André III

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- Peço desculpa – Falei ainda ofegante. A Mara é enfermeira e corri todo o hospital á procura dela, era a única maneira de a encontrar – Eu fui um estúpido, a Marta foi importante para mim mas tu também és e infelizmente tive de te perder para perceber o quanto significas para mim. Por favor peço-te que me perdoes…

- Não sei, é demasiado doloroso viver na sombra de um morto. Viver na constante dúvida se me amas de verdade ou se sou simplesmente um prémio de consolação. Estar contigo e calcular que é na outra que estás a pensar…

- Eu sei que te magoei e aceito que não me queiras ver mais á frente mas pelo menos perdoa-me, só preciso do teu perdão.

Um longo minuto de silêncio nos envolveu, á nossa volta havia um rodopio de gente mas pareceu que de repente toda aquela agitação tinha desaparecido deixando-nos sozinhos no meio do nada. Eu queria-a de volta mas o que eu fiz magoou-a bastante e por isso já me tinha mentalizado que a havia perdido.

- Tens a certeza que só precisas do meu perdão? – Perguntou sorrindo.

Vocês as duas têm um sorriso muito idêntico, um sorriso cativante, cheio de alegria, capaz de derreter os corações de qualquer pessoa, inclusive aqueles que parecem ter pedras no lugar do coração.

- Não, também preciso de ti.

Ela aproximou-se de mim e envolveu o meu pescoço com os seus braços. E beijou-me. Um beijo calmo e apaixonado, uma carícia que me fez perceber o quão importante aquela rapariga se tinha tornado para mim.

- Amo-te. – Sussurrou ao meu ouvido.

- Também te amo. – As palavras saíam da minha boca automaticamente causando um efeito surpresa em ambos.

Desde que morreste nunca mais fui capaz de dizer a palavra “amo-te”, e durante todo o meu relacionamento com a Mara era ela quem dava o primeiro passo e eu limitava-me a responder “ e eu a ti”, mas sem nunca efetivamente proferir a palavra.

- Acho que já pensei em tudo o que tinha para pensar. – Falou sorrindo ainda mais.

Vim-me embora e preparei tudo para a receber de novo. Um jantar especial – com a ajuda das três cozinheiras, acho que sabes quem são – á luz das velas e com uma música romântica para dar ambiente; o quarto foi preenchido com poemas de amor, fotos nossas, e tulipas – as flores preferidas dela.

Foi uma noite perfeita… ainda não acredito que disse isto… ainda não acredito que senti isto… finalmente ao fim de tantos anos consegui sentir-me verdadeiramente feliz sem ti, sem pensar em ti.

Escrevo estas palavras sentado na mesa da cozinha, está na hora de enterrar o passado e começar a viver o presente, é óbvio que nunca te irei esquecer mas já aprendi a viver com esta saudade.

O nosso quarto está trancado e guardarei definitivamente a chaves.

Marta Macedo, conhecer-te foi a melhor coisa que me aconteceu na vida e perder-te… nem tenho palavras que descrevam, foi como se tivessem levado uma parte de mim. Sofri por ti, senti ciúmes, senti amor, paixão, prazer… Mas partiste e algumas coisas simplesmente não voltam mais… e tu estás inserida nessa lista.

Estas são as minhas últimas palavras, a partir de agora libertar-me-ei do domínio das emoções do passado.


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