Capítulo 2

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Olhei para o empregado que trazia o pedido. Transportava dois sumos e dois bolos, colocou-os em cima da mesa e afastou-se.

- O que é isto? – Perguntei.

- É para comermos. – Respondeu levando o seu bolo á boca e dando uma trinca.

- O combinado foi um sumo.

- E então? Aproveita o pequeno-almoço. – Disse sorrindo.

- Pagas tu! – Afirmei.

- Não te preocupes. – Riu. – Este bolo é mesmo bom.

Observei o meu. Era um donut. Não gosto deles, não sei porquê mas não lhes acho piada nenhuma, por isso limitei-me a beber o sumo e a ver o André comer o seu bolo.

- Então não comes?

Abanei a cabeça em sinal de negação.

- Vais-me dizer que és daquele tipo de rapariga-grilo?

- Rapariga quê? – Perguntei. Nunca tinha ouvido tal coisa.

- Chamo raparigas-grilo àquelas que só comem verduras e mais não sei o quê! Àquele tipo de raparigas que passam a vida em dietas.

Ri-me.

- Não sou desse tipo de raparigas – nem posso ser visto que o único tipo de verdura como são a que se usa para as saladas, ou então as que se deitam na sopa, isto de forem bem reladas. – Apenas não gosto de comer donuts. Desculpa.

- Não tens de pedir desculpas. Gostas de tostas mistas?

Abanei a cabeça em sinal de afirmação.

- Então fazemos o seguinte – disse chamando o empregado. – Mando vir uma tosta para ti e como o teu bolo.

Comecei a rir-me e ele imitou o meu ato.

Enquanto comia sentia-me observada, levantei o olhar e encarei-o com uma cara de interrogação, até que ele se digna a falar.

- Estava aqui a pensar “Estou a tomar o pequeno-almoço com a segunda mulher mais bonita que já conheci e nem sequer sei o nome dela” – Ergui uma sobrancelha. – Sim porque a mulher mais bonita do mundo é a minha avó.

Soltei uma gargalhada e por pouco não me engasguei.

- Eu não acabei de ouvir isto. – Comentei. – A sério isto resulta?

Ele olhou para mim de cara fechada, mas ao fim de uns segundos desmanchou-se a rir.

- Costuma resultar – Admitiu – E a parte da avó é a cereja no topo do bolo, elas derretem-se todas.

Examinei-o durante uns segundos. Ele fixou o olhar em mim, o que de certo modo me incomodou pois detesto que me observem.

- Só estou a tentar perceber porque é que não está a resultar contigo.

- Talvez porque foi a frase mais parola que já ouvi em toda a minha existência. A sério, eu é que estou a tentar perceber como é que isso resulta com as outras.

Ele deteve o olhar em mim e por fim reclamou: - Não gozes, já engatei muitas assim.

- Deixa-me adivinhar, loiras ou com o cérebro do tamanho de uma ervilha.

- Por acaso a minha namorada é loira. – Admitiu.

- Como é que eu sabia? – Perguntei em tom de brincadeira. – Ainda estou a tentar perceber como é que alguém se derrete com uma frase destas. É mesmo horripilante.

Ele atentou em mim segurando o donut com ambas as mãos e ao fim de uns segundos suspira.

- Ok apaixonei-me. – Fitei-o tentando perceber o que ele estava a dizer. – Estou a falar a sério franca e direta e ainda por cima bonita. Apaixonei-me.

- Tens bom remédio, desapaixona-te. Coitada da tua namorada.

Ele observou-me por uns segundos sorrindo. Cada vez me convencia mais que aquele miúdo não tinha os parafusos todos.

- Comecemos de novo. – Acabou por dizer.

- Outra vez?

- Vá lá, não sejas má.

- Eu não sou má. – Contestei encolhendo os ombros.

Ele limpou as mãos ao guardanapo e de seguida esticou o braço na minha direção.

-Olá o meu nome é André Antunes, e tu?

- Marta, Marta Macedo. – Respondi sorrindo e estiquei o braço.

- Muito prazer em conhecer-te! – Terminou ele.

Mantivemos as mãos unidas durante uns segundos e depois começámo-nos a rir.

- Gosto de teu nome.

- E o teu não me é estranho. – Falei.

- Já me disseram isso antes. – Sorriu – Mas mudando de assunto, fala-me de ti.

- Não há nada para dizer. – Detesto falar sobre mim própria e odeio que as pessoas me façam este tipo de perguntas.

- Bom o que é que fazes por aqui?

- Treinar.

- Treinar porquê?

- Porque será que as pessoas treinam? – Perguntei sarcasticamente. – Talvez para ficarem com uma boa forma física.

- Mas tu não precisas.

- Quem te disse?

Um silêncio constrangedor instalou-se entre nós.

- Quer dizer, eu acho que não precisas. – Acabou por falar.

- Porquê?

- Bem basta olhar para ti.

- Isso faço todos os dias e não vejo motivo para abandonar os treinos.

- Bom, tu és …- Falou um pouco envergonhado.

- Não sou daquelas raparigas que querem ficar esqueléticas, mas tenho noção de que preciso de queimar alguma gordurinha que se foi acumulando.

Entretanto olhei para o relógio, começava a fazer-se tarde e tinha muita coisa para fazer em casa.

- Bom tenho de ir embora. Obrigada pelo pequeno-almoço.

E no momento em que me levanto ele segurou-me no braço e perguntou:

- Volto a ver-te?

- Uau, ainda nem fui embora e já tens saudades. Não me parece que a tua namorada vá gostar de saber. – Ele riu-se. – Venho treinar todas as manhãs por volta das 7:30h. – Esbocei um sorriso e comecei a caminhar em direção á porta, no entanto ele alcança-me antes de eu conseguir chegar á mesma.

- Tive uma ideia. Também costumo vir para aqui todas as manhãs… se quiseres podemos começar a treinar juntos. Sempre é melhor do que sozinhos.

- Sim isso é verdade, além de que sou um pouco preguiçosa. – Ambos nos rimos. – Por mim tudo bem. Até amanhã. – Sorri amavelmente e comecei a caminhar em direção a casa.

- Até amanhã. – Oiço.

Virei-me para ele e acenei voltando-me depois e reiniciei o caminho até casa.

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