On the way home

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Último capítulo de Stigma! Volto em breve com o Epílogo em duas partes. Muito obrigada a quem leu até aqui <3

DEZEMBRO

- Talvez se nós subirmos o tom mais uma vez...

- Jimin, o que acha de subir o tom? Ficaria mais confortável pra você? - Namjoon, com as mãos apoiadas na mesa de mixagem, falava ao microfone. Do outro lado do vidro, o loiro acenava em concordância e ajustava o próprio fone de ouvido, frustrado.

Já tinha perdido as contas de quantas vezes aquele único verso fora regravado em uma mesma noite. A música, com uma melodia quase angelical, ainda não tinha entrado na mesma sintonia que Jimin. Era um processo árduo, repetitivo e desgastante aquele de gravar uma única faixa. Deitado no pequeno sofá de couro do estúdio de Namjoon, só me restava observar enquanto ele e Yoongi trabalhavam duro pra fazer alguma mágica acontecer. A verdade é que a decisão de trabalhar ininterruptamente durante o feriado de fim de ano não era muito inteligente. O cantor estava frustrado com a exaustão das próprias cordas vocais, o compositor inconformado com o trabalho, que não fluía como sua escrita e o produtor, mais velho e maduro, apenas tentando manter a compostura diante do cansaço. Sem perceber em que momento me dispersei, acordei com uma chacoalhada forte nos ombros. Era Yoongi, chamando meu nome.

- Jungkook! Você tá roncando.

- Hm? - olhei ao redor, vendo Namjoon e Jimin juntos, discutindo algo sobre a música em questão, enquanto o garoto de cabelos verdes, com mais um daqueles cigarros de maconha entre os dedos, me encarava de cima - eu não dormi.

- Certo. Provavelmente está com fome, já está tarde, mas não devemos terminar não cedo. Por que não desiste de ficar aqui olhando e vai pra casa descansar?

- Eu já disse, não quero ficar sozinho. Prefiro estar aqui.

Ele revirou os olhos, não por invalidar minha vontade de estar por perto, mas por saber que estava tão cansado quanto eles e me recusava a aceitar seus conselhos. Tragou o cigarro amarronzado, metendo a mão em um dos bolsos do jeans, buscando algo. Tirou de lá algumas notas de baixo valor.

- Tome, vá pelo menos fazer uma refeição por aí. Isso deve ser o suficiente. Quando terminar, volte pra casa sem pressa e já devemos estar lá.

Assenti a contragosto. Não gostava da ideia de gastar aquele dinheiro com uma refeição só pra mim, mas não podia negar que, depois de comer apenas um pacote de ramen o dia todo, já estava faminto. Não sabia bem qual horário era aquele, porém, andando pelas ruas movimentadas de perto do estúdio, uma televisão anunciava o início do jornal noturno. "Já passa da meia noite, todas as novelas da noite já acabaram" Taehyung diria. Sorri com a lembrança.

Era inevitável me render aos pensamentos sobre ele naquelas circunstâncias. Aquela não era só mais uma noite comum no calendário e, no entanto, eu ainda estava ali sozinho, vagando pelas ruas do bairro, vendo os humildes bares abertos, com grupos de pessoas rindo e discutindo os mais diversos assuntos, os bancos de madeira ocupados por casais quase invisíveis, os cachorros correndo em bando por entre as vielas. O bairro não era de luxo, mas tinha muita vida. Talvez muitos sonhos mortos esvaíssem todos os dias pelo esgoto, debaixo do piso em que caminhávamos, mas ainda havia uma certa beleza na ternura que remanescia ali. Sobre muitas mortes passageiras se construíam as vidas.

Em condições normais, teria subido a ladeira para comprar um pequeno prato pronto de ovo frito com salsichas e arroz, mas decidi fazer o caminho inverso, descendo a rua para alcançar uma região mais movimentada do bairro. Era onde as pessoas da minha idade dali se encontravam. Portas discretas que levavam a boates para todos os públicos, bares com bilhar e música alta, uma loja esotérica que funcionava por 24 horas e uma pequena livraria rústica, na esquina, cujo nome me chamava atenção.

Stigma - taekook;vkook -Onde histórias criam vida. Descubra agora