Capítulo 22

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Passaram-se cerca de quatro meses desde o que aconteceu e desde o último beijo que André me deu, desde esse dia que ele não voltou a insistir. A nossa amizade manteve-se inabalável mas também era possível sentir uma certa tensão no ar; havia pouco tempo tinha ganho a noção do que sentia verdadeiramente pelo André mas depois de ter sido forçada a ver aquelas imagens não conseguia pensar sequer em tentar algo com ele. Noite após noite acordava a ouvir aqueles sons, a Margarida queria vingar-se de mim e conseguiu, fez de mim uma prisioneira do passado e mesmo estando morta continuava a influenciar o modo como conduzia o meu presente. Não vou mentir ao afirmar que não desejava o André, todas as noites deitada na cama imaginava como teriam sido as coisas se não tivesse aquelas imagens a atormentar-me o pensamento.

Os dias foram passando e a minha vida era uma roleta russa, um dia estava bem mas no dia a seguir surgia um problema qualquer e era a mim a quem pediam ajuda - por vezes os pedidos de ajuda traziam subjacentemente consigo um pedido para que fosse eu própria a resolver o problema. A maior dificuldade que enfrentei naqueles meses - além da paixão que sentia que aumentava diariamente consumindo-me o juízo - foi o final do namoro da Rosa com o Bruno, sinceramente pensava que aquele namoro ia demorar menos tempo do que o realmente durou; dia sim, dia não ela chegava a casa sem o brilho habitual do seu sorriso que contagia toda a gente, ou porque eles não conseguiam falar a sós durante cinco minutos seguidos, ou porque durante todo aquele tempo ele não fora capaz de lhe dar um beijinho sequer. Os primeiros dias foram um pouco complicados mas rapidamente consegui trazer de volta a minha irmã que se começou a empenhar mais que nunca na sua academia.

A Ana tornou-se numa das pessoas com quem eu passava mais tempo, eu precisava de "limpar" a mente e ela precisava de companhia e se fosse possível de alguma ajuda com a filha. Aqueles quatro meses foram também decisivos para a Lara e para o Tiago que felizmente conseguiram enterrar de vez as más recordações do passado e estavam mais felizes que nunca.

- Não te esqueças que hoje quero-te na discoteca á meia-noite, experimenta faltar e sentirás a minha fúria! - Esta foi a mensagem de voz deixada pela Lara. Ela fazia 24 anos no dia seguinte e então convidou umas quantas pessoas para passarem a meia-noite com ela numa discoteca, com um ambiente relativamente agradável.

Apesar de adorar a Lara estava bastante relutante com a ideia de ir para uma discoteca, nunca foi um ambiente no qual me enquadrasse e ainda tentei escapar afirmando que ficaria a cuidar da pequena Andreia cedendo, assim, a ida á Ana, no entanto o meu plano falhara pois a Ana disse que já havia pedido á mãe para que esta tomasse conta da bebé; fiquei sem mais ideias para recusar o convite.

Ao fim de uns minutos no interior da discoteca comecei a agradecer - não sei exatamente a quem, falava para mim mesma - por não ter encontrado uma desculpa suficientemente boa para faltar. A festa estava a ser magnífica, o ambiente estava porreiro e ainda conheci uns amigos da Lara. A relutância que inicialmente sentia foi-se desvanecendo com o decorrer da noite.

- Então, está tudo bem? - Perguntou um rapaz sentando-se ao meu lado. Aquele era o Vasco, um amigo dos tempos de escola que Lara tinha reencontrado recentemente.

- Sim está!

Fez-se silêncio.

- Queres vir dançar?

- Porque não?

Levantámo-nos e dirigimo-nos para a pista, esta estava inicialmente apinhada mas ao fim de algum tempo as pessoas começaram a dispersar-se e, para não sermos os únicos lá no meio, fomos ter com um grupo de pessoas que se encontravam sentados no fundo da discoteca.

- Queres beber alguma coisa? - Perguntou ele.

- Pode ser uma cola.

- Eu vou buscar.

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