Capítulo 33

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“- Queres vir viver comigo?” - Esta foi a frase que mudou o rumo da minha vida.

A tarda estava soalheira, um ambiente bastante agradável para poder ver o pôr-do-sol. O André tinha-me convidado para lanchar – começava a ser difícil estarmos juntos, ele trabalhava na empresa do avô e eu andava na faculdade, no curso de Direito.

-Queres vir viver comigo? – Perguntou ele. Uma questão verbalmente rápida mas pela cara dele foi bastante ponderada.

Fiquei sem reação, era óbvio que eu sonhava um dia viver com ele mas naquele momento não consegui dizer-lhe “sim, é claro que aceito!”, eu tinha apenas 20 anos, ainda não trabalhava e detestava a ideia de ele ter de me sustentar.

-Eu amo-te e nem imaginas o quanto custa estar tanto tempo longe de ti…

- Sabes perfeitamente que também te amo mas acho esta ideia demasiado precipitada – fiz uma pausa para tentar encontrar as palavras certas – eu ainda estou a estudar e nem sequer tenho um emprego, eu ainda vivo às custas dos meus pais e sinceramente, não me agrada que tenhas de me sustentar…

 - Marta isso não é bem assim. – Tenta argumentar, mas como se diz: contra factos não há argumentos.

- Não digas isso, tu sabes que é exatamente assim, eu não suportaria a ideia de viver às tuas custas e ainda tens a Andreia a teu encargo, eu simplesmente não quero ser mais um peso para ti.

- Mas o dinheiro não é, e nem nunca foi, um problema.

- Eu sei, mas pelo menos enquanto não arranjar um emprego não vou sair de casa dos meus pais.

Ele olhou triste para mim, custou-me ver a desilusão nos seus olhos mas não era capaz de aceitar a sua proposta, eu também morria de saudades dele mas o orgulho sempre foi uma das minhas características mais fortes e por causa dele sempre sofri bastante, e este caso não foi exceção, ambos acabamos por sofrer.

Assim que a lua começou a iluminar a noite o André trouxe-me a casa, no dia seguinte tinha uma reunião e precisava de descansar – eu tinha a perfeita noção de que aquilo não passava de uma desculpa. Despedi-me dele com um beijo rápido e saí do carro. Nessa noite não jantei, nem sequer fui capaz de pegar num livro para estudar, a minha mente viajava até ao passado, mais precisamente até umas horas atrás e permanecia muito tempo na imagem do seu semblante triste ao ouvir a minha recusa, ou então reproduzia a frase “queres vir viver comigo?” como se fosse um cd que só tem uma faixa.

- Quero, é claro que quero! – Suspiro deitando-me na cama.

Quero acordar e adormecer ao teu lado todos os dias, quero poder chegar a casa e saber que tenho alguém que anseia o meu regresso, quero poder ter o nosso cantinho onde possamos fazer todas as nossas “brincadeiras”, quero…quero…quero…, adormeci a pensar naquela proposta e em todas as coisas boas que ela me traria.

- BOM DIA! – Gritou Rosa entrando no meu quarto. – Toca a acordar!

- Uma pessoa já nem pode dormir descansada nesta casa? – Resmunguei – Deixa-me dormir, hoje só tenho aulas de tarde.

- Tens uma visita.

Olhei para o relógio que marcava as 7:45h, e por isso é que foi a Rosa a acordar-me, maldita a pessoa que pôs as aulas dela a começarem só às 8:30h – bem, nessa manhã esse foi o meu pensamento, mas tenho de ser sincera, quando eu andava na escola rezava para que eles adiantassem a hora de entrada. No entanto o que mais me intrigava era saber quem queria falar comigo àquela hora da manhã.

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