Capítulo 9

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- Já acordada?! – Perguntou a minha mãe quando entrei na cozinha. O balcão estava abastecido com ovos num lado, farinha noutro, açúcar, … - Ainda é cedo!

- Vou treinar, gosto de aproveitar a brisa fresca da manhã antes que o tempo comece a aquecer. O que é que está a fazer?

- Vou fazer um bolo. – Respondeu – Eu estava a pensar que de tarde podíamos ir os quatro passear.

- Mas isso não vai ser possível.

- Bom – Os seus olhos perderam o brilho e ela voltou a sua atenção para a bacia onde estava a juntar todos os ingredientes do bolo. – Tenho pena. Mas eu percebo que vocês tenham vergonha de mim, afinal de contas não passo de…

- Mãe – Interrompia-a – não tem nada a ver com isso. Acha que nós teríamos vergonha de si?

- Vocês têm uma mãe drogada por isso estão no vosso direito de sentir vergonha de mim e de que as pessoas vos vejam comigo.

- A mãe passou por uma fase má mas agora está a recuperar, acha que algum dia teríamos vergonha? Esse passeio vai ser impossível porque a Rosa começa hoje com as aulas na academia de música. – A face da minha mãe voltou a iluminar-se – Agora tenho de ir.

Deixei a cozinha e rumei em direção ao parque. Pelo caminho só conseguia pensar no que se tinha passado naquela cozinha, o facto de a minha mãe pensar que eu tinha vergonha dela magoava-me o coração. Ela bateu no fundo mas apercebeu-se a tempo do que estava a perder e decidiu lutar suscitando o orgulho em mim. Como é que eu haveria de sentir vergonha, repulsa dela? Ela tinha declarado guerra a um dos vícios mais prejudiciais a que o ser humano está exposto, as drogas.

- Bom dia! – Cumprimentou André.

- Olá! – Retribui.

- O que é que aconteceu ontem? – Perguntou aproximando-se de mim – Fiquei preocupado.

- Nem imaginas! Aquela mensagem urgente que recebi da minha irmã era uma cilada para me fazer ir para casa.

- Porque é que ela fez isso?

- Porque queria fazer-me uma surpresa. – Respondi com um sorriso nos lábios enquanto ele me fitava com uma expressão intrigante. – Quando cheguei a casa encontrei a minha mãe. Ela veio passar uns dias a casa! – Enquanto dizia as últimas palavras saltei para o colo dele a sorrir, parecia uma criança pequena a quem tinham acabado de oferecer um brinquedo novo.

- Isso é ótimo! – Exclamou, segurando-me e começando a andar á roda.

- Estou tão feliz – declarei, regressando de novo á estabilidade do solo. – Ela está completamente diferente, está mais animada, mais… Está outra mulher.

- É bom saber que finalmente tens paz. – Declarou dando-me um abraço.

- Melhor ainda, é senti-la! – Suspirei ainda abraçada a ele. – Bom, começámos? – Perguntei ao fim de algum tempo junto do seu corpo.

- Com certeza, madame.

Soltei uma gargalhada e ele acompanhou-me.

- Adoro ver-te a rir! – Dissemos os dois ao mesmo tempo.

- Bruxa! – Exclamei de imediato – Agora só podes falar quando disser o teu nome, por isso sou eu quem vai comandar o treino hoje.

Ele levanta os braços em sinal de rendição sorrindo e começámos a correr. Ao fim de mais de uma hora de corridas, abdominais, steps e mais corridas o treino acaba e André manteve-se sempre em silêncio para meu espanto. Entretanto ele aproximou-se de mim e, com uma expressão de brincadeira no rosto, aponta para a boca dele.

Para toda a vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora