Sim, senhor.

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Já havia passado uma semana em que eu estava trabalhando na casa do Senhor Léon, ou como Soph insistia em chama-lo, Senhor Petulante.

Os dias seguintes foram resumidamente iguais. Percebi que quanto menos encontrasse ou conversasse com Joel, melhor seria e menos estressada eu ficaria, então eu seguia a lista de afazeres que Eleanor me deixava todo dia e após as minhas seis horas obrigatórias, ia embora.

Depois de começar nesse trabalho, costumava chegar mais cedo em casa, antes mesmo de Sophie chegar, o que me deixava feliz por poder estar lá por ela. Além de tudo isso, o dinheiro que eu estava ganhando ali era duas vezes mais do que eu ganhava no pub, então infelizmente engolir um sapo ou outro valeria a pena.

Hoje era um desses dias, estava terminando de guardar os pratos da lava louça e depois disso, estava livre para ir para casa. Sabia que Joel havia saído mais cedo, um pouco depois que cheguei, porque Eleanor me avisou que, se eu conseguisse, limpasse o quarto do insuportável, ou melhor, do meu patrão.

Quando estava guardando o último prato, ouvi um barulho vindo do andar de cima. Rolei os olhos e imaginei que tivesse deixado alguma janela aberta e um dos mil porta-retratos que ele tem em seu quarto, tivesse caído. "Isso, Ally! Esses porta-retratos de ricos custam uma fortuna, quebre um e fique sem seu salário por um mês inteiro!", pensei. Bufei e quando estava subindo as escadas, ouvi outro barulho, mas esse muito mais alto. Apressei o passo e seguindo os sons percebi que não era nenhum porta-retrato quebrado, o barulho vinha do quarto de Joel. Parei em frente a porta e olhei por uma fresta e percebi que o quarto inteiro bagunçado. A poltrona virada de ponta cabeça, um espelho quebrado, sua cama bagunçada e, quando dirigi meu olhar a ele, observei que segurava sua mão e gotas de sangue caíam no chão.

Adentrei o quarto em automático, sem reparar que quem estava nele era Joel, o mesmo que me disse para nunca mais entrar ali quando ele estivesse. Ele me olhou e seus olhos pareciam mais escuros do que o normal.

— Eu já não te disse para não entrar aqui? — Suas palavras saíam carregadas de raiva — Será que é muito difícil de você entender isso?

— Na-na-não, não é. — Por que gaguejar, Alyson? Qual o teu problema? — Eu estava na cozinha e ouvi o barulho, pensei ser algo... sério. Sua mão está sangrando.

— Ah, está? —Ele olhou para a própria mão e voltou o olhar para mim — Não me diga! Quem diria, você não é cega! Só é surda, já que não entende todas as vezes que te disse para não entrar aqui.

Rolei meus olhos e ele pareceu reparar, porém não iria deixa-lo com a mão sangrando aquele jeito, mesmo com toda a grosseria e estupidez que existe dentro dele. Caminhei até o banheiro de sua suíte, abaixei e dentro do gabinete, procurei um kit de primeiros socorros que sabia que ele tinha. Quando encontrei, voltei para o quarto e o encontrei na mesma posição.

— Me dê sua mão, por favor. — Pedi, parada em frente a ele — Senhor León. — Ele permanecia parado e sem se mover, apenas segurando sua mão, que agora já vertia sangue e havia sujado o chão. Vendo que não teria outra alternativa a não ser a força, puxei a mão dele e segurei em seu pulso.

— Quem você pensa que é? — Ele bufou, tentando puxar sua mão, porém sem sucesso. Na verdade, se ele quisesse conseguiria puxa-la, mas acho que algo dentro dele pedia para que eu limpasse todo aquele sangue.

Joel permanecia irritado e transparecia isso, entretanto tinha me deixado limpar seu machucado. Abri o kit de primeiros socorros e peguei alguns gases e pressionei o ferimento com eles, que ficaram ensopas de sangue rapidamente, o que me fez pegar mais e repetir o processo. Quando percebi que tinha estancado o sangue, peguei o antisséptico e dei três borrifadas, que o fez resmungar de dor.

— O corte é profundo, acho melhor você ir ao hospital. — Falei enquanto jogava os gases sujos no lixo do banheiro.

— Quantas temporadas você assistiu de Grey's Anatomy para saber disso? — Respondeu debochado. Resolvi ignorar o seu afronte.

— Por que tudo isso? – Tenho que avisar que eu possuo a boca maior do que o mundo e a minha curiosidade consegue ser maior do que isso. Assumo que pedi para que ele fosse grosso novamente. Quando percebi que havia me intrometido demais, voltei atrás — Isso não é da minha conta, eu sei.

Quando estava chegando a porta, ouvi a voz de Joel bem baixa.

—Herança. – Dei alguns passos para trás e voltei meu olhar para ele — Tenho uma herança para receber.

— Certo... – Respondi, tentando entender a situação— E qual é o problema nisso?

— Ela será liberada apenas quando eu estiver casado há seis meses. — Seus dentes estavam cerrados de raiva apenas de lembrar do motivo que o levou a tudo isso.

— Se eu também recebesse uma herança e precisasse estar casada, também não a receberia.— Ri baixinho — Se isso serve de consolo.

— Não serve – Disse grosseiramente — Não sei porque te contei tudo isso, perdi tanto sangue que isso me fez delirar. — Ele riu, mesmo que não houvesse graça nenhuma. Talvez essa tenha sido a primeira vez que eu vi o seu sorriso, e droga, ele era lindo. — Allyson, se essa conversa sair daqui, considere-se despedida.

Respirei fundo, olhei para frente e antes de sair do seu quarto, respondi.

— Sim, senhor.

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