Capítulo 7

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- Posso saber onde estiveste? – Perguntou o meu pai. Não lhe respondi, a última coisa que queria fazer naquele momento era olhar para a sua cara. – Marta importas-te de me responder?

- Estive a treinar. – Acabei por refutar mas sem olhar para ele, poi sabia que assim que o fizesse o meu mundo iria desabar.

Ele era o culpado do que tinha acontecido no dia anterior, na clínica, e estava consciencializada de que no momento em que o encarasse aquele episódio iria reaparecer na minha mente e eu não o queria. Encontrava-me numa luta contra mim mesma para esquecer aquele acontecimento, esquecer o modo como a minha mãe me recebeu e não queria que tal facto se reavivasse no meu pensamento.

- Mas hoje é domingo!

- Não sabia que era proibido treinar aos domingos. – Contrapus numa frieza impetuosa.

- Deixa de ser insolente! – Replicou. Conseguia sentir o seu olhar de desagrado em mim.

- Bom dia!- Cumprimenta Rosa entrando na cozinha seguida de Dora.

- Quem é vivo sempre aparece! – Comentou Dora. – Podemos saber onde é que a menina andou ontem para chegar a casa àquelas horas?

Na noite anterior tinha chegado a casa já passavam das 22h, depois de sairmos do autódromo, os rapazes convidaram-me para ir jantar com eles a uma pizaria lá perto. Acabei por aceitar o convite por dois motivos: primeiro porque não tinha vontade nenhuma de ir para casa e encarar toda aquela realidade, encarar o facto de chegar a casa e não encontrar a minha mãe e porque o André disse que as pizas de lá eram ótimas – o que por acaso era verdade – e depois do jantar fomos até ao bowling. Nem dei pelo tempo passar.

- Então, não queres partilhar connosco o que andas a fazer – deu uma dentada na sua torrada - visto que nos últimos dias quase não paras em casa.

- Agora sou obrigada a dar explicações do que faço ou onde vou?

- Caso não te lembres vives debaixo do teto do teu pai, por isso acho que lhe deves algumas explicações.

- Pois mas o que faço ou deixo de fazer não é da vossa conta.

- Marta onde é que estiveste ontem? – Interveio o meu pai

- Já disse que não têm nada a ver com isso.

- Estás completamente errada. A partir do momento em que sais de casa de tarde e só chegas de madrugada passa a ser um problema nosso.

- 22h não é de madrugada.

- Não interessa, nós estávamos preocupados. Desde…- Fez uma pausa. – Passaste o resto do dia sem dar sinais de vida. Nós estávamos preocupados.

- Desculpe? Estava preocupado? – Arrisquei e encarei-o. – Se estava preocupado, quer dizer se realmente se preocupasse não tinha cancelado a vinda da mãe a casa.

- Como? – Questionou Rosa – O que é que estás a dizer?

 - O pai não te contou? Foi ele quem cancelou a vinda a casa da mãe, e sabes porquê? Por causa dessa mulher que está sentada ao teu lado – Apontei para Dora – Porque ela se sentia muito incomodada com a presença da nossa mãe. Ela vê a mãe como uma adversária e…

- Marta acabou! – Gritou o meu pai levantando-se da cadeira.

- Porquê? Vai-me bater outra vez? – Ficámos imóveis durante uns segundos fitando-nos mutuamente. – Esta mulher está a destruí-lo. – Renunciei ao resto do pequeno-almoço e saí da cozinha, escutando as vozes que vinham do interior da mesma enquanto subia para o meu quarto.

Para toda a vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora