deixar ninguém me afastar dele. Não vou.
Procuro Adrian por todos os lugares. Enfim, o encontro conversando com um grupo de
executivos. Fico por perto mas não me aproximo. Minha cara deve estar péssima e não quero
preocupá-lo.
Quando termina, ele caminha até mim.
— Estive te procurando – ele diz irritado.
— Adrian... Eu quero ir pra casa – digo não conseguindo segurar minhas emoções.
— O que foi? Por que está chorando? – ele pergunta preocupado.
— Nada. Não estou me sentindo bem. Só isso – minto.
— Eu te levo – ele diz pegando em minha mão e caminhamos até o estacionamento.
— Mas e sua exposição?
— Te deixo em casa e volto. Não se preocupe.
Adrian me deixou em casa e fez como disse, voltou para o evento. Entrei, tomei um longo
banho e me deitei na cama.
Pensei sobre tudo o que aconteceu hoje. Alana, Charles, e agora, aquela velha nojenta. Eles
iriam fazer da minha vida um inferno. Não sei se estou pronta pra isso. Começo a chorar e penso
se tudo isso vale a pena. Não quero fazê-lo sofrer. Não suportaria vê-lo sofrer. Talvez seja
melhor nos mantermos afastados.
Eu tenho minha mãe para cuidar, não sei se vou conseguir continuar com minha antiga vida...
Deus! O que eu faço? De certa forma, a velha tem razão. Se a mídia soubesse sobre mim, seria o
caos na vida dele. Sua imagem ficaria abalada, arruinada. E isso, iria afetar nosso
relacionamento. Talvez, não tenha nascido para ser feliz. Nunca fui. Sempre atropelada pela vida
e pelas circunstâncias. Não sei se sou forte o bastante.
Levanto-me e começo a arrumar minhas malas. A cada peça de roupa guardada, uma
lágrima rolava.
Quando tudo estava terminado, desci com a mala e a coloquei na sala. Agora, era só esperar
por ele, e tentar fazer o que era certo. Desistir.
Quando Adrian passa pela porta, me olha e diz:
— Tem um táxi aqui fora, o motorista chama por você.
Ele olha para a mala e depois para mim, que estava sentada no sofá.
— O que é isso?
Tento reunir coragem sabe-se lá de onde.
— Estou indo embora – digo com a voz firme me levantando do sofá. Ele me olha sem
entender e sorri. Aquilo acaba de despedaçar meu coração.
— Já disse que pode ficar aqui o tempo que quiser, meu amor – ele diz se aproximando. —
Não precisa ir.
— Acho que não entendeu, Adrian. Estou indo embora. Definitivamente – digo um pouco
rude. Quero que acredite no poder de minhas palavras. Preciso ser convincente e firme.
— Está... Indo embora? Tipo... Me deixando?
Ele começa a entender.
— Sim.
— E você diz isso assim?
— Quer que diga como? – perguntei franzindo o cenho. — Estou tentando tornar isso mais
fácil, Adrian. Mais fácil para você.
— Como pode ser tão fria? – ele diz indignado. Hoje de manhã acordou dizendo que me
amava e agora, sem mais nem menos, vai embora? Se for por causa da Alana, já disse que não
temos nada um com o outro – ele diz desesperado.
— Eu não quero mais, Adrian. Achei que amava você. Estava enganada – disse mantendo a
tranquilidade. Por dentro, meu coração estava dilacerado.
— É o Jason, não é? – pergunta e vejo as lágrimas aparecerem em seus olhos. Talvez seja
melhor dizer a ele que sim.
— Desculpe. Aconteceu. Não planejei isso. É por causa dele sim – digo com um nó na
garganta por estar sendo tão cruel.
— Verônica... – seu sussurro dolorido me mata. — Não faça isso comigo. Não vou suportar
viver sem você – ele diz me abraçando e me beija. Eu me mantenho imóvel. Ele se afasta e diz:
— Eu sei que me ama. O que foi que aconteceu? Por que está agindo assim?
A lágrima agora, rolava em seu rosto.
— Sinto muito.
— Então é isso? Eu me enganei e você estava apenas me usando?
— Eu só quero ir, Adrian. Será melhor assim. Você vai ver – digo pegando minha mala e saio
sem dizer adeus.
Caminho até o táxi com Adrian em minha cola praticamente se rastejando. Ele está
inconformado e grita que não vai desistir de mim assim tão fácil. Isso de alguma forma me deixa
feliz e ao mesmo tempo, triste. Por saber que isso será mais difícil do que pensava.
Entrei no táxi e pela janela, vi um Adrian transtornado passando as mãos pelo cabelo
totalmente derrotado. Fechei os olhos e deixei que minhas emoções florescessem. Eu faria o que
fosse preciso, para protegê-lo. Para manter sua reputação. Até mesmo, abrir mão do meu amor.
Mas elas não pensem que isso ficará assim. Eu vou me vingar. Vou acabar com aquelas duas
vacas. E isso, é uma promessa. Posso ter perdido uma batalha, mas a guerra, está só começando.
No carro, a canção Frozen – Whitin Temptation, expressava exatamente o que estava sentindo
no momento, meu coração a partir desse momento, estava completamente, congelado.

I can't feel my senses, I just feel the cold
Eu não consigo sentir meus sentidos, eu apenas sinto frio
All colors seem to fade away, I can't reach my soul
Todas as cores parecem desaparecer, eu não consigo alcançar minha alma
I would stop running, If I knew there was a chance
Eu pararia de correr, se eu soubesse que havia uma chance
It tears me apart to sacrifice it all but I'm forced to let go
Me machuca ter de sacrificar tudo mas eu sou forçada a desistir
Tell me I'm frozen but what can I do?
Me diga que estou congelada mas o que eu posso fazer?
Can't tell the reasons I did it for you
Não posso dizer as razões mas eu fiz isso por você!
When lies turn into truth I sacrificed for you
Quando mentiras se tornam verdades eu me sacrifico por você

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