O N E

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• N • O • W •

Em dezoito anos da minha vida, esta é a primeira vez que me sinto tão relaxada, os vidros estão abaixados, o som alto e quase consigo sentir o carro deslizando pelo asfalto. Desde que tomei a decisão de me mudar nunca pensei que sair de Los Angeles iria me deixar tão livre. Livre dos jantares que minha mãe sempre insistia que eu participasse, tudo para manter as aparências, como uma boa e bela família da alta sociedade. Um saco, eu sei, mas nunca critiquei, costumava a gostar de toda a pompa até aquele infame dia onde tudo mudou pra mim.

Afasto esses pensamentos e diminuo a velocidade assim que o GPS me indica que cheguei na rua marcada. Meus coturnos fazem barulho no cascalho do estacionamento do alojamento e eu sorrio quando o ar abafado me recebe. Caminho até o fundo do meu carro mandando uma mensagem para a principal responsável de eu está aqui vim me ajudar com a bagagem.

Olho em volta mais uma vez antes de sentar no capô do meu carro e observo os outros alunos que estão chegando e meu sorriso cresce. Boa tarde San Francisco, parece que você irá me trazer boas vítimas por aqui.

Quando Charlotte aparece no estacionamento mal a reconheço, pulo do capô boquiaberta e quase a xingo. Que merda ela fez no cabelo? As mechas que um dia fora de um castanho invejável, agora estão de um loiro vivo. Ela está muito bonita, mas eu sempre fora acostumada a ter uma melhor amiga morena. Balanço a cabeça afastando esses pensamentos e corro pra dar um abraço nela. Não a vejo desde o início do verão, quando ela se cansou de passar os dias em Malibu e voltou para cá. Em seguida eu fui para Nova York com minha família e nosso contato por vídeo-chamada fora muito pouco.


Somos melhores amigas desde que sua família se mudou para o mesmo condomínio que o meu, minha mãe é tipo uma influencer para as outras velhas ricas e não demorou muito para que a mãe de Charlotte ficar amiga da minha e então a gente começou a frequentar os mesmos eventos e junto com nosso outro melhor amigo fizemos tipo um clubinho e nunca mais nos separamos. Isso faz uns dez anos e sempre agradeço pelo destino me ter dado pessoas tão boas.

- Eu senti tanto a sua falta Char - sussurro e ela murmura um "eu senti mais a sua" choroso.

- Olha só esse cabelo! - digo afastando ela apenas o suficiente para ver o seu rosto.

Os olhos azuis estão cheios de água e eu me seguro para não fazer um comentário sobre ela ser uma chorona.

- Legalmente loira agora - ela sorri e me olha de cima a baixo.

- Você pegou mais corpo? - Charlotte levanta uma sobrancelha e eu dou risada.

- Meu último desafio me fez malhar - admito e ela revira os olhos.

- Você me conta mais tarde.

Levamos minhas coisas até nosso quarto e não deixo de franzi o nariz quando passo pela porta. As paredes estão pintadas em um azul bebê, duas camas de solteiro, dois armários e uma mesa para estudo, que tem um notebook e vários livros de enfermagem. Em cima de uma cômoda está uma televisão e vários enfeites. Os móveis estão novos mas o espaço... Meu quarto com certeza é muito maior.

- E o banheiro? - pergunto erguendo uma sobrancelha para Charlotte que abre um sorriso.

- Somente o público e você terá que dividir com muitas outras garotas.

Uma Boa MentiraOnde histórias criam vida. Descubra agora