Capítulo 14

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Os dias foram passando e eu e a Ana desenvolvemos a nossa relação e tornámo-nos amigas. Ela era a única pessoa a quem eu contava as aparições de Dinis - por vezes de manhã quando chegava á escola deparava-me com ele encostado ao carro e mal me avistava deambulava na minha direção- aliás era a única com quem eu podia desabafar abertamente sobre ele e as propostas e convites que me fazia, isto acontecia devido ao facto de não querer preocupar o André e á necessidade de explicar á Leonor qual o “passatempo” do Afonso e dos outros. Em relação á minha irmã as suas inseguranças e os seus medos desapareceram, na segunda-feira seguinte, após ela me ter confessado que estava apaixonada, ela regressou a casa com um brilho especial nos olhos e informou-me que a tinham pedido em namoro. Nunca a tinha visto tão feliz, ela ainda era uma criança, tinha apenas 12 anos, mas depois de tudo o que passou apoiei-a profundamente e desejei-lhe toda a sorte do mundo para aquele namoro, mesmo sabendo que a probabilidade de ele durar era bastante reduzida tendo em conta a idade e principalmente a mentalidade de ambos.

O tempo basicamente voou e quando dei por mim já estava a entrar nas férias de Natal. As minhas notas escolares foram relativamente boas, inclusive a de MACS, mas é necessário destacar que grande parte deste mérito se deveu ao André e á sua incrível paciência e disponibilidade para me dar explicações. Durante o período escolar tinha a minha agenda totalmente preenchida; o meu tempo era dividido entre a escola, as explicações, as aulas de condução e de luta aos fins-de-semana, a gravidez da Ana e ainda tinha de disponibilizar tempo para a Rosa que estava eufórica com a ideia de alguém a amar mas que por vezes era invadida por um sentimento de tristeza receando que lhe acontecesse o mesmo que aconteceu com os nossos pais, eu fazia de tudo para apaziguar esse desígnio maldoso do seu coração e mostrar-lhe que ela era ainda muito nova e que tinha ainda uma vida inteira pela frente e que mesmo que aquele namoro terminasse não iria ser o fim, pois era sinal que aquele rapaz não era a sua alma gémea, não era a pessoa que Deus tinha reservado para ela.

Durante aquele período a relação entre a Leonor e o Afonso também progrediu, cada vez que nos encontrávamos sentia-o mais á vontade a falar com ela. O André também estava perplexo com a forma de como Afonso se comportava na presença de Leonor, ele conhecia-o melhor que eu e estranhava a sua atitude. Ainda me recordo das palavras que André utilizou enquanto me trazia a casa, após termos estado todos juntos - a presença de Leonor estava incluída.

- Nunca pensei ver assim o Afonso, aquela atitude sedutora e galã oculta-se sempre que está na presença da Leonor. Sinceramente nunca imaginei que ele se fosse apaixonar.

- Não achas que estás a ser insensível? O amor é um sentimento universal e acredito piamente que o cúpido tem uma seta reservada para cada ser humano e que mais tarde ou mais cedo todos seremos atingidos, incluindo os namoradeiros como o teu primo.

Percorremos o resto do caminho em silêncio. Enquanto observava a paisagem passar por mim refletia interiormente nas palavras que eu própria tinha acabado de proferir e no facto de nunca antes ter dito ou pensado sequer daquela maneira. Confiava nas escolhas de Deus e acreditava que houvesse pelo mundo um ser magnificente com pequenas setas com o vírus do amor mas será que ele tinha setas suficientes para todos os seres humanos que caminham sobre este mundo? Esta era a questão que me atormentou o pensamento durante todo o caminho e que continuou pela noite fora. Não fazia parte da minha personalidade importar-me com o amor, quando chegar chegou, era assim que eu pensava, aliás na altura em que as raparigas começam a pensar e a sonhar com os príncipes encantados eu estava ocupada com a tarefa de ser mãe e filha ao mesmo tempo. Mas os meus tempos de tortura psicológica já há muito haviam passado e até a minha própria irmã já namorava – não tinha inveja nem ciúmes dela, pelo contrário sempre fiquei feliz com a sua felicidade.

- Em que é que estás a pensar? – Perguntou o André interrompendo os meus pensamentos

- Nada de especial.

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