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capítulo onze - Caleb

— Tá, pode me explicar agora. — olhei séria para o meu namorado, assim que entramos em meu quarto.

— Por que você não parece feliz em me ver? — ele questiona.

— Porque será, não é? — digo ríspida.

— Vamos falar sobre isso. Estou aqui pra tentar me redimir.

Levanto as sobrancelhas estranhando completamente o comportamento dele, mas comecei a listar.

— Primeiro me liga bêbado, escuto voz de mulher ao fundo, depois para de me atender e então me manda uma mensagem bravo, como se a culpa fosse minha, eu...

— Okay, calma, me escuta. — segurou meu rosto. — Sim, eu te liguei bêbado, você veio pra cá sem mais nem menos, eu não reagi bem.

Revirei os olhos. Sem mais nem menos?

— E tinham garotas sim onde eu estava, mas não precisa se preocupar, nenhuma delas chega aos seus pés.

Okay, isso era um pedido de desculpas ou?

— Okay, Caleb, okay, mas não me culpe por estar surpresa. Largou o trabalho e tudo mais pra vir aqui onde falou ser um fim de mundo? Por que?

— Por você, oras. Senti saudades. Tentei te ligar pra avisar, mas você não atendeu.

— Ah.

Ele não era do tipo fofo, ou do tipo que dizia que sentiu saudades, isso era novidade pra mim.

— Mas e o trabalho?

— Ally. — ele nunca me chama assim. — Eu não posso uma vez na vida largar tudo e vir atrás da minha namorada?

— Hm… Pode, sim, claro que pode… Isso só não é muito típico.

Ele sorriu e me puxou pra um abraço.

Tentei arrumar minha mente.

Eu estava com Caleb, a pessoa que cuidou de mim nos últimos anos, que me ajudou a ser quem sou. Caleb, meu namorado.

Porque não me sentia tão feliz?

— É aqui que está ficando? — Ele olhou em volta.

Sabia o que tinha em sua mente. Estava julgando a falta de luxo e listando o que tinha de errado com o quarto segundo sua concepção.

— É a casa da minha mãe. Esse é meu antigo quarto.

— Ah, sim. Vindo pra cá eu vi uns hotéis bonitinhos até, nada muito cinco estrelas, mas acho que seria melhor do que o quarto de uma criança. Poderíamos ir pra lá.

— Eu… bom, não acho que minha mãe ficaria muito feliz comigo se fizesse isso.

Minha mãe já estava dormindo e por isso não viu Caleb ainda, com certeza seria uma surpresa para ela também.

— Acho que vale a pena tentar. Não tem espaço nessa cama para nós dois.

Pensei em Harry e em como dormimos confortavelmente na noite passada. Sim, tinha espaço.

Por falar em Harry, queria saber o que passou por sua mente quando me viu entrando em casa com Caleb, nem me despedi dele antes de entrar.

Mas pensando bem, era melhor assim. Eu já tinha tomado a decisão de me afastar e agora que meu namorado estava aqui, a ficha do quão errado aquilo era estava começando a cair.

Caleb não merecia isso.

Ele disse estar muito cansado da viagem e que só queria tomar um banho e dormir. Mostrei o banheiro a ele e arrumei a cama. Pelo menos por hoje, precisava ser suficiente.

Fui fechar a janela e assim que me aproximo, vejo Harry do outro lado, em seu quarto, ele me olha por um segundo e eu aceno rapidamente, o que ele retribui. Não consigo ler sua expressão, mas não passo muito tempo tentando. Tranco a janela.

— E vai ter esse evento em alguns dias. Uma marca ofereceu um bom dinheiro para você usar um vestido deles. Mas expliquei que não podia.

Caleb estava listando e detalhando todos os eventos que perdi e os que estou prestes a perder, não sabia muito bem o que esperava com isso, mas estava me cansando de tanta falação.

— Sabe, já que estamos aqui, por que não encarar como férias?

Ele levantou as sobrancelhas.

Estávamos os dois deitados na cama, e apesar de ele não ter reclamado tanto do pouco espaço, sei que queria.

— Quero dizer, em todos esses anos, nunca te vi tirar um tempo significativo para si mesmo, para relaxar e desestressar, dar um tempo de todo o trabalho.

— Eu amo meu trabalho.

— Sei que sim. Mas é bom parar pra respirar de vez em quando.

— Se quer férias, poderíamos sair daqui e ir para um lugar legal de verdade. Eu até te deixo escolher.

Bufo irritada.

— Okay, okay, desculpe. Casamento do seu irmão. Super importante. Bla bla bla. Só estou dizendo.

— Quanto tempo pretende ficar? — pergunto.

— O suficiente para matar a saudade.

— Entendi. — é a minha resposta. Ainda não entendendo aquele comportamento repentino.

— Quem era o cara com você lá fora?

— Quem?

— Quando eu estava chegando, você estava com um cara, ele te deu alguma coisa e então eu cheguei e…

— Harry. — respondi rápido. — É um amigo antigo.

— E o que tem na sacola que ele te deu?

— Ora ora, como estamos curiosos hoje. — ironizo. Ele nunca foi do tipo ciumento também.

— É só uma pergunta.

Pensei na sacola rosa que eu tinha colocado na cozinha, nem tive tempo de ver o que era.

— Eu não sei o que é, deve ser alguma sobremesa, ele tem um restaurante.

Ele parece surpreso.

— E você tem comido sobremesas?

— Eu… não. — garanti. — Não.

— Tem sim, não tem? — ele suspira. — Mal chegou aqui e já perdeu o foco.

— Foi só um pedaço de torta, não vamos dramatizar.

— Acontece que um pedaço de torta não vai te ajudar nada na carreira. Alyssa, entenda que temos contratos e que se engordar um quilo que for, tudo acaba.

Senti vontade de chorar pela forma que ele falou, mas entendi seu ponto. Ele só estava cuidando de mim.

— Sabe que te amo, certo? Mas estou preocupado com os possíveis deslizes que essa viagem pode te trazer.

O maior deslize já foi cometido, pensei.

— Falamos sobre isso amanhã. — encerrei o assunto. — Vai dormir, você deve estar cansado.

Ele bocejou, confirmando o que falei.

Dei um selinho nele, que me puxou pra um beijo mais intenso.

Caleb sabia beijar, seus beijos se encaixavam aos meus e isso era mais um ponto positivo pra ele.

Depois que ele dormiu, voltei a janela, tentando me convencer de que queria pegar um ar, mas talvez, só talvez, eu estivesse interessada na vista do quarto da frente.

O que não tive, já que a janela de Harry estava trancada.

Não queria incomodar Caleb voltando pra cama, seu sono era leve. Então fiquei ali, com a mente viajando, e quando vi já tinha amanhecido.