Oito

1.5K 237 350
                                    

Eu chorava baixinho, encolhida debaixo dos lençóis daquela estreita e desconfortável cama de solteiro daquela pensão. Minha cabeça doía, meus olhos estavam inchados, e meu rosto completamente vermelho de tanto que eu chorava. Não entendia o que tinha acontecido para me dispensarem assim, sem um motivo coerente. A minha falta de experiência naquela profissão não era um bom motivo para ter me chutado como se eu fosse um cachorro com sarna. Eu havia feito meu trabalho direito, eu cuidei e amei Sarada como se ela fosse minha própria filha.

Eu não sabia explicar, mas aquela menina tinha algo que preenchia o vazio que estava em meu peito, me fazia sentir-me viva. Sarada havia se tornado em tão pouco tempo alguém importante para mim, como se fosse tudo o que eu estivesse procurando nessa minha vida sem sentido. Eu estava me sentindo injustiçada, a dor que eu sentia em meu coração era algo quase que insuportável, parecia que havia arrancado um pedaço de mim. A agonia era pior do que ter minhas memórias esquecidas, era pior do que ficar sem oxigênios em meus pulmões.

Fiquei mais um bom tempo chorando, lembrando-me que havia me sobrado somente a opção de usar o dinheiro que ganhei para comprar uma passagem de trem e voltar para casa com o rabo entre as pernas, e ouvir os sermões de meus pais pela minha atitude idiota. Com tais pensamentos eu acabei sendo vencida pelo cansaço e acabei dormindo no meio da madrugada.

* * *

Eu me via no meio de uma sala ampla e luxuosa de frente para uma janela de vidro que ia do teto ao chão, contemplava a vista luminosa de Tóquio, a noite estrelada e a lua cheia no céu deixava tudo muito bonito. Senti um par de mãos me rodeando a cintura, aconchegando meu corpo com o corpo de trás. Minhas mãos seguraram as outras mãos por cima, meu coração acelerava com o toque de nossas peles, o quente no frio.

- Gostou da vista?

- É linda – respondi, meus lábios se curvando para cima. – Nunca vi Tóquio por esse ângulo de altura, parece até outro lugar.

Ele segurou minha mão e me virou para ele, capturando minha atenção com seus olhos negros. Não conseguia distinguir o rosto, a nevoa branca cobria todo ele, só seus olhos que se destacavam. Tocou meu rosto com as costas de seu dedo frio, causando um formigamento em minha pele por onde ele tocava. Colocou uma mecha de meu cabelo para detrás de minha orelha e desceu as pontas de seus dedos pelo meu pescoço, sem desviar nem um segundo seus olhos dos meus.

- O que foi? – Perguntei, a voz saindo baixinha depois de alguns segundos naquele silêncio.

- Estou apenas contemplando o quanto tu es linda.

Sua voz suave fazia com que as borboletas em meu estômago ficassem agitadas e o coração batesse mais rápido. Desviei meus olhos dos deles, incapacitada de continuar encarando seus olhos intensos.

- Assim você me deixa sem jeito – murmurei, sentindo meu rosto quente.

- Não precisa ficar tímida, apesar de gostar de vê-la com o rosto rubro. Mas só digo o que meus olhos veem. – Tocou o meu queixo, trazendo minha atenção para si. – E meus olhos não mentem quando contemplo seus olhos verdes e enxergar a pureza de sua alma. O mesmo com seu sorriso, é como contemplar uma constelação de estrelas. Você é a recompensa por todos os meus anos vividos. Eu a amo, Sakura. Amo-te tanto que minhas entranhas se contorcem quando penso na possibilidade de perdê-la. Não sei como será minha vida daqui para frente sem ti, sem os seus toques, sem a sua presença. Sou um homem corrompido por pecados que encontrou a paz em seus braços.

Eu soltei todo o ar que eu prendia em meus pulmões. Aquela havia sido a melhor declaração que alguém fez por mim, eu não sabia o que responder, e o melhor a se fazer era ser honesta com meus sentimentos e declará-los de uma vez por todas não só para ele, como para mim mesma:

The SecretOnde histórias criam vida. Descubra agora