Prólogo

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Vamos dizer que eu me via à beira do precipício de um desespero assustador... quer dizer, eu estava na fila de uma agência de empregos. Eu estava desesperada por dinheiro para conseguir me manter financeiramente naquela cidadezinha fria e pacata onde me enfiei.

Minha situação financeira era gritante.

Depois do meu acidente que me fez perder parte de minhas memórias, eu tentei voltar a viver a minha vida normal, mas era impossível. Algo faltava em mim, algo que me deixava perturbada. Parecia que faltava um detalhe para desvendar aquele quebra-cabeças que era a minha mente perturbada por possíveis relances de memórias que me deixava mais confusa.

Foram dois anos de minha vida que haviam sido apagados, e por esses dois anos que me fez tomar essa decisão drástica e totalmente irresponsável, como trancar a minha faculdade de medicina - faltando apenas um ano e meio para concluí-la -, largar a minha vida na cidade e me socar naquela cidade minúscula e cinzenta de Konoha. Estava focada em começar a minha vida do zero, longe dos meus pais super protetores que me sufocava. Longe de minhas amigas que se tornaram estranhas com a ignorância de que nada de diferente havia acontecido nesses dois anos perdidos, e longe dos colapsos de lembranças que me assombrava a noite em meus pesadelos.

A fila avançava, estava ali há horas para consegui uma vaga para trabalhar, aceitaria qualquer coisa. Quando finalmente chegou a minha vez, aproximei da mesa da funcionária que estava com uma cara cansada e falava ao telefone. Ela fez um gesto com a mão para que eu me sentasse na cadeira, e logo desligou o telefone e me entregou um formulário, dando início a entrevista.

- Seu nome por favor!?

- Sakura Haruno.

- Idade?

- Vinte e três anos.

- Têm ensino médio?

- Sim. E três anos e meio de medicina. - ela carimbou uns formulários e me fitou. - Eu tranquei a faculdade.

Ela assentiu e continuou:

- É casada?

- Solteira.

- Têm filhos?

- Não.

- Mora sozinha?

- Sim... Err, acabei de me mudar para a cidade.

Ela se inclinou para alguns papéis e começou a escrever por algum tempo. Não consegui evitar que meu rosto se contorcesse em uma careta, perguntando-me internamente o que tanto ela escrevia.

- Senhorita Haruno, você gosta de crianças? - ela voltou a perguntar, mas sua atenção estava nos papéis.

- Gosto. Ahn, eu iria me formar em medicina pediátrica.

Existe alguém mais patética do que eu?

Estava nervosa, minhas mãos soavam, e pedia mentalmente para que tudo desse certo. Minhas economias - que era uma merreca - estava acabando, e não estava afim de voltar para a minha antiga cidade e ouvir o sermão dos meus pais por eu ter sido uma inconsequente de largar tudo e fugir de casa.

A mulher não pareceu nem um pouco interessada na minha resposta, e muito menos da minha quase formação de medicina pediátrica, e me entregou um anúncio de emprego.

PRECISA-SE DE UMA BABÁ DE TEMPO INTEGRAL.

ATRIBUIÇÕES: CUIDAR DE UMA MENINA DE SETE ANOS, E SERVIÇOS DOMÉSTICOS.

Observação: Como precisaremos dos serviços por quase vinte e quatro horas, oferecemos um quarto na casa e comida.

O emprego era de babá e empregada doméstica. Eu nunca havia trabalhado em casa de família e muito menos cuidado de crianças por mais de vinte quatro horas. Bom, pelo menos a questão do abrigo estava resolvida, pois o dinheiro que tinha não dava para pagar a minha estadia na pensão onde estava hospedada na semana que vem.

- Cuidar de uma criança... parece interessante. - eu sei, meu comentário foi totalmente desnecessário.

Ela me entregou um cartão contendo o nome do meu novo patrão e o endereço.

- Esteja lá, às seis da manhã.

- As seis da manhã?

- Você vai quer o emprego ou não quer? - seu tom foi totalmente grosseiro.

Apenas assenti com a cabeça. E ela como uma boa mal-educada gritou "Próximo" antes mesmo de me levantar da cadeira para a fila atrás de mim.

Suspirei enquanto caminhava pela calçada, o frio gelava a ponta dos meus dedos que segurava o cartão. Eu lia o nome Sasuke Uchiha escrito naquele pedaço de papel, e algo se agitou dentro de mim.

Aquele nome, aquelas letras, aquelas silabas... Eu não sabia como, mas algo dentro de mim gritava, alegando que eu havia feito a coisa certa de fugir da minha antiga vida e estar ali, sozinha, sem dinheiro, e sem nenhum conhecido, apenas com a minha sorte lançada ao vento.

E algo me dizia que eu podia conseguir encontrar as peças que faltava desse meu quebra-cabeças.

The SecretOnde histórias criam vida. Descubra agora