capítulo dezoito - tatuagens e decisões

3.8K 299 178
                                    

O casamento estava cada vez mais próximo e isso não deveria, mas me deixava triste.

Triste porque em breve teria que deixar a minha família e Harry para trás de novo. Ele também pensava nisso, sei que sim, mas não falava nada e não me permitia tocar no assunto. 

"Vamos apenas viver o hoje e nos preocupar com o amanhã quando ele chegar" É o que ele dizia. Eu fazia piada sobre ele ter tirado aquilo de algum livro de autoajuda, mas mesmo assim calava a boca.

Ultimamente tínhamos estado muito próximos. Para nossas famílias, tínhamos apenas voltado com a amizade, Jason era o único que sabia o que realmente estava acontecendo. Achamos mais simples dessa forma.

Meu irmão não se meteu, como pensei que faria, mas sei que ele acha que isso não vai acabar bem.

Só que eu sabia das possíveis consequências, Harry também, e queríamos aproveitar cada minuto que tínhamos juntos, independente delas. E quando o amanhã chegasse, lidaríamos com ele.

Ashley já tinha voltado a falar com Harry, mas pelo que ele diz não o perdoou cem por cento ainda (imagino se ela soubesse que estávamos juntos). Às vezes gerava tensão, mas ainda assim eram profissionais e isso não os afetava no restaurante.

Como de costume, eu estava com Harry em meu quarto, que tinha entrado pela porta da frente hoje, já que tinha almoçado por ali.

— Nem todas têm realmente um significado. — Ele diz me surpreendendo.

O fiz tirar a camisa pra poder olhar com mais atenção suas tatuagens, que eram a maioria no tronco.

— A borboleta tem? — comecei pela que mais me chamava a atenção.

— Representa a coragem de um bêbado.

— Tá brincando. — gargalhei.

— Esperava algo inspirador, não é? — assenti ainda rindo. — Alguns copos numa noite qualquer e pareceu uma boa idéia.

— Geralmente tatuam nomes de namoradas nessas situações.

— Bom, eu não tinha nenhuma. Me restou a borboleta.

Minha barriga  doía de rir. Respirei fundo e fui pra próxima. 

— os pássaros. Têm significado? — perguntei tocando seu peito onde tinha os desenhos.

— Não, são só pássaros. — ele riu da cara de decepção que fiz, já que esperava alguma outra história interessante por trás.

— Anne e Gemma. — toquei as iniciais dos nomes da mãe e da irmã que ele tinha gravado nos ombros. Ele assentiu afirmando que eu estava certa. — 1957 e 1967?

— Data de nascimento dos meus pais. — ele falou.

Então me veio algo em mente.

— E o seu pai?

— O que tem?

— Nunca vi você falar dele. Vocês mantém contato?

— Mantemos sim. Ele mudou de cidade e casou de novo, mas sempre que dá, volta aqui pra nos ver ou eu e Gemma vamos lá visitá-lo com a nova esposa.

— Como ela é?

Deitei a cabeça em seu ombro e o abracei, ouvindo-o falar baixinho como se estivesse me contando um segredo.

— Ela é bem legal. Adora fazer doces e trata a mim e a Gemma como se fôssemos crianças, sempre nos entupindo de cupcakes e biscoitos quando vamos lá.

Sorri.

— Parece muito legal mesmo.

— Um dia te levo lá. — falou, logo percebendo a besteira que disse. Não tínhamos tempo. Não podíamos fazer planos. — Quero dizer… — Tentou consertar, mas não tinha mais o que ser dito.

— Tudo bem. — abracei ele mais forte.

— E o seu pai? — mudou de assunto depois de um tempo.

Meu pai era um assunto complicado. Harry sabia o que estava acontecendo, mas eu só falava sobre isso com o Jason e porque eu era obrigada já que ele sempre trazia o assunto a tona.

Nos últimos dias, com a realidade do casamento bem próxima, tenho me pegado pensando cada vez mais sobre o assunto e em como vai ser olhar para ele depois de todo esse tempo.

— É estranho pensar que logo o verei. Eu não sei o que sentir. Parte de mim fica feliz, porque sente saudade, já a outra, a que vim cultivando ao longo dos anos, está confusa. A raiva que existia parece sumir a cada dia que passa e dá lugar a algo que não sei o que é ainda. — desabafei. Ele assentiu compreensivo. — E eu fico pensando no que vou dizer quando finalmente ver ele. Não sei se devo xingá-lo ou abraçá-lo. E se ele parecer um completo estranho a essa altura? E se…

— Ei, ei, calma. — Harry me parou e tocou meu rosto. Percebi que eu tinha começado a chorar sem nem notar. Ele secou as lágrimas para mim. — Se livra desse rancor, amor, só assim vai ser feliz. Me promete uma coisa?

— O que?

— Que quando você ver o seu pai, você vai abraça-lo porque ele ainda é seu pai e seres humanos erram. Você, por exemplo, também traiu o francês lá. Com a minha ajuda.

— Mas…

— Eu sei, eu sei, sou irresistível. — ele deu de ombros e voltou a ficar sério. — O ponto é: todos merecemos perdão, Ally. Então perdoa enquanto ainda pode.

Chorei um pouco mais diante da profundidade das palavras de Harry. Não é nada que eu já não tenha ouvido, mas eu sabia que ele tinha razão. Que todos que já me falaram isso também têm.

— Eu prometo.


Olhei pro meu celular meio trêmula. Eu não tinha certeza do que estava fazendo.

Meu irmão atendeu.

— Fala, anjo. — disse claramente de boca cheia do outro lado da linha.

— Primeiro come e depois atende o celular. Até parece que não fomos educados juntos. — tentei brincar, mas estava tensa e soou como um sermão real.

— Ok, Ally, me liga quando eu tiver acabado minhas batatinhas, então.

— Não, calma. — gritei.

— Imaginei. — ele deu risada. — A que devo a honra da sua ligação?

Eu não sabia por onde começar.

— Bom, eu tive uma conversa com o Harry e...

— Decidiram terminar. É a coisa certa a se fazer, irmã. Eu sei que é difícil, mas...

— Jason, cala a boca.

— Desculpa, não era isso?

— Continuando: o jeito que ele colocou as coisas me fez pensar e eu decidi...

— Você decidiu...?

Respirei fundo.

— Jason... Eu quero encontrar nosso pai.

Ouvi Jason engasgando com uma batatinha do outro lado da linha.

Home | Harry StylesOnde histórias criam vida. Descubra agora