Seria uma pena se...

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— A que devo a honra de sua presença, Sebas? — indaguei dando espaço para que ele entrasse em minha casa.

— Negócios, eu diria. — respondeu parando no meio da sala, prestando atenção em tudo. Girou seu corpo e assoviou — Não lembrava de quão grande essa casa era.

Não respondi nada, só de vê-lo ali já sabia qual era sua real intenção. Sebastian sempre foi muito baixo, mais baixo ainda para conseguir o que queria. Ele sempre invejou por eu ter a maior parte das ações na empresa, dizia que eu nunca quis aquilo. E de fato, não queria. Não foi meu plano número um cuidar de uma empresa, foi a consequência do destino.

Fomos até o escritório do primeiro andar. Antes de fechar a porta ouvi Allyson na cozinha. Quis largar Sebastian ali sozinho e pedir desculpas à ela, dizer que eu fui um idiota, que o meu problema não era ela, muito menos o casamento. Ela é mais como uma luz para mim, me guiando e me mostrando um caminho melhor.

Sebastian fingiu tossir para que eu finalmente fechasse a porta, me tirando dos meus pensamentos. Fiz isso, me sentando de frente à ele.

— Então...

— Então, Joel, acho que você já sabe das novidades. — começou, tinha um sorriso presunçoso no rosto — O pai de Annelyse me vendeu a maior parte das ações. Ele fez um ótimo negócio. Não deveria ter pago nem metade, mas fiquei com pena do velho.

— As ações dele provavelmente valem bem mais do que você pagou, Sebastian. Vá direto ao ponto. — respondi sem paciência. Odiava fingir tipo. Engolir Sebastian era uma das tarefas mais difíceis para mim.

— Pensei que poderíamos tomar um whisky, como bons adultos que somos.

Respirei fundo pela terceira vez em menos de um minuto. Pensei se teria grandes consequências se desse um soco em Sebastian só para tirar esse sorriso do seu rosto. Me levantei, indo em direção ao mini bar que tinha no cômodo, e servi um copo para ele.

— Não vai me acompanhar?

— Alguém precisa ser responsável, não acha?

— Não temos mais dezessete anos, Joel. Podemos beber a hora que quisermos. — respondeu dando um grande gole no líquido de seu copo.

— Disse bem, a hora que quisermos. Eu não quero. — falei firme — Agora, por favor, o que você quer?

Ele mudou seu olhar. Antes estava fazendo graça, sendo irônico, mas dessa vez estava mais forte, destemido.

— Tenho quase a mesma porcentagem que você na empresa.

— Quase? Você tem apenas quarenta porcento.

— Quarenta e três. — disse arrogante — E eu sou ganancioso, sempre fui. Não vou parar até conseguir a maior porcentagem nos negócios.

Me inclinei para frente, cruzando as duas mãos e olhando-o intrêmulo.

— Isso foi uma ameaça?

Sebastian riu, mas sem humor algum. Aquela conversa tinha tomado um outro rumo e estava cheio de entrelinhas.

— De jeito algum. Eu não ameaço ninguém.

— Certo. E você veio aqui para me avisar disso?

O ar estava carregado, pesado. A tensão pairando. Nunca nos entendemos. No colégio, ele era do grupo que adorava zombar dos outros, seu pai passava a mão em sua cabeça sempre. Nunca foi responsável, não precisava ser. Perdi as contas de quantas vezes ele foi para a delegacia, mas seu pai pagava o que tinha que pagar e seu nome nunca ficou sujo. Ele tinha tudo muito fácil, igual a mim. A unica diferença é que eu tenho discernimento do que é certo e errado, e ele não.

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