Quanto é "pouco"

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O sol brilhava sobre a cidade de Atenas enquanto um casal, ele de cabelos negros, ela de cabelos dourados, tentava tirar uma foto na frente do Parthenon. O monumento se erguia atrás do casal com suas colunas, ornando com o melhor que se tinha da arquitetura grega e acabado pelo tempo e a falta de reparos de um país em crise. Ela segurava um celular e tentava encaixar os dois e o monumento centenário dentro de uma selfie. À frente deles, a cidade se estendia com suas centenas de casas até alcançar o mar azul que atingia a linha do horizonte e refletia a luz do sol.

A jovem conseguiu enquadrar os dois dentro da foto e tirou uma, duas fotos. Na segunda, no entanto, o jovem virou o rosto beijando a amada, a noiva, na bochecha. Seu doce beijo saiu na foto, assim como a vermelhidão no rosto da amada.

— Gostei dessa foto - disse Anúbis pegando o celular de Sadie para ver a foto melhor.

Sadie se virou e encarou o grande monumento que havia diante de si. Haviam saído de Santorini naquela manhã e ido visitar a capital grega antes de dar o passeio como terminado. Era muito prático poder contar com o poder de viajar pelo Duat de Anúbis, tudo ficava muito mais rápido e econômico. Sadie botou a mão sobre os olhos protegendo-os da intensidade da luz do sol enquanto admirava a beleza do mais famoso monumento grego.

— Você chegou a o ver? Quando ele era novo? - perguntou Sadie e, diante da pergunta, ele desviou o olhar do celular e olhou na direção que ela olhava.

— O Parthenon? - perguntou ele.

— É.

— Na verdade sim - disse ele dando o celular de volta para ela e então encarando também o monumento - Terminaram de construir ele pouco antes dos gregos dominarem o Egito.

— Quanto você chama de "pouco"? - perguntou ela fazendo ele dar uma pequena risada e olhar para ela com um sorriso.

— Uns 100 anos.

Apesar do sorriso que estava em seu rosto, Sadie viu o que aquele olhar dele guardava no fundo que ele não queria mostrar. "Pouco". Uns 100 anos, era "pouco". Teriam sorte se tivessem mais tudo isso de vida pela frente. E, no entanto, era isso que 100 anos sempre representou para ele. Pouco.

Foram esses pensamentos repletos de culpa que assolavam agora a mente de Sadie enquanto eles andavam pela capital grega. E, por isso, ela pouco disse. Anúbis, claramente, não deixou de notar isso. Sabia muito bem como a noiva era tagarela e faladora.

— Sadie? Sadie? - dizia ele tentando chamar atenção.

— Hum? - perguntou ela meio perdida, meio aérea.

— Você está bem?

— Estou... eu só... estava... pensando. - dizia ela olhando para o chão.

— Sobre? - perguntou ele curioso.

Ela olhou em seus olhos e não teve coragem de perguntar o que queria. Não ainda. Teria ele pressa de viver vendo tão poucos anos à sua frente comparado ao que tinha antes? Talvez por isso ele tivesse terminado a faculdade tão rápido também. Sim, querendo de fato viver uma vida de humano com ela, ele tinha feito a faculdade. Terminou o curso muito rápido. Mais rápido do que o esperado talvez. Mas talvez seja meio injusto ao se comparar que ele teve 5 mil anos para aprender todo tipo de coisa, que ele teve 5 mil anos de experiência como juiz dos mortos e, ali estava ele, um advogado que estava contando os dias para conseguir ser juiz dos vivos.

— Você realmente não liga de se casar numa igreja? - perguntou Sadie. A tentativa de desviar do assunto foi percebida pelo outro. Mas ele se deixou levar, perguntaria sobre o que ela de fato estava pensando quando ela estivesse mais propensa a falar.

O amor abençoado pelo NiloOnde histórias criam vida. Descubra agora