Macarena odiava rodoviárias, odiava todo o barulho, o caos, pessoas correndo, quase entulhadas esperando qualquer ônibus. E odiava mais ainda ter que estar naquele lugar, no meio da madrugada, com um boné cobrindo a cabeça para se esconder de tudo e de todos. Lembrava da última vez que estivera em uma rodoviária, fugindo de Graziela mais uma vez, ela havia sido encontrada, então fugira. E quis sonhar que aquela seria a última vez... Que poderia ser feliz no próximo destino.
E foi tão feliz. Por quase meio ano. Era um recorde.
Mas ela deveria imaginar que as coisas ruins logo chegariam, tudo estava bem demais, sua vida estava finalmente andando, acontecendo. Tudo estava perfeito. E perfeição demais... É sempre duvidoso. Perigoso. Como era o seu caso agora. Havia se descuidado, relaxado. E não podia relaxar nunca.
Claro que a culpa não era de Bárbara, era dela. Ela havia se permitido demais. Não pensara em nenhuma consequência, e sempre que tentava pensar, todos os seus medos eram sanados pelos braços de Bárbara. Só que com Graziela na mesma cidade que elas... Os braços de Bárbara não resolveriam seu problema.
Sua passagem para Oaxaca estava comprada, mas o maldito ônibus só sairia na primeira hora do dia. Depois que o sol nascesse, ou seja, ela ainda tinha algumas horas agoniantes de espera. E ela só queria entrar no ônibus de uma vez.
Ir embora.
Sumir.
Desaparecer.
Como sempre, não tinha um plano concreto, chegaria em uma cidade desconhecida, começaria do zero, tentaria se virar. Se esconder de Graziela. Havia quase desacostumado a viver escondida, por pouco, graças à Bárbara e toda a segurança que ela lhe passava. Mas era hora de voltar para a realidade. Por mais dolorosa que ela estivesse sendo.
Sentada enquanto esperava a hora passar, Macarena comeu um sanduiche tão ruim que sentia vontade de vomitar. Mas a culpa não era inteiramente culpa do sanduiche, seu emocional estava um caco; ainda não havia conseguido parar de chorar. Era ridículo que estivesse chorando, mas ainda assim... Fazer a coisa certa doía mais do que qualquer coisa.
Precisava ficar tão longe de Bárbara quanto era possível, Graziela nunca as deixaria em paz; nunca deixaria Macarena livre, e ela não podia arriscar a segurança de Bárbara. E não iria. Apertou a passagem entre os dedos; só queria voltar para quando tudo estava bem entre ela e Bárbara, na noite linda que tiveram e cada dia maravilhoso que viveram nos últimos meses.
Queria voltar para o sonho maravilhoso que ela havia sido.
Para a paz que ela lhe dera.
Queria que tudo parasse para que ela pudesse voltar para os dias bons, e queria que Graziela não existisse. Ela sabia que deveria jogar o telefone no lixo, destruir como sempre fazia com todos eles, mas não estava conseguindo. A imagem de fundo na tela era sua foto favorita dela com a namorada... Ex—namorada. Elas estavam com os rostos colados e o sorriso de Bárbara contra sua pele... Era tudo o que Macarena queria.
Não. Precisava parar de pensar em Bárbara.
Precisava esquecer a mulher, de uma vez por todas. Mas o celular ainda estava em sua mão, como um pedaço de esperança de que ela fosse ligar e lhe dizer que tudo era apenas um pesadelo. Ela não podia ter mais esperanças, diabos, precisava entender também. Tomara sua decisão, e precisava lidar com ela. E isso significava se afastar de Bárbara de uma vez. Cortar todas as relações.
Malditas horas que não passavam.
Enquanto esperava, notava cada uma das pessoas à sua volta; solitárias, pessoas no telefone. Tinha de tudo um pouco e ela observava todos com cuidado, querendo até se garantir de que Graziela não estaria por perto. Colocou os fones de ouvido e uma das músicas que mais a lembrava de Bárbara começou a tocar, no modo aleatório... Como se ela precisasse de mais um sinal de que era louca por aquela morena. Abaixou a aba do boné, para que cobrisse seu rosto.
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O Mar Do Teu Olhar | Barbarena
RomanceBárbara Lopez vive uma vida tranquila, pacata. Trabalha em uma livraria conhecida no centro de Monterrey; a maioria das pessoas são clientes antigos que a conhecem desde a adolescência quando era apenas filha do dono do lugar. Com a morte dos pais e...