T W E N T Y N I N E

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Minhas mãos tremem de leve, porque se Joe escutou, provavelmente ignorou. Robert Fanning parece a beira de uma síncope. Ele chama outra vez  meu irmão que agora está dançando perto de algumas meninas mais velhas e histéricas. Deve ser as filhas de alguém importante, para meu pai atravessar a pista e apontar um dedo para o DJ.

A música para e eu me apresso na direção deles.

– Joseph - meu pai sussurra, mas todos estão quietos o suficiente para escutar.

Meu irmão o olha sob os cílios longos e seus lábios se abrem no sorriso mais debochado que eu já vi.

– Olha só, se não é o impata foda.

A tensão é grande quando meu pai fica vermelho de raiva e fecha as mãos em punho. Se eu me esforçar, vou ouvir meu próprio coração bater com o silêncio absoluto, gente rica e seus encantos secretos por barraco. Pego a camisa de Joe no chão e pego o braço do meu pai.

– Vamos pro escritório - digo em um tom que não é de sugestão.

É uma ordem e os dois me olham bravo mas mantenho a expressão impassível. Com um aceno de cabeça a música volta a tocar mais alta do que antes.

Deixo eles irem na frente deixando os sussurros para trás, a família perfeita se mostrando nem tão perfeita em mais uma festa de aniversário. Obrigada os envolvidos.

Quando chegamos no escritório, Robert senta em sua poltrona de couro e Joe se joga em uma cadeira que gira e fica girando o tempo inteiro. Jogo a camisa pra ele, mas ela apenas cai em sua perna e depois no chão.

– É melhor começar a dizer o porquê daquele showzinho - digo me sentando no divã.

– Showzinho? - desdenha meu pai. – Aquilo foi uma vergonha intencional!

– Pai! - exclamo e ele balança a cabeça e olha para o filho que ora sim e ora não está olhando pra ele.

– Pare com isso.

Ele não obedece. E parece está murmurando alguma canção, meu pai fica ainda mais vermelho e então percebo que o único intuito dele é estressar o meu pai, fazer ele sair da pose. Meu salto estala no piso de madeira quando eu vou até o Joe e paro sua cadeira. Seus olhos vermelhos me encara em desafio.

– Até quando você vai continuar com essa merda?

– Até quando você vai continuar fazendo o papel de mãe? - ele rebate.

Sei que não sou a única que estou segurando o fôlego, ele parece ter notado que acertou alguma coisa e fica com as costas retas.

– Espera, acho que tenho um bom palpite sobre onde Candace Fanning está agora - ele olha pra nossos olhares confusos e abre um sorrisinho. – Uma dica, é um lugar cheio de livros sem graça.

– Do que você está falando? - meu pai pergunta e ele apenas dar de ombros.

– Você exagerou na bebida - digo apertando a cadeira. – Ou não é só bebida?

Ele encolhe o corpo como se eu tivesse acertado seu estômago.

– Foi só maconha, eu juro - ele sussurra e quase suspiro aliviada por ele ter abaixado a guarda.

– Vai me dizer o que está acontecendo?

Ele balança a cabeça e levanta passando por mim. Droga.

– Porque você iria se importar? Nem mora mais aqui - ele cospe as palavras e aponta pro meu pai. – E você, cuidado quando for passar pela porta.

– Pare de falar nas entrelinhas - Robert se levanta exasperado.

– Você é um homem inteligente - Joe abre um sorriso diabólico.

Uma Boa MentiraOnde histórias criam vida. Descubra agora