Capítulo 11

230 20 0
                                    

- Hei Rosa! – Chamei baixinho.

- O que é que foi? – Perguntou com uma voz sonolenta.

Ainda era cedo. O dia anterior tinha sido passado todo com o André e com a Lara – depois daquela revelação eu tinha decidido que queria aprender a lutar e nada nem ninguém iria conseguir demover a minha vontade, sendo que coube ao André a árdua tarefa de me ensinar.

- Então, como é que foi lá na academia?

- Foi giro. – Respondeu esfregando os olhos.

- Foi giro?! A sério não podes ser mais específica?

- Foi o pai quem nos levou, quer dizer o pai e a mãe. – Ela moveu-se de modo a deixar espaço na sua cama para eu me deitar ao seu lado – O professor, que nos recebeu, mostrou-nos as instalações e depois fomos para a aula. Nos primeiros minutos focámo-nos na introdução da leitura da partitura, depois começámos a praticar. Sinceramente eu olhava para aquilo e parecia que estava a ler chinês mas depois de algumas tentativas já estava melhor situada.

- Estou a ver que te divertiste.

- Imenso, inscrever-me lá foi uma ótima ideia.

- É bom saber! – Sorri-lhe – E há mais novidades?

- Sim.

- Então? – Perguntei, erguendo a sobrancelha.

- No fim das aulas os pais foram-me buscar e depois fomos lanchar fora. – Ela fez uma pausa propositada, de modo a deixar-me no auge da curiosidade. – Eles estavam muito sorridentes, acho que o tempo que têm passado sozinhos está-lhes a fazer maravilhas.

- Ainda bem!

- E tu?

- Eu o quê?

- O que é fizeste ontem? Ou melhor o que é que tens feito que quase não paras em casa.

- Estive ocupada.

- Agora pergunto eu, não podes ser mais específica?

- Não.

- Querias tanto que a mãe regressasse e agora que finalmente aconteceu nunca estás em casa.

Não lhe respondi imediatamente, aquelas palavras tinham-me magoado. Era verdade que ultimamente passava muito tempo fora de casa mas isso não significava que já não me importava com a minha mãe ou com qualquer outra pessoa.

- Não é bem assim. – Murmurei.

- Ai não?! Tens a certeza? Agora nunca paras em casa e o problema é que ninguém sabe onde é que tu andas.

- Primeiro ninguém tem nada a ver com o que faço ou deixo de fazer, e em segundo acho que estás a ser injusta.

- Não Marta, não estou a ser injusta, estou apenas a constatar os factos e a realidade é que ultimamente nunca estás em casa.

- Estás a exagerar. Saio todas as manhãs mas quase sempre chego a tempo de vos ajudar com o almoço e há dias em que consigo tomar o pequeno-almoço convosco e de tarde tu vais para a academia e eu vou dar uma volta porque quero deixar os pais sozinhos. Se eu tivesse estado com eles nestes últimos dias achas que já tinham feito tantos progressos? – Fitei-a. – Eu deixo-os sozinhos propositadamente.

Ela baixou o olhar e fitou os cobertores. Eu tinha falado de um modo grosseiro mas aquela situação, aquelas coisas que a Rosa me tinha dito tinham-me ofendido.

- Desculpa! – Murmurou. – Acho que exagerei.

- Pois exageraste. – Levantei-me da cama e caminho em direção á porta – Para a próxima começa a medir as palavras que dizes.

Para toda a vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora