Poderia ser pior.

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Coral Gables, 7 a.m

— Pensei que fosse levar mais tempo para pensar sobre a proposta que fiz no pub, admito que fiquei surpresa com a sua ligação em seguida. A propósito, sou Eleanor e muito obrigada por salvar minha vida. —Dizia a mais velha andando pela entrada da casa, por sinal muito bonita e bem cuidada, observei cada detalhe com muito atenção, de certo a família que morava ali era bem e muito bem de vida.

— Ally, antes de passar por essa porta eu preciso te dizer que não vai ser fácil. Digamos que o Sr. León não é muito amigável e possui um certo humor diferenciado dos demais. Só peço que faça seu trabalho da melhor forma possível.

O olhar de Eleanor transparência nervosismo e ansiedade, o que despertou em meu interior um medo absurdo do que me esperava dentro daquela casa.

— Pronta? — Questionou ela segurando a maçaneta da porta principal.

— Não é como se eu tivesse uma saída melhor.— Sorri amigavelmente.

Ao adentrar a casa fiquei impressionada com toda decoração ao redor, era igual as casa de filmes e na mesma hora pensei em Sophie, ela adoraria vasculhar cada cantinho do ambiente.

— É uma casa fácil de limpar e organizar Ally, não temos frescuras com o modo de limpar ou algo assim, desde que seja bem feito está tudo certo. A lista de afazeres fica na dispensa junto com seu uniforme. — Eleanor parou de andar ao escutar seu celular tocar. —Ally, terei que ir ao mercador e ao banco, provavelmente passarei o resto do dia fora, qualquer coisa me ligue.

Ao terminar a frase saiu como um furacão da casa, agora era somente eu e os variados tipos de vassoura na dispensa, tudo pela guarda da Soph e pela minha sobrevivência, absolutamente tudo.

Resolvi começar logo os meus afazeres, a cada hora que ficava naquele lugar eu pensava em tudo que havia acontecido, era impossível não sentir o peso em minhas costas. O segundo andar estava quase pronto e faltava apenas um quarto e assim que destranquei a porta constatei que era o quarto mais lindo da casa, mas o que me chamou a atenção foi uma foto linda na mesa ao lado da cama. Havia uma mulher de cabelos pretos sorridente, um homem com as mesmas características e no meio dos dois um menino lindo, idêntico a mãe. Com um gesto automático, peguei o porta retrato e fiquei olhando os donos da casa quando fui surpreendida por uma voz masculina e pelo seu tom não estava nada contente.

— Quem deu autorização para que entrasse aqui? — Seu tom era ríspido, o que fez meu estômago dar uma volta 360 graus.

— Foi...  Foi a Eleanor, eu sou a nova emprega... — Fui cortada pelo mesmo na mesma hora.

— Só perguntei quem deu autorização, quem você é ou deixa de ser não é da minha conta. Esse quarto não é responsabilidade sua, não precisa limpa-lo.

— Certo Sr. León, peço desculpas, não foi a intenção. — Respondi cabisbaixa saindo do cômodo, pensei que ser demitida era a pior sensação de todas mas o modo que fui tratada por ele fez com que eu ficasse três vezes pior.

— Não quero desculpas, apenas não aproxime deste quarto. Do resto, não me importo.

Parei por um segundo pronta para dar uma boa resposta a tamanha grosseria desse ser humano arrogante, insuportável na verdade, mas pensei na minha real necessidade e não poderia perder esse emprego por nada na vida.

— Vai ficar parada admirando o que está na sua frente ou vai terminar o seu serviço? Não pagarei hora extra a você. — Disse passando pelo corredor me deixando com a cara mais idiota do mundo. O tamanho do deboche na voz dele era proporcional a raiva que subia em meu sangue.

Respirei fundo e continuei com o trabalho, já estava quase acabando quando Eleanor apareceu afoita na cozinha.

— Esqueci de mencionar sobre o quarto do segundo andar! Creio que a primeira impressão de Joel foi a pior possível.

— Joel? — Acabei estranhando o nome já que ela não havia citado antes.

— Na frente dele costumamos usar Sr. Leon, mas seu nome é Joel. — Esclareceu arrumando as compras.

— Então o nome do arrogante é a Joel? Bom saber. Como você aguenta ele?

— O conheço desde que era pequeno, ele é uma boa pessoa só tem que ter um pouco de paciência.

— Paciência é diferente de engolir sapo, no caso as grosserias desse petulante! — Disse colocando toda raiva que senti para fora.

— O petulante pode deixar você sem emprego a qualquer momento. —  A voz de Joel entrou em meus ouvidos, o que acabou me deixando petrificada no lugar onde estava.

Quando virei ele já não estava na cozinha e Eleanor carregava a mesma expressão que eu: assustada.

— Eleanor, deveria me desculpar com ele por isso? — Totalmente sem jeito, perguntei pensando na segunda carta de demissão em menos de setenta e duas horas, seria meu recorde.

— Termine o que tem que fazer Ally, ele não vai tomar uma atitude dessas sem me avisar, pode ficar tranquila.

Com a confirmação de Eleanor terminei os afazer do dia e me despedi na mulher. A única coisa que mentalizei foi a minha cama e um banho quente.

— Ally? —Soph aparecer na sala assustada com a minha presença logo cedo, diferente dos outros dias, em casa. — Aconteceu alguma coisa?— Disse me abraçando, como eu amo essa menina!

— Aconteceu e não aconteceu Soph. —Sentei e contei sobre ter perdido o emprego no pub e a coincidência de encontrar Eleanor com uma proposta salvadora no meio da tempestade.

— Então ele falou "O petulante pode deixar você sem emprego"? — Concordei rindo da sua entonação falha.

— Sophie ele é insuportável, arrogante, ridículo, frio, grosso..

— E petulante! Ally, você superou seus xingamentos depois desse.

Nosso momento foi brevemente cortado pelo som da campainha.

— Senhorita Miller? — Uma mulher vestida de forma social estava parada na minha frente, nenhum pouco amigável por sinal.

— Sou eu, em que posso ajudá-la?

— Sou Stella Rogers, oficial de justiça responsável por cuidar do seu caso. É apenas uma vistoria e uma conversa rápida, preciso que preencha alguns documentos que comprovem sua renda e condições para cuidar da Sophie.

— Claro, pode entrar enquanto preencho o que você precisa. — Disse dando espaço a mulher a minha frente.

— Então você é mais uma daquele pessoal que quer me mandar pra um orfanato longe da minha irmã? — Sophie apareceu com um pote de sorvete se sentando de frente para a mulher com um sorriso debochado.

— Sophie Miller! — A repreendi na mesma hora pelo seu tom. — Modos por favor, essa é a Stella e ela precisa apenas que eu preencha um formulário.

— Prazer Sophie. — Stella foi educada com a pestinha a sua frente e então começou uma sessão de perguntas e respostas com Soph.

— Aqui esta Stella. — Entreguei a ela os documentos.

— Vejo que está empregada, isso é o fundamental. Mas lembre-se qualquer passo em falso perderá a guarda de Sophie.

Assim que reforçou o aviso saiu rapidamente, deixando um silêncio momentânea.

— Ally, se algo ser errado eu fujo pra Las Vegas e trabalho em um cassino! — Exclamou a mais nova indo em direção ao quarto. — E ninguém vai me tirar de você Allyson, tenho dito!

Ela tinha razão. Ninguém tiraria ela de mim, nem que pra isso eu tenha que aguentar Joel todos os dias.

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