Hula hula.

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Eu não podia acreditar que Joel realmente tinha preferido ficar trancado dentro de um quarto de hotel ao invés de passar algum tempo comigo. Até entendo que o beijo e tudo o que sucedeu depois dele tem grande parcela de culpa, mas não é só isso. Tenho certeza que não.

Ele está agindo como os primeiros dias em que nos conhecemos. Quando comecei a trabalhar para ele. Igualzinho. Sendo o mesmo petulante de sempre.

Penso em tudo isso enquanto caminho até a praia e decido que é lá que vou ficar a tarde toda. Não iria desperdiçar a tarde toda - mesmo que só o fim dela - quando tenho uma ilha maravilhosa para explorar. Não mesmo. Joel que se dane.

"Ele é seu marido", minha mente me recorda. Que se dane nosso casamento também.

Ao colocar meus pés na areia, sinto-o afundar pela areia ser tão fofa. Ela começa a queimar meus pés também, então tento andar um pouco mais de pressa. Carregava uma bolsa comigo. Como se fosse itens de sobrevivência. Sobrevivência a grosseira de Joel.

A praia está razoavelmente cheia e observo alguns casais rindo. Uma parte de mim queria que ele estivesse ali. Mesmo que fosse para ficar emburrado. Balanço a cabeça e tento encontrar algum lugar vazio.

Depois de andar um pouquinho, finalmente encontro e estendo minha canga pela areia. Me deito sob ela de costas e procuro meu celular dentro da bolsa. O pego e procuro também o fone de ouvido. Coloco em uma playlist aleatória e respiro profundamente. Espero que eu consiga ter pelo menos um dia tranquilo.

Não demorou muito para o sol começar a ficar quente demais, de um jeito insuportável em que eu não aguentava mais ficar exposta. Só espero não ter ficado um camarão igual todas as vezes.

Percebo que a praia já está mais vazia. Olho a redor insistindo em procurar Joel. Mas eu já sei a resposta muito antes disso. Não sei porque ainda insisto. Me levanto, balanço a canga para tirar os grãos de areia e a guardo dentro da minha bolsa. Minha barriga ronca, então decido tentar encontrar algum restaurante por perto.

Só fui perceber o quanto me afastei do nosso resort quando percebi que por mais que eu andasse, não chegava nem perto. Minha língua já estava quase no chão demonstrando meu cansaço quando finalmente reconheci a fachada daquele mesmo restaurante do dia em que chegamos. Do restaurante em que dançamos juntos pela primeira vez. Realmente dançamos, nada fingido. Do nosso primeiro beijo também. O que eu achei ter sido verdadeiro. Mas pelo visto estava errada. Preciso parar de associar ele a tudo ou isso vai me deixar louca.

Antes mesmo de entrar no restaurante, percebo que ele está lotado e uma música de hula hula me faz rir, mesmo que sozinha. Sem duvidas, esse é o melhor restaurante da ilha. Ao chegar na calçada, bato os pés para tentar tirar o máximo de areia que conseguir. Levanto o óculos de sol e o deixo preso em meu cabelo. Foi quando olhei para dentro do restaurante e percebi que conhecia aquele sorriso. Aquele cabelo. Aquela mão segurando um copo de bebida. Ele preferiu ir a um restaurante sozinho ao invés de sair comigo. Isso já dizia muita coisa.

Me forço a olhar mais uma vez e é quando meu olhar se encontra com o dele. Maldito olhar que é capaz de dizer coisas. Desvio o olhar rapidamente e faço o caminho contrário, voltando para a praia. Não sabia onde ir, mas precisava ser longe dele. Pensei que estávamos nos entendendo, mas pelo visto eu entendi tudo errado mais uma vez.

A imagem das dançarinas de hula hula, pelo menos cinco delas, em volta dele não saem da minha cabeça. Tento pensar em outra coisa, mas óbvio que a unica coisa que consigo enxergar é o sorriso de Joel com toda aquela situação. Minha vontade é correr, mas fazer isso na areia é praticamente pedir para morrer de cansaço. No meu ápice de raiva, escuto ele me chamar.

ALLYSON!

Não olho para trás, mas sei que é Joel. Poderia saber que era ele mesmo a quilômetros de distancia. Queria poder entender porque estou tão emotiva em relação a ele. Talvez seja porque ele não se lembre da melhor noite que já tive em anos.

— Você vai fazer eu te seguir até quando? — Diz ele ofegante, quase ao meu lado. É claro que ele tinha que conseguir correr também.

— Pode voltar para a sua tarde perfeita, Joel! — Digo sem dosar o tom da minha voz — Você estava se divertindo com todas aquelas dançarinas.

— Então essa cena toda é por causa das dançarinas? — Ele me responde de um jeito debochado e isso me deixa ainda mais irritada. Nesse momento ele já está praticamente ao meu lado. Tento andar mais rápido, mas minhas pernas não me ajudam.

— Não é por causa das merdas das dançarinas! — Grito e me viro. Joel se assustou e por pouco não caiu em cima de mim — É por você preferir ficar sozinho ao invés de estar comigo.

— Mas eu não gosto de praia. Já te disse isso no quarto.

— E gosta de ficar rodeado de dançarinas? Uau — Digo pausadamente. Sabia que isso o irritaria — Talvez eu devesse procurar algum também.

— Algum o que? — Percebo que ele está com os dentes semi cerrados e se ele não fosse do jeito que é, diria que ficou com ciúmes.

— Você me ouviu — Respondo dando os ombros e me afastando novamente. Uma parte de mim quer que eu vá embora e a outra implora pra ele me seguir.

— Eu te disse que ficaria estranho por causa do que você fez bêbada ontem — Joel disse tão baixo que se eu estivesse longe não ouviria.

— O quê? — Voltei até ele e senti seus olhos percorrem meu corpo inteiro — Então você se lembra? De tudo?

— Em momento algum disse que não me lembrava — Respondeu como se fosse algo simples.

Eu estava a tarde toda remoendo tudo o que aconteceu por pensar que ele não se lembrava de nada. Mas percebo que ele se lembrar faz disso muito pior. Ele estava naquele restaurante ao invés de ficar comigo se lembrando de tudo o que aconteceu na noite passada.

— Tudo bem — Me dei por vencida. Não poderia o obrigar a gostar de mim ou a me querer na mesma intensidade que eu o quero. Não acredito que estou pensando nisso.

— Só isso? — O ouvi resmungar, mas não respondi — Allyson?

— O que foi, Joel? — Suspirei profundamente e passei as mãos no cabelo. O vento estava contra mim e ao me virar — mais uma vez — para respondê-lo.

Estávamos há alguns passos de distancia, mas ele fez questão de andar lentamente até mim. Sentia meu corpo mais relaxado e ele não tinha mais aquela carranca de quando está irritado.

— Eu te disse... — Falou se aproximando até que ele conseguisse tocar em mim.

Minha vontade era continuar andando. E de preferencia do lado oposto ao dele. Mas senti que meus pés e a areia viraram uma coisa só. Talvez fosse o cansaço ou só a minha vontade de ficar com ele.

— Disse o que? — Provoquei levantando o olhar até o dele. Os dedos de Joel estavam fazendo um carinho confuso no meu braço. Eu estava ofegante apenas com um único toque.

— Que ficaria estranho — Ele fingiu uma tosse — Que não poderia ficar estranho.

— Só está estranho porque você está se comportando desse jeito. Não é o fim do mundo, sabe? Nós nos beijamos e tivemos uma noite muito, muito boa. — Disse sem pensar — Quer dizer, eu pelo menos achei isso.

— Você pensa que eu não achei? — Fiquei quieta — Você não pode estar falando sério, Allyson.

— Mas estou — Dei um passo para frente. Se antes nossos corpos estavam próximos, agora estavam colados. Sentia a respiração quente e pesada de Joel. Levei uma das mãos e passei o polegar por seu rosto. Ele estremeceu e eu automaticamente parei.

— Não para — Pediu fechando os olhos — Por favor.

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