capítulo dois - lar doce lar

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A cidade parecia tão familiar e ao mesmo tempo tão estranha. Eu não sabia explicar, só não parecia mais a mesma. Mas eu também não estava igual e isso era bom, certo? Mudanças são boas. Isso, Alyssa, mudanças são ótimas.

Tentei me convencer enquanto repetia isso e recuperava a postura. Mesmo assim, meu desconforto era quase palpável ali naquele táxi.

Pensei na última vez em que estive ali e como tudo parecia mais acolhedor. O que tinha acontecido nesse tempo em que estive fora que agora me fazia querer sair correndo daquele lugar?

Suspirei quando o táxi parou em frente a minha antiga casa. Por mim, ficaria em um hotel, mas minha mãe realmente me queria para fazer companhia e eu não pude negar, imaginava o quanto ela se sentia sozinha, principalmente agora que Jason havia se mudado.

Ali estava. A mesma casa, no mesmo lugar, com a mesma varanda de madeira e os mesmos móveis ali. Tudo parecia exatamente como antes. Pensei em como poderia estar melhor se minha mãe me deixasse comprar coisas novas.

Paguei o motorista que me ajudou a pôr as malas na varanda e então se foi.

Olhei em volta respirando fundo. Não me sentia bem.

Logo ao lado, estava a casa que costumava ser de Harry. Essa também não parecia ter sofrido grandes mudanças por fora, e as janelas dos nossos quartos continuavam lá, de frente uma pra outra, isso facilitava bastante na época. Será que ele ainda morava ali?

Balancei a cabeça, não importava.

Terminei de subir os três degraus da varanda e toquei a campainha. Minha mãe gritou um "já vai" e eu respirei fundo enquanto me perguntava como ela estaria depois de todo esse tempo, não dava para perguntar certas coisas por ligação. Será se ela guardava mágoa por eu nunca vir visita-la? Bem, ela sabia dos meus motivos...

A porta foi aberta.

- Ah, querida...

Sua voz doce me acalmou imediatamente e eu não pensei duas vezes antes de me jogar em seus braços e a abraçar tão forte quanto podia, ela retribuiu isso, e assim permanecemos por algum tempo. Quando nos soltamos, pude ver que ela tinha deixado cair algumas lágrimas, me esforcei para não fazer o mesmo.

- Veja só como está linda. - parou para me analisar, parecia realmente encantada e isso me deixou feliz.

- A senhora também está deslumbrante, mãe.

Ela realmente estava. Minha mãe sempre pareceu mais nova do que era e sempre foi tão bonita. Seus olhos tão azuis, seu cabelo tão castanho... E tudo isso não era nada comparado a sua personalidade doce e ao mesmo tempo muito animada, o que fazia dela alguém muito admirável. Só sendo muito estúpido para deixar ir alguém como ela.

- Ah, não. - dispensou meu comentário - Olhe para você, parece que acabou de sair de uma capa de revista.

Eu estava usando meus saltos preto e branco favoritos e um vestido longo de renda branca. Decidi usar branco já que era a cor da estação, e eu não queria me distanciar de quem eu era só porque estava no campo. Sendo assim, não largaria os saltos também.

- Mas por que tanta mala, Ally? Resolveu vir para ficar?

Dei uma risadinha estranhando o antigo apelido e levamos minha bagagem para dentro.

- Ah não, não, nem é tanta coisa assim.

Minha mãe tinha feito comida, e apesar de estar morrendo de saudade da sua comida que eu tanto amava, não poderia comer tanto. Comi bem menos do que ela gostaria, mas no fim ela entendeu.

Conversamos um pouco sobre o meu trabalho e ela fez algumas perguntas, que eu adorei responder, até que o tópico mudou para minha vida pessoal, incluindo o meu namoro. Essa parte não foi tão divertida.

Logo que minha mãe saiu da sala, dizendo que eu deveria ir descansar em meu antigo quarto, passei a reparar na casa. A sensação boa que sentia logo sumiu.

Por dentro a casa também estava igual, nada fora retirado ou colocado aqui. Pelo menos nada de objeto, pensei, costumava haver uma família aqui.

Mas de família, só restavam as lembranças por toda parte. Os quadros que meu pai costumava pintar, continuavam nas paredes (me perguntei porque minha mãe ainda não tinha jogado fora, se fosse eu já teria queimado tudo há anos), as medalhas e troféus que eu e Jason ganhamos na escola com alguns esportes, ainda estavam ali, sendo usados como parte da decoração, também havia fotografias por toda parte, agradeci que pelo menos nelas, não tinha meu pai. Mesmo assim, aquela sala era como uma memória constante do que um dia foi uma família unida e feliz. Fazia apenas algumas horas que estava ali e já me sentia mal, como minha mãe suportava isso todos os dias?

Ela viu a família se despedaçando e todos indo embora, seguindo suas vidas, e mesmo assim preferia permanecer ali. Eu não entendia.

Meu antigo quarto claramente tinha sido arrumado para minha chegada, não muito diferente de como eu havia deixado também. Era um lugar reconfortante, levando em conta que todo o resto da casa me fazia sentir mal e ao entrar ali isso pareceu diminuir.

O quarto não era muito grande, tinha um guarda-roupas embutido na parede, com algumas portas cheias de prateleiras e gavetas, uma cama de solteiro, que ficava no canto da parede em frente a porta. Havia uma mesinha com alguns livros e objetos de estudo que eu costumava usar, mas quase mais nada além disso. A minha parte preferida costumava ser a janela, eu lembro que adorava ter a vista do quarto do meu melhor amigo e depois namorado.

Olhando pro criado mudo que ficava entre a cama e a janela vi um porta retrato. Eu me lembro dele.

Me aproximei e não pude evitar uma risada.

Harry e eu aparecíamos na foto, eu devia ter uns dezesseis anos e ele dezessete. Estávamos suados e rindo por ter acabado de apostar uma corrida quando Jason resolveu tirar uma foto espontânea de nós dois. Mesmo suados e grudentos a gente se abraçava e riamos um para o outro como se nada mais importasse, e naquele momento não importava mesmo. Foram bons tempos, não tinha como negar.

Eu não podia deixar de me perguntar se ele ainda vivia ali, ou se havia se mudado, ele costumava adorar aquele lugar, mas nunca se sabe o quanto alguém pode mudar.

Sorri mais uma vez colocando o porta retrato onde estava antes, e quando ergui a cabeça meu coração parou. A cortina foi fechada por impulso e só voltei a abrir depois que minha respiração voltou ao normal.

Ninguém. Não tinha mais ninguém ali. Mas eu vi, Harry Styles realmente esteve bem ali na minha frente. Na janela de seu quarto.

Então ele continuava morando aqui?

Okay, preciso descansar.

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