Nem sempre um final será feliz.

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Minha respiração ficou falha após ouvir Joel pronunciar a palavra documento. Aquela noite só poderia ter se transformado em um protótipo de pesadelo e já poderia ser um dos piores que já tive. Joel parou com o carro na mesma hora e nem se importou se estavamos no meio da rua ou não, na verdade nenhum de nós estavamos preocupados sobre isso no momento. O que eles conversavam ficou ecoando em algum lugar em minha mente, na verdade perdi os sentidos quando Dr. Walker mencionou que o contrato havia sido roubado.

"Tem certeza que o unico documento que sumiu foi o contrato?" Joel tinha suas mãos segurando o volante com toda força, a cada palavra que Dr. Walker pronunciava ele aumentava a intensidade do aperto.

"Após organizar a zona em meu escritório a unica pasta do avesso era a da sua família Joel, o único documento desaparecido foi o contrato." Afirmou descontente e receoso assim como nós estávamos naquele momento.

"Amanhã ás nove horas estarei em seu consultório, não importa como ou de forma, esse contrato irá voltar para o lugar do qual não deveria ter saído." Joel soltou um suspiro e olhou fixamente a rua a sua frente tentando pensar em alguma solução rápida. "Tenha uma boa noite Dr. , trate disso com sua vida."

Sem esperar algum retorno do outro lado Joel apenas encerrou a ligação e arrancou com o carro a uma velocidade inexplicavel. Segurei a respiração em algumas esquinas pelas quais viramos em alta velocidade, sua mandíbula estava travada demonstrando o quão nervoso e tenso com o acontecimento ele estava.

Assim que paramos na garagem sai do carro batendo a porta, não sei o que ele estava pensando, mas agir daquela forma não ia ajudar em nada, durante o caminho por mais curto que ele tenha sido o risco de bater em algum poste, carro, ou qualquer outro veículo era muito alto. Segurei a barra do meu vestido e sai andando pisando duro pela casa, não esperei ele reclamar e ele fez. Passei pela porta e fui para o quarto jogando o salto para o lado com ele atrás.

— Olha Allyson eu entendo que você também está brava, preocupada, mas bater as portas da casa não vai resolver. — Joel disse tirando o terno deixando em cima da nossa cama.

— Acelerar o carro, ultrapassar sinal, esmurrar o volante com toda certeza resolve alguma coisa. — Deixei meu vestido cair no chão e em seguida entrei no closet. — Você é tão irracional quando fica nervoso, faz coisas que são piores do que a própria situação Joel. — Terminei de pegar uma troca de roupa, apenas queria um banho.

— Allyson só pode ser uma brincadeira da sua parte, eu preocupado com nós dois, com o contrato e tudo que isso implica e você começando uma briga pelas leis de trânsito que eu não cumpri. — Coloquei a cabeça para fora do banheiro e o encarei apenas de calça social, os cabelos desgrenhados e uma expressão nada agradável em sua face.

O encarei com uma sobrancelha arqueada esperando que ele continuasse com seu surto noturno. Alguma das coisas que eu ja havia me acostumado com Joel era exatamente essa: surtos inusitados.

— Você nem se importou! — Em algum lugar de sua mente ele apenas constatou que eu estava ignorando a situação. Comecei a rir da cara dele em um tom super alto, foi pouco para ele perder o resto de paciência que ainda tinha.

— Allyson nossas vidas desmoronando e você rindo, simplesmente impossível lidar com você. — Entrou no closet e ainda reclamou algumas palavras incompreensíveis aos meus ouvidos. — Vai a merda Allyson! — Consegui apenas escutar em um som abafado pela distância.

— Joel, eu não estou ignorando a situação ou coisa assim. Realmente estou tensa e preocupada demais com tudo isso. — Voltei para dentro do banheiro ligando o chuveiro, precisava relaxar depois daquele fim trágico de noite. — Apenas não vou ficar perdendo o resto de calma que tenho agora, você se descontrola por tudo e por qualquer coisinha que acontece em sua vida.

O que tive como resposta foi um constante silêncio, deixei com que todos os problemas fossem embora na água que escorria por meu corpo junto com a tensão que estava sentindo, o medo era real e não tinha como ignorar o fato que tudo fugiria do controle em instantes e enfrentaríamos momentos complicados, eu sabia que seria assim.

O banheiro já estava repleto de fumaça, meu corpo estava relaxado e a sensação de calmaria já corria em minhas veias, estava tão desligada que não notei a presença de Joel logo atrás de mim. Seus braços rodearam minha cintura enquanto ele distribuía beijos alternados entre meu ombro e a curvatura de meu pescoço. Não tinha malicia, não era algo para provocar. Era afeto, carinho e carícia. Me virei para ele e deixei que meus braços envolvessem seu pescoço enquanto a água quente corria entre nós.

— Você tem razão, você sempre tem razão Allyson. — Disse colocando alguns fios de cabelo que caiam em meu rosto.

— Eu sei. — Sorri encarando a carranca que se formava. — Amo você, amo desse jeitinho. Mas por favor, tenta ser menos explosivo. — Colei nossos lábios rapidamente, o que era pra ser rápido acabou durando incontáveis minutos. O contato por os lábios suaves de Joel faziam com que o tempo parasse, quando aprofundamos o beijo deixei com que ele me levasse além de onde estávamos.

Já com as mãos enrugadas desligamos o chuveiro voltando para a realidade, nosso único objetivo era cair na cama e apagar completamente o que estava em nossas mentes, por hora apenas seria o essencial.

— Você vai arrumar aquela bagunça de roupa no closet Joel, nunca vi tanta falta de organização pra procurar uma cueca. — Fechei a porta em direção a cama.

Joel estava deitado apoiado em seus braços olhando finamente para o teto, sabia que não dormir tão cedo ou talvez ele não dormiria. Deitei do meu lado na cama me aconchegando em seu peito, escutar as batidas de seu coração era como um calmante para mim. Aos poucos o senti relaxar e sua respiração ficar pesada, meus olhos começaram a ganhar o peso do cansaço.

— No final nós vamos ficar bem, é o que fazemos de melhor quando estamos juntos. — Sussurrei para que eu mesma pudesse acreditar que mesmo se algo vazasse ainda teríamos um ao outro.

[...]

Uma luz atrapalhou meu sono, a tela do celular não parava de piscar sinalizando que uma mensagem havia chegado. Com os olhos um pouco fechados o peguei em cima da mesinha ao lado da cama, poderia ter ignorado se a mensagem não fizesse meu coração disparar e a respiração ficar falha.

"Os dias ao lado do seu amado estão contados, aproveite enquanto pode Allyson alguns finais não são felizes, garanto que o seu não será também."

Encarei a tela e logo encarei Joel que dormia tranquilamente, as lágrimas escorriam sem cessar e eu aguentaria, por ele aguentaria e conseguiria passar por isso. Seus braços me seguraram como se ele soubesse que eu precisava dele naquele momento. Em um choro silencioso me perdi naquela madrugada, aos poucos o cansaço pesaria e uma hora cairia em um sono profundo.

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