Capítulo 32

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Com 200 km de litoral e mais de 300 dias de Sol por ano, o Algarve tornou-se num dos destinos turísticos mais procurados da Europa. Águas transparentes magníficas, espetaculares falésias com baías discretas, infinitas praias de areia protegidas por dunas, e uma brisa amena vinda do Atlântico fazem desta região deveras inesquecível. Esta é a descrição que existe nos sites de turismo sobre as praias do Algarve e sinceramente não tenho mais nada a acrescentar, aquelas férias estavam a ser perfeitas – mesmo com o infeliz acontecimento da viagem do senhor Gustavo.

- Ainda demoras? – Perguntei entrando no quarto. Tínhamos combinado que íamos jantar os dois sozinhos, assim como os restantes casais, aquela noite era dedicada ao amor e mesmo aqueles que não tinham namoradas arranjaram companhia. – Estou a ver que sim. – Falei vendo-o sair da casa de banho com uma toalha envolta na sua cintura. – Eu vou dar uma volta.

- Podes ficar, sabias?

- Pois…- encostei-me á parede e voltei-me para a porta, ficando de costas viradas para ele – Afinal onde é que vamos?

De repente senti os seus braços envolver a minha cintura, ele beijou-me o pescoço e sussurrou ao meu ouvido enquanto começava a puxar lentamente a bainha do meu vestido:

 - E se ficássemos por aqui?

- Eu… - Tentei falar mas cada beijo provocava uma sensação diferente em mim. Eu queria, eu realmente queria estar com ele mas o medo era mais forte que o desejo. – Eu espero lá fora por ti.

Saí disparada, só parando no sofá. Já todos tinham saído e por isso estávamos sozinhos em casa, recostei-me no sofá, fechei os olhos e tentei respirar fundo mas aquele momento não saía da minha cabeça, a reação do meu corpo ao dele… Não era a primeira vez que estávamos assim tão juntos e, apesar de em todas eu sentir que o meu coração ia saltar, aquela vez foi diferente.

Num ato irrefletido regressei ao quarto, fiquei uns momentos a olhar para a porta, não sabia o que fazer, ainda recuei uns passos mas algo me atraía para o interior daquela divisão e abri de imediato a porta. Entrei e encostei-me á porta a observá-lo, ele já tinha vestido as calças e naquele momento estava a calçar as meias no entanto ainda estava com o tronco nu, ver aqueles músculos matava-me – e já não era a primeira vez que os via. Eu mantinha-me encostada á porta e tentava manter a respiração controlada enquanto ele se levantava.

-Desculpa… - Pediu com uma expressão triste nos olhos – Eu desta vez exagerei a sério. Eu não devia ter feito aquilo…

Sem que ele notasse rodei lentamente a chave, trancando-nos dentro do quarto – eu queria estar sozinha com ele e ainda corríamos o risco do Afonso entrar de novo sem pedir licença – e depois caminhei apressadamente até ele, empurrando-o contra a parede.

- Acho que um pedido de desculpas não basta… - Disse entre beijos – Vais ter de te redimir de outra maneira. – Concluí dando um sorriso maroto.

- Muito bem. – Murmurou enquanto me beijava.

Cada toque provocava em mim uma sensação diferente mas mesmo assim eu tinha medo e o André percebeu isso quando deslizou as suas mãos até às minhas coxas e depois se preparava para tirar a última peça de roupa que ainda tinha vestida.

- Tens a certeza que queres? – Perguntou ele num tom de voz meigo.

- Prometes-me que vais ter cuidado?

- É claro que sim – Respondeu entre beijos – Amo-te demasiado e não te quero magoar.

As suas palavras sempre tiveram um efeito tranquilizante em mim e daquela vez não foi diferente. Não vou negar e dizer que não doeu nada e que foi perfeito porque se o fizesse estaria a mentir, bem foi perfeito num aspeto: a minha primeira vez foi com a pessoa que eu mais amava neste mundo, e realmente doeu mas não foi nada que eu não conseguisse aguentar. Estar com ele era perfeito e por vezes só me arrependia de ter sentido tanto medo.

- Amo-te. – Disse-lhe mas ele não me respondeu. Levantei o meu olhar e reparei que ele se estava a rir, naquele momento senti o meu mundo ruir e uma lágrima escapou-me dos olhos. Só queria encontrar um buraco onde me pudesse esconder. Levantei-me e fui a correr para a casa de banho.

Não, isto não pode estar a acontecer! Ele não era capaz… Ele foi capaz! Comecei a chorar sentada no chão da casa de banho, tinha percebido que ele me tinha usado, finalmente ele tinha conseguido o que queria, depois de tantas tentativas finalmente tinha conseguido. Mas o que mais me custava era não saber o porquê de tudo aquilo, porque é que ele namorou – pelo menos eu considerava-o meu namorado – tanto tempo comigo? Porque é que esperou tanto tempo?

- Marta o que é que se passa? – Perguntou do outro lado da porta.

Ignorei a sua pergunta e permaneci trancada no interior da casa de banho por mais uns minutos, eu precisava de recuperar algum controlo sobre mim. Ele insistiu várias vezes mas ao fim de uns minutos deixei de ouvir a sua voz.

- Marta o que é que se passa? Porque é que estavas a chorar? – Perguntou de novo enquanto me via a sair da casa de banho e a pegar na minha mala. – O que é que tu estás a fazer?

- Eu vou voltar para o Porto, não fico aqui nem mais um minuto. – Calei-me e continuei a arrumar as minhas roupas no interior da mala – E vou levar o carro.

- Amor por favor diz-me o que se passa. – Implorava.

- NUNCA MAIS ME CHAMES ISSO! – Gritei – Nunca mais…

Mais uma vez as lágrimas invadiram os meus olhos, eu esforçava-me para não as deixar escapar mas era demasiado difícil.

- O que é…? – Ele tentou perguntar mas não conseguiu terminar, também ele estava prestes a chorar. Naquele momento receei que ele tivesse algum dos seus ataques, como aconteceu quando ele soube da morte do senhor António.

- Parabéns, conseguiste o querias! – Declarei – Explica-me só porque é que te deste a tanto trabalho? Tu podias ter qualquer rapariga, porque é que estiveste tanto tempo comigo?

- Mas tu estás a falar de quê?

- Eu vi-te, tu… - as minhas palavras saíam misturas com o som do choro – Finalmente conseguiste, não foi? Era por isso que estavas a rir-te, não era? Finalmente conseguiste levar-me para a cama e eu feita parva caí na tua conversa e entreguei-me.

- O quê? – Ele olhava para mim boquiaberto – Onde tu foste buscar essa ideia?

- Tu… tu estavas a rir-te. – Disse deixando-me cair na cama - Eu disse que te amava e tu simplesmente estavas a rir-te.

- Eu não acredito nisto. – Murmurou dirigindo-me a mim e sentando-se ao meu lado – É verdade eu estava a rir-me mas não é pelos motivos que tu pensas, por amor de Deus Marta, eu amo-te e seria incapaz de te usar. Eu estava simplesmente a sorrir porque estava a agradecer a Deus por te ter posto no meu caminho, tu és a coisa mais importante na minha vida.

- Eu sou mesmo parva. – Suspirei rindo.

- Nunca mais, estás a ouvir? – Falou enquanto me abraçava – Nunca mais penses numa coisa destas, ok? Eu amo-te e se fosse preciso esperaria por ti até ao casamento.

- Desculpa amor – Eu também o abraçava fortemente enquanto tentava acalmar as lágrimas – Desculpa…

- Já passou… - Sussurrava ao meu ouvido – Já passou…

Ficámos agarradinhos a noite inteira, e fizemos amor mais uma vez – mas desta vez eu não tive nenhum ataque. Senti-me uma parva em ter pensado que ele só me queria usar mas não é fácil para uma mulher se entregar a um homem, pelo menos era aquilo que eu sentia e ainda sinto. A primeira vez é um momento importante e inesquecível e por isso é essencial escolher a pessoa adequada.


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