C.P 22

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Piscicopata

Seus braços fortes puxam o corpo magro de Benna e ele nada até a borda com facilidade.

Porra. - ele sussurra para si mesmo e encara o rosto cheio de pavor da garota, perto do seu.

Os pingos dos cabelos escuros e molhados de Benna caindo em seus braços não o incomodam. As pequenas mãos de Benna segurando seus ombros largos o deixa vulnerável. E ele odiou isso.

– O que tem lá? - Benna perguntou após vários segundos tentando acalmar seu coração acelerado. Suas pernas tremem e ela ainda pode sentir algo roçando seus pés.

Benna sai do lago com um pouco de dificuldade e se deita em meio às folhas secas e marrons, sua respiração ofegante á incomoda.

– Não achei que você iria pular. - ele diz saindo do lago e em seguida deita ao lago de Benna.

– O que tem lá? - Benna pergunta novamente, desesperada para saber que diabos foi aquilo.

– Corpos. - o Piscicopata fala baixo e Benna estremece. – Eu achei que você não iria pular.

– Corpos... - ela repete com a voz fraca.
– Droga, eu pulei em um lago cheio de corpos! - ela diz exasperada e se senta, colocando as mãos no coração.

O Piscicopata continua deitado, e novamente sem conseguir se conter, ele olhou para as costas finas e expostas da garota e sentiu o calor preencher seu corpo rapidamente.

Ele levantou num impulso e pegou a pequena regata branca do chão e a jogou para Benna.

– Vista isso! - ele falou alto, assustando Benna.

Vê-la daquele jeito - apenas de sutiã - estava o deixando louco, ele não estava mais conseguindo se conter, e isso o deixou com raiva, pois ele tinha que ter controle, sempre. Por que a última vez que ele perdeu o controle, ele perdeu a coisa mais preciosa de sua vida.

Benna vestiu a regata seca rapidamente e levantou-se. Alguns fios de seus cabelos escuros estavam grudados em seu rosto e Benna os tirou enquanto seguia o Piscicopata até a casa em que ela menos queria estar.

– Vá para o banheiro. - o Piscicopata falou para Benna quando eles entraram na pequena casa.

Benna apenas assentiu e foi para o banheiro abraçando a si mesma.

O Piscicopata encostou a testa no mármore branco e gelado do banheiro em seu quarto e respirou profundamente. Ele não sabe por que, ele não entende por que, mas ele não queria que Benna soubesse dos corpos no lago.

Na verdade, ele está incomodado com o fato de que Benna sabe o que ele é, e depois de anos, ele não quer que alguém o veja como um monstro.

Mas é isso o que ele é.

Saiu do banheiro depois de um banho demorado e vestiu uma camisa branca, uma jaqueta jeans e calsa preta, então ele pegou a roupa - uma regata preta e um shorts de pano -, de Benna e levou até a porta do banheiro. 

O vento soprou forte em seu rosto quando o mesmo bateu a porta da casa com força e a trancou com sete chaves diferentes.

Enquanto ele caminhava pela floresta fria, se amaldiçoou por ser como é. Amaldiçoou seu passado - como sempre fez -, amaldiçoou os que o quebraram e pela primeira vez, se odiou por fazer o que faz.

Raiva. Angústia. Vergonha. Rancor. Todos esses sentimentos estão se acomulando em seu peito e o rancor e a raiva são os maiores deles.

Caminhou lentamente pela calçada suja. Se virou de frente para  o muro de tijolos desgastados. Sentia raiva de quem ele era. Sentia raiva por quem ele havia se tornado. Por que tinha que ser assim? Por que se tornou um monstro?

Fechou a mão com força e com um impulso, passou seu punho no muro de tijolos e cimento. Arranhando feio a mão, sentiu sua pele rasgar. Socou novamente, sentindo o local arder e ficar cada vez mais vermelho. Mas não sentiu dor.

Na tentativa de sentir alguma coisa, repetiu o ato, finalmente revelando o sangue entre seus dedos. Mas não sentia dor, ainda não. E isso o fez repetir o ato outra vez.

Com a respiração ofegante, ele se sentou no asfalto sujo e retirou um maço de cigarros do bolso de sua jaqueta jeans. Acendeu seu vício e o tragou com força.

Expulsou a fumaça da boca e encarou o chão. Seus pensamentos estavam em como ele estava se sentindo.

Podre.

Sua raiva por si mesmo era grande e ele sentia vergonha do que havia se tornado.

Mas não dá pra voltar atrás, então foda-se! - pensou e levantou-se. Jogou o cigarro no chão e o apagou com a sola do tênis.

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Esse ficou bem pequeno, mas é que eu não queria deixar
vocês sem capítulo por
muito tempo, e já estava
demorando.
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Um Pscicopata ApaixonadoOnde histórias criam vida. Descubra agora