T H R E E

50 5 1
                                    


Essa caça está saindo mais difícil do que o esperado, consegui um pouco da atenção de Kalil Daniels, ele parece odiar o lado que eu mostrei pra ele: educada, certinha e ingênua. Porém não muita certeza disso. Sei que o que ganhou mesmo sua atenção foi o fato de que eu não me joguei pra ele como a maioria das calouras fazem e deve ser por isso que ele foi falar comigo. Mas na próxima vez que eu encontra-lo, quero ficar penetrada em sua mente e pra isso vou ousar um pouco.

Desde o sábado passado estou investindo em roupas mais menininha como vestidos floridos, saias, sapatilha ou sandálias. Charlotte diz que apoia essa mudança porque diminuir nos cigarros para não ficar com o cheiro da nicotina em minhas roupas, estou substituindo a nicotina por chocolate e se eu continuar nessa farsa por mais tempo, tenho absoluta certeza que irei virar uma chocoólatra.

- A gente tem que sair, agora - Charlotte diz enquanto gira na cadeira.

- É quarta-feira - murmuro sem tirar os olhos do meu livro sobre código penal.

- Desde quando você se incomoda em sair no meio da semana?

Finalmente olho pra ela que me encara incrédula. Ela tem razão, desde a festa no sábado passado que não saímos, por algum milagre eu não reclamei em nenhum momento de ficar estudando, mas para o bem da minha sanidade pego minha bolsa e Charlotte pula da cadeira com um gritinho.

O shopping mais perto do Campus parece ser uma espécie de ponto de encontro, pois a maioria dos estudantes da USF tomam conta da praça de alimentação. Entramos na primeira loja e eu começo a pegar tudo o que preciso para o meu novo disfarce, as roupas coloridas me aterrorizam, não sou muito fã de estampas com muitas flores ou de bichos.

A muito tempo que não saio pra fazer compras com Charlotte, ela é a melhor companhia e eu não trocaria por nada.

- Você tem que ir comigo, Agnes! - ela diz apontando para o espaço de patins.

- E quebrar meu maravilhoso nariz que foi dado pelo criador? Nem a pau - rolo meus olhos e ela dar risada.

Acompanho a maluca quando ela coloca os quad. Eu tenho pavor dessas coisas que eu não consigo controlar de primeira, quando eu tinha 6 anos peguei emprestado o skate do vizinho e bom, passei vinte dias com o braço engessado. Charlotte parece uma verdadeira atleta olímpica encima dos patins e eu faço um sinal pra ela de que vou sair.

Meus coturnos estalam pelo banheiro cheio e paro na frente do espelho. Meus cabelos escuros estão uma verdadeira bagunça, ajunto tudo e arrumo em um nó no alto da cabeça. Lavo minhas mãos e noto uma pequena mancha no meu short, eu deveria ter trocado de roupa.

- Achei que não existisse jeans no seu guarda-roupa.

Através do espelho vejo a cabeleira ruiva de Marjorie e meu coração dispara. Se ela está por aqui então quer dizer que Hellen ou Kalil também está e ele não pode me vez nessas condições ou tudo vai por água abaixo. Mas ele não estaria no banheiro feminino e seja lá o que essa bastarda diga, será sua palavra contra a minha.

- Parece que sim - pego minha bolsa de cima da pia. - Esses dias achei uma pele de cobra, acho que você se perdeu por lá.

Sem olhar sua cara espantada saio do banheiro e no caminho até a pista compro um sorvete apressando a todo momento a moça.

Uma Boa MentiraOnde histórias criam vida. Descubra agora