Bárbara López parou para encarar seu rosto no espelho pela milionésima vez na manhã de segunda feira. Estava bem melhor do que na sexta; os roxos mal apareciam, os cortes e cicatrizes não eram mais do que pequenas marcas por seu rosto e braços. Um pouco mais de maquiagem e ninguém perceberia nada. Não tinha muito mais o que fazer, afinal. Terminou de se vestir, se maquiou, prendeu os cabelos em um rabo de cavalo e pegou os óculos de grau de sempre. Não que ela precisasse deles para tudo, mas era bom para esconder o roxo que insistia em se manter em seus olhos.
Abençoada fosse a genética que fazia com que ela se recuperasse relativamente rápida dos grandes machucados. E sua pele era morena, então os machucados apareciam bem menos do que se era esperado. A alça da bolsa atravessava seu peito quando ela saiu de seu apartamento. Deu oi para o vizinho chato e um beijinho no filho adorável dele.
Saindo de seu prédio, virou a primeira esquina e tomou um susto ao trombar com o ex namorado; Gonzalo Peña estava de tirar o fôlego como sempre, os cabelos bagunçados, óculos escuros e o sorriso lindo. Ele sorriu para Bárbara e abraçou—a.
— Corazón.
— Gonzo. Bom dia.
— Indo para o trabalho?
Ela sorriu e revirou os olhos.
— Como se você não soubesse.
— Gosto de fingir que não para poder te acompanhar todas as manhãs. — Dizendo isso, ele estendeu o braço para ela, que segurou—o e caminhou com ele. — Como foi seu final de semana? Não tive notícias suas.
— Tranquilo. Fiquei em casa, vendo filmes e devorando livros.
— Você deveria sair mais dessa rotina.
— Eu gosto da minha rotina.
— Mas ela é uma rotina chata.
— Você que é muito agitado. Não consegue passar um final de semana sem ir para festas encher a cara.
— Por isso nós nunca demos certo. Você é muito chata.
Ela revirou os olhos e o empurrou com os quadris. Dando um pulinho para o lado, Gonzalo voltou a abraçar a morena. Rindo, ela se deixou abraçar e ficou andando com ele; era bom que eles fossem amigos mesmo depois de tudo. Ela não tinha muitos amigos em Monterrey, e nem tempo para tê—los.
— E também por que eu te traí, eu sei. Mas já disse o quanto eu estou arrependido.
— E eu já disse o quanto te perdoo. Agora vamos.
Como fazia todas as manhãs, suspirou e bateu com o bico do sapato do pé direito na entrada da livraria Montse&Luna. Deixou a bolsa no balcão e vestiu o avental. Gonzalo já estava lá dentro varrendo o chão e arrumando a caixa com os últimos livros que tinham chegado. Bárbara ficou descalça por que odiava salto alto e recebeu os primeiros clientes do dia. Como sempre, o senhor Ortiz estava lá. O velhinho de quase setenta anos ia todas as manhãs comprar um livro novo.
O bom de ser dona da livraria e trabalhar sua vida inteira no mesmo lugar era que ela conhecia todos os clientes mais fiéis e algumas manias da maioria delas. Seus livros e autores favoritos e até onde gostavam de sentar para ler. Segunda feira nunca era muito movimentando, então ela sempre aproveitava um cantinho vazio para ler.
Depois do horário de almoço, ela deixou Gonzalo no balcão e foi para o seu cantinho em busca do último romance que estava lendo. Capitulo trinta e cinco, faltavam apenas dez e ela finalizaria mais um livro. Mais uma história de amor onde o bem vencia o mal, e que tudo terminava bem se o casal principal apenas ficasse junto.
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O Mar Do Teu Olhar | Barbarena
RomanceBárbara Lopez vive uma vida tranquila, pacata. Trabalha em uma livraria conhecida no centro de Monterrey; a maioria das pessoas são clientes antigos que a conhecem desde a adolescência quando era apenas filha do dono do lugar. Com a morte dos pais e...