A próxima quarta feira.

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SEIS MESES DEPOIS.

JOEL

Seis meses. Seis meses acordando com Allyson ao meu lado. Seis meses escutando sua voz todo dia de manhã. Seis meses observando como sua barriga parecia maior cada dia mais. Seis meses tendo que ouvir Sophie me provocando. Seis meses de beijos, abraços, carinhos. Seis meses que tenho a plena certeza de que minha vida está, finalmente, nos trilhos. Estou vivendo tudo o que sempre precisei.

Há um ano atrás, se me dissessem que aos vinte e três anos eu estaria casado, esperando um filho e comandando a empresa do meu pai, eu daria risada e diria que era impossível isso acontecer comigo.

Pois bem, não é impossível. Aliás, foi bem possível.

Acima de tudo, eu estava feliz. Mesmo com as dificuldades, como por exemplo a confusão que a empresa ficou depois que Sebastian foi preso no exterior por causa de um dos seus inúmeros golpes e Annelyse voltando para Londres. Fiquei atolado em uma sala cheia de documentos pendentes, decisões que valiam praticamente milhões de dólares.

Mas, como sempre, Allyson me ajudou. Esteve comigo, colocou meus pés no chão e minha cabeça no lugar quando, no seu terceiro mês de gestação, eu quis vender todas as minhas ações e sugeri nos mudarmos para Itália.

"Você só pode estar ficando louco, Joel!", ela falou.

"Louco? Eu só estou evitando o inevitável!", respondi de forma grosseira.

"Aqui é o nosso lugar, Joel, pelo menos por agora. Nós não vamos nos mudar. Você vai dar um jeito, como sempre fez.", retrucou com a voz firme, porém delicada.

Nesse dia eu entendi de uma vez por todas que Allyson despertava o melhor em mim. Em meio a uma guerra, ela me trazia a lucidez.

E de fato ela estava certa. Depois de inúmeros dias de trabalho árduo, saindo cedo e voltando tarde da noite para casa, a empresa que meu pai tanto lutou para erguer estava em boas mãos, com um saldo positivo e renomada no mercado.

Allyson continuou na faculdade, disse que gravidez não é doença, que na verdade ela está se sentindo mais viva do que nunca. Trancou o curso somente no último mês, quando ficou difícil ficar horas sentadas na mesma posição.

— Já está pronta? — gritei do andar debaixo — Quer ajuda?

— Não! — ela respondeu em um grito mais alto — É que minha bolsa caiu no chão e eu não consigo pegar!

Subi as escadas rindo. Situações como essas têm acontecido bastante em nossa rotina. Objetos caíam no chão e ela tentava pegar com o pé, para não chamar ninguém.

Cheguei no quarto e ela estava exatamente assim, tentando pegar a bolsa com o pé. Quando me viu, se sentou na cama, demonstrando estar extremamente cansada. Abaixei e recolhi algumas coisas que tinham caído de dentro de sua bolsa. Reparei em um caderno branco pequeno. Guardei tudo, menos esse caderno.

Sentei ao seu lado, colocando a bolsa em cima da cama. Allyson deitou sua cabeça em meu ombro. Mesmo sem vê-la, sabia que estava de olhos fechados. Sua respiração estava calma, tranquila. Levei minha mão em sua perna e fiz carinho com os dedos em sua coxa descoberta. O vestido que ela usava tinha ficado muito, muito mais curto por causa de sua barriga. Mas, sendo cabeça dura do jeito que é, não quis comprar nenhuma roupa na sessão de "grávidas" nas lojas de departamento.

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